terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A Lógica dos Elementos, Signos e Planetas nas Qualidades Primitivas da Astrologia


Introdução

De onde vêem as denominações e significados dos signos na Astrologia? De onde vêm a atribuição de significados astrológicos aos planetas? De onde vem a teoria dos 4 elementos – fogo, terra, ar é água – na Astrologia? Como tudo isso se interrelaciona? O objetivo desse texto é mostrar como o conceito de elementos, signos e planetas na Astrologia deriva seus significados simbólicos da teoria das 4 Qualidades Primitivas – Quente, Frio, Úmido e Seco advinda da primeira observação dos astrólogos antigos sobre as 4 estações do ano.
            Como sabemos os astrólogos antigos estiveram entre os primeiros sábios junto com os filósofos e cientistas de sua época. Os astrólogos decidiram olhar para o céu em busca de padrões que explicassem os fatos terrestres, na sua correlação óbvia (para eles) com movimentos celestes, tal como os antigos assim puderam identificar com sua “visão treinada” ao longo dos séculos.
            A Astrologia é o estudo das influências cósmicas sobre o gênero humano. É um dos conhecimentos mais antigos e, certamente, a mais velha (e confiável) forma de psicologia, construída ao longo de milhares de anos pela observação empírica. Há a participação de babilônios, gregos e árabes. Os astrólogos ocidentais modernos ampliaram a matéria com a ajuda do método científico, de modo que a Astrologia é, hoje, uma síntese sutil de mitologia, psicologia, tecnologia, ciência e metafísica.
            Ao que tudo indica a Astrologia surgiu com os primeiros esforços dos babilônicos para preverem os eventos da natureza para cultivarem a agricultura. Queriam prever tempestades, terremotos, acidentes naturais e assim obterem melhores resultados em seus cultivos. A Astrologia pode ter sido o primeiro movimento do homem para tentar controlar as forças da natureza. E nesse intento inicial, os primeiros astrólogos olharam para as estrelas e para as estações do ano, buscando os melhores climas ao longo do tempo para o cultivo de certos alimentos e plantações. Dessa forma, foram criando as suas teorias sobre as estações do ano, e as Qualidades Primitivas do Tempo.
            Observou-se um fato que foi tomado como uma Lei Universal ou Cósmica: a Lei dos Ciclos, da Ciclicidade ou Periodicidade. A universalidade absoluta dessa lei, de fluxo e refluxo, de crescimento e decadência, foi registrada pela ciência física da época e observada em todos os departamentos da natureza. Dia e Noite, Vida e Morte, Sono e Vigília, são fatos tidos por nós como tão comuns, mas que evidenciam uma das leis absolutamente fundamentais do Universo (Lindemann, 2007, p. 91,92).
As estações do ano foram um dos ciclos observados. Começou-se dizendo que a primavera é a estação que começava Úmida e depois que ficava mais Quente. Quando chegava o ponto mais Quente alcançava-se o verão, que começava Quente e ia ficando cada vez mais Seco, até chegar o outono, e assim, sucessivamente. Depois de Seco ficaria progressivamente mais Frio, alcançando o inverno, e depois de Frio voltaria a ficar Úmido, fase preparatória para a entrada na primavera, fechando e reiniciando o ciclo.
Assim, os antigos comparavam duas situações extremas – verão e inverno – por uma que primeiro regula o úmido e seco e a outra que regula o quente e o frio. Essas Qualidades Primitivas – QUENTE, FRIO, ÚMIDO E SECO – foram inicialmente correlacionadas ao ciclo de estações do ano, e depois associadas aos 4 elementos – Fogo, Terra, Ar e Água, e por fim aos signos e planetas do zodíaco. Vejamos como isso ocorreu.
Como dito os astrólogos voltaram sua atenção primeiro para as estações do ano, em sua correlação com as quatro Qualidades Primitivas do Tempo. Devemos entender aqui, o ciclo das estações como um ciclo do Tempo. Assim, as Qualidades Primitivas, são à princípio, Qualidades Cíclicas do Tempo, um elemento altamente observado pelos astrólogos, até porque os astrólogos antes de tudo são preditores de eventos no Tempo.
Os astrólogos deduziram que essas Qualidades Primitivas são forças atuantes e estados dinâmicos que existem no cerne de absolutamente tudo. Essas qualidades serviram de metáfora para descrever dinâmicas, tensões e movimentos no interior das coisas, algo semelhante aos que os nossos físicos quânticos modernos fazem, nos dias de hoje, com relação ao mundo de partículas subatômicas para explicar a dinâmica da realidade.
As Qualidades Primitivas, mais do que descrições, se tornaram uma metáfora simbólica. Não são substâncias, como os Elementos (fogo, terra, ar e água), mas sim qualificativos, e simbolicamente, são forças ou estados dinâmicos, mais associados ao Tempo do que ao Espaço (mas, como Espaço e Tempo formam um continuum, de certa forma, se associam também ao Espaço, em menor proporção, porém).
O próprio mapa astral, com seus signos e planetas derivados de combinações das Qualidades Primitivas (Quente, Frio, Úmido e Seco), não é outra coisa senão a expressão gráfica de uma dada qualidade do tempo. Ela pode ser compreendida pela Análise das Qualidades Primitivas enquanto expressão das diversas dinâmicas possíveis ao tempo. Resumindo: QUENTE, ÚMIDO, FRIO E SECO – as Qualidades Primitivas – são, a princípio, fases de um ciclo de tempo e se sucedem continuamente. Depois de observações seculares se tornaram também uma metáfora simbólica de algo que acontece tanto na realidade física, quanto na realidade psicológica de cada um de nós.
O primeiro par de opostos cíclicos – Quente e Frio – metaforicamente passaram a simbolizar para os astrólogos antigos, os dois movimentos básicos de qualquer manifestação, isto é, a Expansão e a Contração. Expansão e Contração são, então, duas das qualidades primitivas da manifestação. Na filosofia chinesa, Expansão e Contração são chamados respectivamente de Yang e Yin. Na Astrologia Ocidental são denominados Quente e Frio. Assim temos:

Expansão = Yang (Taoísmo) = Quente (Astrologia)
Contração = Yin (Taoísmo) = Frio (Astrologia)

As formas e coisas existentes no cosmos são receptivas ou respondem tensamente ao que, de fora, lhes toca. Essa fluidez ou tensão são as outras duas qualidades primitivas existentes na manifestação. Na Astrologia são denominadas, respectivamente, de Úmido (fluidez) e Seco (tensão).

Simbolismo das Qualidades Primitivas (Quente, Frio, Seco, Úmido)

Quente


O calor é foco de energia , princípio dinâmico que imprime movimento à matéria. A manifestação de Quente consiste em energia, vivacidade, voluntariosidade, natureza imediata e impulsiva, decisão, valor, iniciativa, espírito empreendedor.  Imprime um impulso para fora, exteriorização, força centrífuga, expansão.

Frio


O frio é o princípio negativo oposto a Quente, e análogo à força de inércia da matéria pesada e inerte. Princípio estático que leva à imobilização, contração, retraimento, retenção, reserva e paralisia, das substância, dos corpos e da psique. É um elemento fixador, conservador, condensador, passivo e concentrador. Pode produzir depressão, atonia, submissão, inibição, freio, regressão ou renúncia.

Úmido


Flexível, a Qualidade Primitiva “Úmido” produz uma natureza suave. Úmido é um princípio de extensão ou alargamento, plasticidade, receptividade, relaxamento, apaziguamento, fluidez. Caracteriza-se pela penetrabilidade ou absorção, levando à unidade através da fusão das partes numa totalidade. Constitui um fator favorável à fecundidade e à adaptação. Dilatando-se tende ao auto-dissolvimento, ao integrar-se e ao confundir-se no ambiente. Suaviza e modera. Mas, pode ser submisso, ingênuo ou impressionável.

Seco


A secura, negação da Umidade, é um princípio de resistência e tensão. Tende ao enrijecimento, ao endurecimento, ao constrangimento. Pode funcionar como um elemento concreto que realiza coisas, mas também que domina, comanda, obriga o outro a fazer algo, com ou sem o seu consentimento. O Seco produz uma natureza inflexível, rígida, egocêntrica, com a fã de comandar, obstinado e passional, levando tudo a um alto grau de intensidade.

Os 4 Elementos (FOGO, TERRA, AR e ÁGUA)

Para os antigos, as 4 qualidades elementares (primitivas) – Quente, Frio, Seco e Úmido – e os 4 elementos (Fogo, Terra, Ar e Água), mais do que forças físicas, eram princípios ordenadores, testemunhos da substância interna da vida dentro do ciclo de sua evolução contínua.
O princípio de qualquer classificação astrológica está na doutrina antiga da formação de todas as coisas pelos 4 elementos, doutrina essa que reencontramos nos grandes filósofos (Pitágoras, Empédocles, Platão, Aristóteles).
Na Astrologia, os Elementos  surgem da combinação de duas Qualidades Primitivas que se interrelacionam. Assim,

Fogo surge da combinação de Quente e Seco
Ar surge da combinação de Quente e Úmido

Terra surge da combinação de Frio e Seco
Água surge da combinação de Frio e Úmido

Fogo e Ar compartilham da Qualidade Quente, por isso são elementos ativos, Yang, masculinos, expansivos, enquanto Terra e Água que compartilham da Qualidade Frio são elementos passivos, receptivos, Yin, femininos.
FOGO, além de Quente é Seco, assim, seu movimento de expansão (quente) é tenso (seco), impondo seu valor sobre os demais de modo inflexível. Dessa forma, percebe-se que os signos de Fogo – áries, leão e sagitário – são signos de comando, poder e imposição.
AR, além de Quente é Úmido, assim seu movimento de expansão (quente) é fluido (úmido), mais tranqüilo, adaptável e versátil, e se manifesta pela comunicação e pelo intelecto. Os signos de Ar – gêmeos, libra e aquário – são caracterizados pela sociabilidade, inteligência e engenhosidade.
TERRA é Frio e Seco, logo é caracterizado por uma contração (frio) tensa (seca), o que o leva a concretizar seus objetivos de forma prática, arraigando os valores externos a si mesmo, com coesão e efetividade (a secura lhe dá poder de ação e resolutividade). Touro, Virgem e Capricórnio são os signos de Terra, e são práticos, ambiciosos, realistas e orientados para resultados concretos e progressivos.
ÁGUA é Frio e Úmido, assim temos uma contração (Frio) fluida (úmida), caracterizada pela absorção (frio) emocional (úmida), completamente plástica ao ambiente, absorvendo e fundindo-se ao meio, muitas vezes, sem forma própria (como em peixes), mas mimetizando o mundo externo. Câncer, Escorpião e Peixes são os signos de água e são sensíveis, intuitivos, profundos e espiritualizados.

A Formação dos 12 signos a partir das Qualidades Primitivas.

Os signos são formados por diferenças nas proporções das Qualidades Primitivas, no Elemento a que pertencem.
Por exemplo, o elemento fogo é formado pela interrelação entre Quente e Seco, logo, todos os três signos de Fogo – áries, leão e sagitário -  possuem as qualidades primitivas Quente e Seco, porém, Áries possui mais da qualidade Seco que predomina sobre Quente, enquanto Leão possui mais da qualidade Quente que predomina sobre Seco, e Sagitário também tem mais da qualidade Quente que predomina sobre Seco, mas tem um aporte (um “adicional”) da qualidade Úmido que Áries e Leão não possuem.
Essas diferenças de proporção entre Quente e Seco, explicam algumas diferenças sutis entre os signos de Fogo. Embora pertençam ao mesmo elemento Fogo, e sejam muito semelhantes, não são iguais. Possuem diferenças, e o que explica isso, em parte, são as diferenças de proporcionalidade das qualidades Seco e Quente que os compõem, e até mesmo a presença de uma terceira qualidade, no caso de um dos signos (no caso, sagitário).
Isso vale para os outros elementos e signos derivados, também.

Se utilizarmos a seguinte nomenclatura:

Q = Quente; F = Frio; U = Úmido e S = Seco.

Teremos a seguinte proporcionalidade de Qualidades Primitivas para cada Elemento e Signo Derivado, que pode ser representada matematicamente como se segue abaixo:

Fogo (Q + S): Quente e Seco

Áries: S > Q (mais Seco do que Quente)
Leão: Q > S  (mais Quente do que Seco)
Sagitário: Q > S, U (mais Quente que Seco, com aporte Úmido)
Terra (F + S): Frio e Seco

Touro: F > S (mais Frio que Seco)
Virgem: S > F (mais Seco que Frio)
Capricórnio: F > S, U (mais Frio que Seco, com aporte Úmido)

Ar (Q + U): Quente e Úmido

Gêmeos: Q > U, S (mais Quente que Úmido, com aporte Seco)
Libra: U > Q (mais Úmido do que Quente)
Aquário: Q > U (mais Quente que Úmido)

Água (F + U): Frio e Úmido

Câncer: F > U, S (mais Frio que Úmido, com aporte Seco)
Escorpião: F > U (mais Frio que Úmido)
Peixes: U > F (mais Úmido que Frio).

Observe que em cada elemento, o signo é determinado pela predominância ou concentração maior de uma das qualidades primitivas formadora do elemento ao qual ele pertence, sendo que em cada elemento, há um signo formado não por dois, mas sim pelo acréscimo de uma terceira qualidade primitiva, em grau menor de proporcionalidade.
É dessas diferenças de proporcionalidade das qualidades primitivas em cada signo, dentro do seu elemento, que derivam as estruturas de interpretação que conhecemos para cada signo, tal como observamos nos manuais sérios de Astrologia Antiga e Moderna.
Farei uma síntese interpretativa das fórmulas dos signos que expus anteriormente:

Fogo: Q + S (Quente e Seco)
           
Todos os signos de Fogo possuem as qualidades de Expansão (quente) e Domínio dirigido (Seco). São signos de comando, liderança e poder.

Mas, Áries (S > Q) que tem mais Seco do que Quente, em sua constituição, produz uma expansão mais tensa, agressiva e assertiva do que os outros signos de fogo. Tende a ser mais rígido, e reage explosivamente a qualquer resistência do meio externo. Isso pode ser amenizado por outras aspectos do mapa astral, mas olhando para o significado do signo em si mesmo, Áries se torna mais ditatorial, dominador e irascível, partindo mesmo para a agressividade física, se necessário.

Leão (Q > S), que é mais Quente que Seco, consegue expressar seu desejo de expansão com menos tensão e mais carisma, mas não deixa de ser assertivo, por isso. O elemento de secura está lá de qualquer jeito, e algumas vezes leão é incisivo, como qualquer signo de fogo, porém isso é menos evidente do que em Áries. Leão demonstra sua autoridade com altivez, elegância, grande força, mas mais moderação do que em Áries. Além disso, a predominância do Quente sobre o Seco, em leão, confere a esse signo um sentido de proteção (dos seus subordinados ou afetos), maior do que em Áries (esse, inclusive, é um signo de pouco apego e acolhimento).

Sagitário (Q > S, U) tem o predomínio do Quente sobre o Seco, como Leão, mas tem um aporte adicional de Úmido. Assim, a natureza harmoniosa e criativa (como a de leão) ganha um caráter comunicativo, e de certa forma mental (Q e U combinados correspondem a uma parcela de Ar nesse signo). Assim, a liderança sagitariana é mais flexível, sensível ao coletivo, menos egocentrada e mais intelectualizada, até mesmo filosófica, e por isso, carismática. A disposição de entender as necessidades alheias, acrescenta um sentido de justiça a sagitário. Mas, a qualidade Seco também está presente, e às vezes, pode se apresentar de maneira tão direta e assertiva, como em qualquer outro signo de Fogo. Aliás, em sagitário, às vezes isso se manifesta por uma inversão da racionalidade, e a expressão se torna totalmente irracional e destrutiva, ao extremo.

AR: Q + U (Quente e Úmido)

Todos os signos de AR (gêmeos, libra e aquário) possuem qualidades de expansão (quente) e flexibilidade (úmido) que se manifesta na comunicação e na intelectualidade.

Gêmeos (Q > U, S) tem o predomínio do Quente sobre o Úmido com um aporte Seco. Gêmeos é o mais prático dos signos de ar, exatamente por causa do aporte Seco. À inteligência e a alta capacidade de abstração e comunicação, se somam uma certa praticidade, capacidade de concretização e atuação eficaz sobre o mundo, resultando em habilidade, engenhosidade, e capacidade estratégica. Mas, essa praticidade nunca é do mesmo alcance dos signos de terra (F + S), pois a Umidade (U) sempre gera algum nível de dispersão, a não ser que haja um contrabalanço de outras partes do horóscopo individual. A praticidade geminiana não é financeira como em touro, ou dirigida para a carreira como em capricórnio, mas aparece na incrível habilidade para encontrar soluções engenhosas que maximizam a sua eficiência na realização das mais diversas tarefas.

Libra (U > Q) tem mais da qualidade Úmida do que da qualidade Quente. O Úmido predominando traz a qualidade da receptividade e da absorção para as relações interpessoais. A atuação expansiva do Quente é regida pelo que se absorve das circunstâncias, por aqueles com quem se mantém a relação. A criatividade está a serviço do outro, do ambiente, da coletividade. Assim, Libra é um signo social. A indecisão pode predominar, pois são muitas as impressões recebidas para um poder relativamente menor de uni-las. Pela predominância do Úmido, Libra tem acentuadas características femininas, apesar de ser um signo masculino (Quente).

Aquário (Q > U) tem predominância do Quente sobre o Úmido. Aqui há uma poderosa expansão das impressões recebidas, gerando um estado de excitação e uma tendência a participar dos relacionamentos comandando-os, através do seu carisma. Não há tensão (secura) para conter essa expansão, havendo uma busca de liberdade, de novos conceitos, e de tudo que sugira ampliação de limites. Isso torna esse signo um tanto quanto rebelde, dependendo do contexto. Há um ganho intelectual óbvio nesse e em todos os signos de ar.



TERRA: F + S (Frio e Seco)

Todos os signos de terra – touro, virgem e capricórnio – possuem as qualidades primitivas Frio e Seco. A qualidade seco lhes confere a capacidade prática de atuarem concreta e resolutivamente sobre o mundo, ao passo que a qualidade Frio os fazem concentrar suas conquistas materiais para si mesmos. A capacidade de retenção (Frio) se concentra a partir de ações concretas no mundo (Seco), de modo, que esses signos são altamente produtivos, econômicos, e estão direcionados para o sucesso no mundo prático. Como nos elementos anteriores, cada signo de terra possui uma diferenciação na predominância de uma ou outra das qualidades primitivas:

Touro (F > S) tem predominância do Frio sobre o Seco, de modo que sua qualidade de retenção material é maximizada. Dos três signos de terra, Touro é o mais preocupado com o acúmulo financeiro. A qualidade Frio em maior evidência o torna mais necessitado de segurança material, de modo que seu foco se torna diretamente o dinheiro. O Frio o faz também mais conservador e resistente à mudança, tanto no âmbito material, como no âmbito das idéias e dos relacionamentos interpessoais. A fama de ciumento e possessivo desse signo está ligado à necessidade de preservar seus vínculos, sem qualquer mutabilidade. Há aqui, o máximo de retenção com inércia, lidando com o mundo sensível (material) com o fito de preservação e estruturação das formas concretas, de modo a criar uma estética. Com a secura em menor proporção, Touro é um signo simpático, cordial, diplomático, calmo, com tensão em menor evidência do que nos outros signos de terra, mas não totalmente ausente.

Virgem (S > F) é o mais Seco dos signos de terra. Disso resulta seu senso crítico agudíssimo, e às vezes, irritante. A secura produz uma natureza mais tensa que absorvente, criando uma espécie de barreira ou filtro perceptivo de modo que nada é aceito com facilidade. Desenvolve-se um espírito de comparação e análise, que é visto como algo muito normal para o próprio nativo, mas é inconveniente para outros perfis de temperamento astrológico, dependendo da ocasião. O caráter é restrito à eficiência e à utilidade na lida com o mundo material. A predominância do Seco, que é uma qualidade de ação efetiva sobre o mundo concreto, faz de virgem um signo eficaz, resolutivo, técnico, realista e perfeccionista, mas há uma perda na ousadia e na criatividade.

Capricórnio (F > S, U) tem predominância do Frio sobre o Seco, com aporte Úmido em menor proporção. Estamos diante do mais ambicioso dos signos do Zodíaco. Sua ambição supera as necessidades financeiras (como em touro) ou o perfeccionismo habilidoso (como em virgem), almejando a notoriedade, o reconhecimento, o sucesso em todos os sentidos. A Umidade, ainda que em menor proporção, permite a esse signo de terra vislumbrar horizontes que vão além da tirania da matéria, e envolvem valores mais abstratos. Isso não o livra totalmente do apego (afinal, ainda há o predomínio do Frio e do Seco, que o fazem pertencer ao Elemento Terra), mas se cria uma certa tensão, sustentada por uma maior versatilidade, que faz capricórnio atuar para que o mundo material ultrapasse os limites daquilo que ele já é, para conter valores ligados à sensibilidade interior. A cabra é o animal que representa esse signo, simbolizando o labor e a destreza na escalada, mas essa cabra tem rabo de peixe, denotando que além do parentesco com o elemento água (por ter partes de Frio e Úmido), há algo de impossível, incomensurável, intransponível ou transcendente na sua escalada.

ÁGUA: F + U (Frio e Úmido)

Todos os signos de água – câncer, escorpião e peixes – possuem as qualidades primitivas Frio e Úmido, de modo que sua característica principal é a emocionalidade. As percepções (úmido) interiorizadas (Frio) se tornam uma realidade interior, que se sobrepõe à realidade exterior. A retenção (Frio) ocorre num âmbito mais fluídico (úmido) do que a matéria (por exemplo, no componente Seco dos signos de Terra), ou seja, ocorre no campo das emoções, da intuição e da fé. Por isso além de sensíveis, os signos de água são intuitivos e espiritualizados. As diferenças entre os signos de água, como ocorre nos outros elementos, dependem dos diferenciais de concentração das suas qualidades primitivas.

Câncer (F > U, S) tem predominância do Frio sobre o Úmido, com um aporte Seco. Aqui, a natureza emocional (F+U) é tensionada por uma necessidade adicional de segurança material (F+S) como ocorre com os signos de terra, de modo que o canceriano se força a persistir e a moldar as circunstâncias para preencher essas necessidades todas. Esse aporte de senso de ação (Seco) é canalizado nos cuidados domésticos (família, economia doméstica,etc), e num apego ao que é seguro (Frio) segundo suas impressões pessoais (Úmido). A índole é protetora (F+U), mas cheia de caprichos (Seco) com uma reação assertiva (Seco) segundo suas oscilações emocionais e impressões (Úmido), às vezes, repletas de fantasias.

Escorpião (F > U) tem predominância do Frio sobre o Úmido. Esse signo é conhecido por ser “profundo”. Aqui há uma capacidade de interiorização (predominância do Frio) sem resistências ou tensões (Úmido), até um limiar absoluto, em que a concentração cria uma rigidez e um poder de vontade pronunciado. De certa forma, escorpião representa a água no seu estado sólido (gelo), por isso, embora sensível, é o signo mais estável e corajoso do elemento água. Não tem medo de nenhum enfrentamento, sendo tão assertivo quanto os signos de fogo, com um gosto pelo poder e pelo controle. Costuma se dizer que escorpião é um signo vingativo, mas sua fulminante ação só ocorre quando ele é provocado, pois como qualquer signo de água, ele também reage aos estímulos do ambiente.

Peixes (U > F) tem predominância do Úmido sobre o Frio. Estamos diante do mais sensível, espiritualizado e intuitivo dos signos de água e de todo o zodíaco. A predominância do Úmido faz com esse signo quase sem forma (pouca predominância do Frio), de natureza altamente plástica e moldável, tenha pouca condição de expressão coesa no mundo concreto. Por isso mesmo é o signo menos prático de todos. As percepções (Úmido) predominam sobre as motivações, de modo que o pisciano tem um mundo interno (fantasioso) próprio, clivado (separado) do mundo real. Esse signo sente a necessidade de uma força superior, externa, que coloque ordem nesse estado de sentimentos oscilantes. Essa segurança pode vir de amigos mais estáveis, a quem tende a mimetizar, ou pode vir de sua fé, de sua espiritualidade.  Em um caso ou em outro, a plasticidade passa a se manifestar como alta capacidade de adaptação, e mesmo versatilidade, com muita produtividade, criatividade, intuição e inspiração. Em caso contrário, o que domina é o caos, a dispersão e a total perda de direção.

Nesse pequeno resumo derivado da interpretação das fórmulas das qualidades primitivas em cada signo, eu tentei me concentrar nas características dos signos, em si mesmos. Num mapa astral tudo isso é sopesado pelas posições dos planetas e luminares em diferentes signos e casas astrológicas. Assim, há compensações, contradições e complementações que formam uma personalidade completa e que escapam aos limites da descrição de qualquer signo isoladamente.

Os significados dos planetas a partir das Qualidades Primitivas

Na Astrologia, os significados dos planetas também são derivados, em parte, da simbologia das Qualidades Primitivas. Como a teoria das Qualidades Primitivas é um dos alicerces da Astrologia Tradicional, ela só é consistentemente aplicável aos 7 astros considerados por essa doutrina, do Sol até Saturno. Os planetas ditos modernos – Urano, Netuno e Plutão – seguem uma lógica diferenciada de interpretação e não serão considerados nessa teoria.
Como se sabe, astronomicamente, O Sol e a Lua são luminares e não planetas, mas na simbologia (terminologia, vocabulário) astrológica eles são tratados, algumas vezes, como se fossem planetas, sem nenhuma perda conceitual de seus significados. Os astrólogos já estão cansados de saberem isso, mas vale fazer a observação para o leitor mais leigo.
Feitas essas considerações, segue abaixo a proporcionalidade das qualidades primitivas, na definição da simbologia dos planetas, na Astrologia:

Sol: Q (5,5) > S (2)
Lua: U (6) > F(5)

Saturno: F (3,5) > S (3)
Júpiter: Q (1,5) > S (1)

Marte: S (3) > Q (2,5)
Vênus: U (4) > Q (0,5)

Mercúrio: F (1,5) > S (1)

Observe que, diferente dos signos, há um sistema de pontuação, que nesse caso, foi definido pelo astrólogo do século XVII, Jean-Baptiste Morin de Villefranche (QUEIROZ, 1989). Devido aos limites desse texto, vou me isentar de explicar a matemática dessas proporções por enquanto, preferindo chamar a atenção para as implicações interpretativas dessa proporcionalidade, nesse momento.

Observemos que o Sol é o “planeta” mais Quente derivando toda a sua significação conhecida de expansão, enquanto Júpiter que também têm a predominância do Quente sobre o Seco, funciona como um “pequeno Sol”, tendo também a sua significação de expansão, como planeta benéfico.

O maléficos, Marte e Saturno, são os planetas com maior índice de secura.

Saturno e Mercúrio possuem uma estrutura parecida, tendo ambos a predominância do Frio sobre o Seco, mas a pontuação de Saturno é maior. São planetas que funcionam bem em signos de Terra (F+S), tanto que Saturno rege Capricórnio e Mercúrio rege e exalta Virgem, mas Saturno trata – por sua maior pontuação – da realidade mais concreta, enquanto Mercúrio tende a ser prático em questões mais conceituais. Por outro lado, Saturno funciona bem em signos mentais (como Aquário e Libra, e mesmo em Gêmeos), provavelmente por sua analogia com Mercúrio. Saturno também é um significador de intelectualidade, como Mercúrio.

Vênus e a Lua são os planetas mais Úmidos, e por isso, ligados ao mundo emocional. Porém, enquanto a Lua (U>F) tende a reter, a absorver as impressões do mundo exterior nas emoções, devido ao componente Frio, que tem alta pontuação (apesar da predominância de Úmido), Vênus (U>Q) com sua pontuação de Quente, ainda que pequena, é menos instrospectivo, e mais social, sendo um significador mais direto dos relacionamentos interpessoais e dos vínculos do que a Lua (o que não exclui, de modo algum, essa última, até porque a Lua fala de reações emocionais, isto é, ela é mais reativa e isso também interfere nos relacionamentos). Vênus fala uma emocionalidade mais terna, exteriorizante, acolhedora, enquanto a Lua fala de uma emocionalidade mais reacional, instintiva e absorvente ou instrospectiva. Ambos os planetas, por seu excesso de Umidade, são planetas Femininos (Yin).

Mais pode ser dito sobre os planetas, signos e elementos a partir da lógica gerada pela articulação interrelacional das Qualidades Primitivas na Astrologia, mas creio que o texto colaborou, pelo menos um pouco, para o treino nesse tipo de lógica dedutiva astrológica. Novos aprofundamentos serão realizados em outros textos. No momento, considero interessante sublinhar que a teoria das Qualidades Primitivas na Astrologia permite compreender a origem dos significados dos elementos, signos e planetas, e mesmo, nos autoriza a esboçar os desenhos de uma lógica quase matemático-dedutiva desses significados, configurando o que se pode ser chamado de lógica astrológica, o verdadeiro atributo do treino do astrólogo ou estudante dessa antiga arte. Isso fica mais patente quando produzimos uma fórmula do planeta em cada signo derivando seu significado, mas isso já é assunto para outro texto...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ROMANO, Clélia. Fundamentos da Astrologia Tradicional.  SP: Ed. Da Autora, 2011.

LINDEMANN, Ricardo. A ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios. Brasília: Ed. Teosófica, 2007.

QUEIROZ, Gregório José Pereira de. As qualidades primitivas na Astrologia: a formação dos Elementos, dos Signos e dos Planetas. São Paulo: Ed. Pensamento, 1997.

BARBAULT, André. Tratado Prático de Astrologia. SP: Cultrix, 1995.

BENEDETTI, Valdenir (org.). Segredos e Estilos: a arte da Interpretação dos Horóscopos. SP: Gráfica Assahi, Nov/2008.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Resumo de um estudo sobre Astrologia e Homossexualidade

O objetivo desse texto é divulgar e promover uma reflexão sobre o estudo astrológico da homossexualidade promovido pela astróloga e sexóloga Huguette Hirsig, presente em seu livro “ASTROLOGIA E HOMOSSEXUALIDADE – O primeiro estudo de compatibilidade astrológica para pessoas do mesmo sexo”.

Esse estudo merece certa credibilidade, pois a autora além de ter a sua formação em Astrologia, também possui uma especialidade na área da sexualidade humana, de modo que seu olhar para a questão possui uma acuidade adicional, que talvez um astrólogo sem tal capacitação não possua.

Nesse sentido a autora agregou ao seu estudo conhecimentos de áreas adjacentes da medicina, da psicologia e das ciências sociais, além de estudos estatísticos, como a avaliação de 2.000 mapas astrológicos de homossexuais entre 30 mil horóscopos de indivíduos que ela analisou durante vários anos. Ela concentrou dois anos de estudos seguidos sobre o tema da homossexualidade, de modo, que podemos deduzir que ela tenha algo de valioso a contribuir.

De meu lado, eu possuo uma formação em Astrologia e Psicologia, de modo que posso fazer uma primeira filtragem sobre o exposto por essa autora, o que não deixa de ser de qualquer forma apenas uma perspectiva, mas de qualquer modo, ainda assim, uma contribuição. Tenho a meu favor certa experiência clínica de alguns anos com o tema da homossexualidade, além de referências bibliográficas sobre o assunto no campo da psicologia, da sexologia e ciências correlatas.

Assim, antes de passar para a descrição das conclusões da pesquisadora Huguete Hirsig, mas em concordância com essa, e com os pressupostos da sexologia – ciência multidisciplinar que aproveitando contribuições da medicina, biologia, psicologia, sociologia e outras ciências humanas e biológicas, estuda o fenômeno da sexualidade humana em toda a sua diversidade e complexidade – é importante salientar como premissa primeira, que o fenômeno da homossexualidade, assim como o da heterossexualidade são complexos e possuem grande variabilidade de expressão.

A orientação sexual não é realmente uma escolha ou uma opção consciente. Há fatores biológicos e psíquicos (inconscientes) que concorrem para a determinação da orientação sexual, seja ela homossexual, heterossexual, bissexual, ou outra que se queira definir, e não conheço nenhum caso, em que tal orientação seja realmente uma escolha consciente da pessoa. Não existe “opção sexual” como alguns costumam dizer no senso comum. Isso não é uma escolha, no sentido consciente dessa palavra. O que a pessoa pode escolher, é se aceitar e viver tranquilamente sua orientação e constituição sexual, ou não se aceitar e viver com conflitos incessantes sobre sua própria condição. Mas, ninguém escolhe “mudar” a sua orientação sexual, de maneira consciente. A pessoa escolhe, isso sim, a maneira como vai articular e reagir à sua própria orientação. Um heterossexual não conseguiria escolher “virar” um homossexual, assim, como um homossexual também não poderia escolher virar “heterossexual”.

Sabe-se que alguns homossexuais se permitem viverem experiências heterrossexuais, e vice-versa, alguns heterossexuais se permitem viverem experiências homossexuais, principalmente nos dias de hoje. Mas, isso não significa que tenha ocorrido uma mudança da orientação sexual (o que é bem diferente), e muito menos que tenha ocorrido uma mudança consciente, voluntária dessa orientação. No máximo ocorreu uma experimentação e não uma mudança de orientação.

Aliás, outra premissa importante da abordagem sexológica da homossexualidade, é a de que a orientação sexual não é uma condição tão fixa como alguns pensam. Dito de outro modo, alguns heterossexuais pensam que não pode ocorrer nunca uma alteração de sua própria orientação sexual , de modo a se tornarem homossexuais, e vice-versa. A prática, porém, mostra algo diferente. Muitos heterossexuais se tornaram homossexuais, em algum momento de suas vidas, e vice-versa. O que ocorre, é que essa mudança não é voluntária e consciente, concorrendo como foi dito, fatores conjuntos no âmbito orgânico e psicológico (inconsciente), atrelados ou não a fatores externos do ambiente e da vida.

Existe uma premissa amplamente aceita na psicanálise e entre alguns sexólogos de que a constituição psíquica humana é originalmente bissexual, de modo que o heterossexual mais convicto possua dentro de si um homossexual reprimido, e o homossexual mais “naturalizado” possua dentro de si um heterossexual igualmente recalcado.

Os mais otimistas já chegaram a declarar que o futuro da sexualidade humana é a predominância da bissexualidade em vários níveis, mas não precisamos chegar a tanto. Basta sabermos que a bissexualidade constitucional está dentro de nós, e ninguém está livre realmente dessa condição, o que não implica na obrigatoriedade de sua expressão, isto é, mesmo havendo tal disposição original na psique humana, tanto um heterossexual como um homossexual podem passar a vida inteira sem viver qualquer experiência dentro da orientação sexual contrária à sua própria. Não há regras fixas nesse âmbito, como alguns pensam.

Não se deve confundir essa bissexualidade constitucional com a oposição arquetípica das noções de masculino e feminino. Aqui há uma confusão essencial que deve ser extinta. Não há nenhuma regra fixa que indique que o homem homossexual tenha que ser feminino ou vivencie um conflito entre seu lado masculino e feminino, assim, como não há nenhuma determinação que defina, por exemplo, que a mulher homossexual tenha que ser masculinizada.

Do mesmo modo como há homens homossexuais femininos (ou afeminados como se diz no senso comum), há homens homossexuais que são completamente masculinos e bem resolvidos com isso e não possuem qualquer traço de feminilidade, ou de conflito entre seus lados masculino e feminino interiores, sendo isso mais comum do que se pensa ou se divulga, por exemplo, na mídia (essa sim, costuma apresentar personagens homens afeminados estereotipados e hilários, mas isso é uma imagem falsa do que realmente acontece). O mesmo vale para mulheres homossexuais.

Entre alguns homens homossexuais o que os atraem é exatamente a possibilidade de interagirem intimamente com outro homem tão másculo quanto eles mesmos, e o mesmo vale para mulheres homossexuais. E também há homens homossexuais que querem se sentir como mulheres... Como já foi dito nesse texto, a sexualidade humana é altamente complexa, diversa, multideterminada e variada. Há poucas coisas nesse âmbito que podem ser tomadas como uma regra fixa.

Nesse ponto, é importante dizer, agora entrando no âmbito astrológico, que é um equívoco o que alguns astrólogos fazem que é tentar encontrar algum tipo de conflito entre o masculino (representado no horóscopo pelo Sol ou Marte) e o feminino (a Lua e Vênus), em todo mapa astral de homossexuais que encontram. Embora muitos casos possam se encaixar nesse paradigma, não são todos os casos que dizem respeito a essa dinâmica, que aliás nem é majoritária. Outro funcionamento pode estar entrando em ação.

Antes de entrarmos no estudo da autora Huguette Hirsig, vamos retormar as premissas levantadas até aqui:

1) A homossexualidade é um fenômeno tão complexo em suas expressões quanto a heterossexualidade. Nem todos os homossexuais homens possuem uma inclinação para a feminilidade, e o mesmo vale para a homossexualidade feminina que não implica obrigatoriamente numa masculinização da mulher;

2) A orientação sexual não é uma opção, uma escolha, voluntária e consciente, mas sim uma condição determinada por predisposições biológicas, fatores inconscientes de ordem psíquica e, mesmo, atuação de variáveis sociais e familiares. Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual, mas escolhe apenas a forma como vai viver e reagir à sua própria condicionalidade.

3) A orientação sexual não é algo fixo e definitivo em ninguém. No máximo podemos falar de uma estabilidade dessa orientação depois da fase da adolescência, mas tal orientação pode estar sujeita a mutações, variações, devidas também a fatores inconscientes psicológicos ou psicossociais. Originalmente, há evidências de que a constituição humana é bissexual, e o que chamamos de heterossexualidade ou homossexualidade, nada mais é do que uma clivagem e uma fixação em um dos lados da paridade bissexual, com a expressão de uma orientação e a repressão/recalque da expressão oposta. O indivíduo que costumamos chamar de bissexual, nada mais é do que alguém que, por fatores não-voluntários, insisto, não realizou tal clivagem, e não reprimiu nenhum dos dois lados dessa paridade. A Psicanálise e a Astrologia, juntas, podem dar alguma luz do porque que isso ocorre.

Tendo essas premissas em mente, vamos expor e tentar refletir sobre a contribuição da sexóloga e astróloga Huguette Hirsig. Mas, antes só preciso fazer uma observação. Sob um ponto de vista antropológico, filosófico, e mesmo sexológico, as expressões homossexualidade, heterossexualidade e bissexualidade já estão superadas. Essas palavras trazem problemas conceituais em suas implicações terminológicas. Hoje se falam de relações homoeróticas ou homoafetivas, e há todo um embasamento filosófico, psicossocial e antropológico para o uso dessas novas terminologias, mas para não perder o foco de nossa discussão, vou preferir evitar esse âmbito de profundidade, pois tais noções levariam, inclusive, para um tal nível de relativismo de nosso estudo, que ele perderia completamente sua razão de ser feito. Assim, acho válido apenas pontuar que esse estudo astrológico possui uma validade relativa dentro de um certo recorte e uma certa perspectiva. Não é uma verdade absoluta, e nem poderia sê-lo!

Assim, voltando no livro “ASTROLOGIA E HOMOSSEXUALIDADE” de Huguette Hirsig, entre as várias considerações da autora, ela aponta que em nossas sociedades 75% dos indivíduos desenvolvem preferencialmente uma orientação heterossexual. Os outros 25%, pelo menos na adolescência, orientam-se para ter ocasionalmente, uma ou mais experiências homossexuais, mas menos da metade será homossexual pelo resto da vida, de modo que apenas 10% de indivíduos da população adulta se fixam numa orientação totalmente homossexual (HIRSIG, 1998, p. 15). Observemos que em todos esses casos, a pessoa teve fases de experiências heterossexuais e só depois, temos a fixação de 10% da população na orientação homossexual.

O fundador da sexologia – Alfred Charles Kinsey – encontrou uma estatística maior na população masculina americana, em que constatou que 37% dessa amostra teve pelo menos uma experiência homossexual (Elia e Waynberg, 1989, p. 22).

Tudo isso indica que a porcentagem de indivíduos que tiveram contato com alguma experiência homossexual é maior do que geralmente se pensa. Outros estudos ao redor do mundo mostram uma regularidade de 11% da população, em média em cada país, de indivíduos que desenvolvem uma orientação homossexual fixa ou estável. Deve haver uma razão que explique essa constância...

Insisto na observação de que ainda nessa amostra, todos os casos de homossexualidade, em algum momento ou outro da vida, vivenciaram fases de experiências heterossexuais.

Mas, voltando ao estudo de Huguette Hirsig, há uma minoria de homossexuais que já NASCEM COM ESSA ORIENTAÇÃO SEXUAL e não possuem nenhuma vivência com a experiência heterossexual, e não vão viver isso. Seriam “Homossexuais Naturais”, segundo a perspectiva astrológica dela. Já nascem assim.

Não se confundam isso com os “transsexuais” que também já nascem com uma constituição natural para essa condição. Um homem totalmente masculino ou uma mulher totalmente feminina pode nascer um “homossexual natural” nas palavras de Huguete Hirsig, e esse indivíduo não terá nenhuma experiência heterossexual ao longo de toda a sua vida. É apenas isso que a autora quer dizer com a expressão “homossexual natural”. Não precisa ter nascido com qualquer tendência para a transsexualidade... Assim, um homem “homossexual natural” pode ser totalmente masculino e não demonstrar nada de sua condição existencial para o senso comum, e o mesmo vale para uma mulher “homossexual natural”.

Do conjunto total de homossexuais existentes, os ditos “homossexuais naturais” corresponderiam há uma minoria dentro desse próprio contingente: aproximadamente apenas 5% de todos os homossexuais.

Sabemos que toda classificação é relativa e é apenas um recorte perspectivista para montarmos um raciocínio ou um argumento. Dependendo da pressuposição filosófica adotada, não haveria qualquer sentido em se montar qualquer sistema de classificação, e essa posição tem sua razão de ser. Mas, proponho assumirmos essa classificação a título provisório apenas para vermos onde podemos chegar...

Filosoficamente, a existência dos “homossexuais naturais” não implica na negação da hipótese da bissexualidade psíquica original como qualidade da natureza humana. O Homossexual dito “natural” não viverá uma experiência heterossexual de forma concreta, mas essa experiência pode aparecer em produtos do inconsciente (como em seus sonhos e atos falhos), o que em termos psicanalíticos indica que a paridade heterossexual está recalcada em alguma parte de sua psique. Por isso mesmo, eu tenho colocado aspas na denominação “homossexual natural”.

Ele também compartilha da bissexualidade essencial (original) do ser humano, tanto quanto um “heterossexual natural” também compartilharia, se essa denominação fizesse algum sentido, o que não faz, por ser apenas uma estrapolação. Em todo caso, mantenho a hipótese da bissexualidade psíquica original mesmo para os 75% de heterossexuais que nunca realizaram uma experiência homossexual concreta (heterossexuais “naturais”?), pois essa possibilidade permanece recalcada no inconsciente, pelo menos em termos simbólicos.

Essa é uma premissa filosófica, sobre a essencialidade da natureza humana, e portanto também é um ponto de vista, não demonstrável, tanto quanto seria a sua negação, mas temos que partir de algum ponto até mesmo para pensarmos e argumentarmos. Digo isso, pois há posições contrárias que negam até mesmo o conceito da existência de uma essência humana, mas eu não sigo essa direção, que fique bem claro. Para mim, o ser humano possui uma essência, embora não seja rigidamente fixa, mas mutável, sendo parcialmente construída, de um lado, e parcialmente predeterminada, de outro lado, no momento e já antes do nascimento. Se eu não acreditasse nisso, eu não seria um astrólogo... A Astrologia é uma doutrina filosoficamente essencialista e construtivista-existencialista, ao mesmo tempo.

Assim teríamos uma população global, em que 75 % da população é heterossexual, e os 25% restantes já viveram uma ou mais experiências homossexuais, mas apenas uma parcela se fixa na orientação homossexual e se identificam como tais. Em relação à população global, eles formariam 11% de homossexuais com essa orientação estabelecida de modo regular, e isso parece se manter em várias parte do mundo. Mas, há um pequeno contingente que já nasce na orientação homossexual, sem nunca viver uma experiência heterossexual concreta (embora possa ter ou sonhar com uma fantasia heterossexual, em algum momento da vida). Esses se somam à população homossexual, e correspondem a apenas 5% desse total particular (não é 5% da população global, mas sim 5% da população homossexual). São uma minoria dentro de outra minoria.

Há uma discussão entre astrólogos sobre ser a orientação sexual um fator determinado por influências astrais ou não. Alguns Astrólogos ditos Tradicionais relatam aforismos sobre determinações astrológicas sobre orientação sexual, enquanto alguns astrólogos modernos negam terminantemente que a orientação sexual possa ser determinada ou parcialmente influenciada pelos astros. Essa discussão perpassaria a discussão sobre o próprio problema da validade da Astrologia, pois há astrólogos que entendem a Astrologia sob um prisma causalista (ou seja, eles entendem que os astros influenciam ou causam determinados padrões de comportamento) e outros que a entendem sob um prisma simbolista (os astros apenas simbolizam por sinergia uma coincidência entre movimentos celestes e certos padrões de comportamento, mas não causam esses mesmos padrões).

Como eu me situo numa posição intermediária entre causalistas e simbolistas, para mim faz sentido pensar que os astros podem determinar ou influenciar a orientação sexual. Oras, se para um astrólogo é notório que o movimento dos astros afetam as mais diversas áreas da vida (biológica, psicológica, familiar e social), porque a orientação sexual que é dependente de fatores biopsicossociais ficaria de fora do escopo astrológico? O homem é um ser bio-psico-sócio-espiritual-cósmico em toda a sua essencialidade, inclusive em relação à sua orientação sexual. É um ser cósmico, também, pelo simples fato de estar inserido no Universo, com todas as suas complexas relações e interconexões cósmicas. Não há como fugir disso.

Não escolhemos a cor de nossos olhos, cabelos, e pele. Não vejo problema existencial nenhum em aceitar que a orientação sexual também não é uma escolha, mas é resultado da determinação de várias forças, inclusive as astrológicas, todas em algum nível de sinergia.

A Astróloga Huguette Hirsig acredita, que pelo menos entre os homossexuais naturais, que já nascem com essa orientação, há fatores de determinação astrológica. Só essa hipótese já nos remete à correlação entre determinações de natureza genética e astrológica, e embora tal estudo ultrapasse os objetivos desse artigo, considero importante lembrar que há na literatura astrológica estudos sobre a correlação entre fatores hereditários e fatores astrológicos constantes no horóscopo natal.

Sem me aprofundar no momento nesse ponto, prefiro conferir a palavra a nossa pesquisadora de referência nesse texto. Segundo Hirsig (1998, p. 19,20):

“... é muito raro alguém nascer homossexual. Mas, não rejeitemos a evidência: existem indivíduos, raríssimos, é bem verdade (aproximadamente 5% de todos os homossexuais), que parecem ter vindo ao mundo com uma orientação homossexual bastante definida. Encontramos em seu tema vários elementos planetários que, sem exceção, predispõem à homossexualidade”.

Será esse o caso, segundo a autora, sempre que o tema contiver todos os seguintes elementos (ou pelo menos três desses indicadores):

1) Vênus em conjunção ou em oposição ao mesmo tempo a Urano e Netuno, desde que um desses planetas esteja ocupando o ascendente ou ainda a casa V ou XI.

2) A Lua em oposição ou em conjunção com Vênus.

3) Netuno no ascendente, em conjunção com o ascendente ou em oposição com ele.

4) O Sol em conjunção com Urano ou em oposição a ele, o que pode corresponder também (mas não sempre) a uma anomalia genética e, frequentemente, a órgãos sexuais pequenos ou maldesenvolvidos. Isso não impede uma atividade sexual normal, mas pode torná-la irregular.

A autora acrescenta que a conjunção Sol-Plutão é muito recorrente nos temas de homossexuais (lembremos que ela analisou em torno de 2000 mapas de homossexuais e dedicou dois anos de estudos só a esse tema, além da experiência de vários anos na área do aconselhamento sexológico).

Em seu livro, a autora mostra um mapa de uma mulher médica homossexual, com a Lua no ascendente em oposição a Vênus, esse em conjunção com Urano e em quadratura com Netuno e Marte, voltando a encontrar nesse mapa a conjunção Sol-Plutão. De minha parte chamou a atenção a presença de um aspecto duro (tenso) entre a Vênus e Netuno, algo que já vi em outro mapas de pessoas com tendências homoeróticas.

A autora – Huguette Hirsig – enfatiza com razão, que a reunião dos elementos planetários específicos descritos nos itens 1, 2, 3 e 4 (acima) é extremamente rara, bastando a reunião de três desses elementos para estarmos em presença daquilo que se chama em astrologia um “homossexual natural”.

Um “homossexual natural” tenderá a expressar essa tendência muito cedo na vida, e para ele essa será a sua sexualidade normal. Se tentar forçar se adaptar ao padrão social dominante heterossexual (e isso pode muito bem acontecer), sua vida amorosa se mostrará cheia de armadilhas, sofrimentos e complicações. Terá escolhido um modo de viver inteiramente contrário às suas tendências profundas, adquiridas já no nascimento.

Numa mulher homossexual natural os indicadores astrológicos são os mesmos, segundo a autora, mas com o acréscimo de uma oposição entre a Lua e Marte ou entre Marte e Netuno, ou ainda uma conjunção desses astros.

Em astrologia, para a pesquisadora, a homossexualidade revela-se bem mais no plano da afetividade e da sensualidade (Vênus) e do psiquismo (Lua) do que no da sexualidade e da genitalidade propriamente dita (Marte).

A autora acrescenta ainda outras formas de predisposição à homossexualidade, mais sutis, que ela considera mais como um “potencial bissexual”, onde a pessoa “opta” por exercer alguma orientação homossexual, de maneira intermitente.

Nesse sentido, ela encontra em temas de adolescentes indicadores marcados pela oposição Vênus-Urano, Sol-Urano e Marte-Urano. Aqui a contestação adolescente se manifestaria mais claramente no âmbito erótico contra o status quo heterossexual dominante. Essa contestação homossexual-bissexual, segundo a observação da autora, ocorreria até as idades dos 23 ou 25 anos, e é acompanhada por expressões correlatadas na escolha de roupas, músicas e estilos “mais agressivos” de vida.

Um “não-astrólogo” talvez considere comum o surgimento desse tipo de contestação na fase adolescente, mas para nós astrólogos é notório que há algo mais nesse padrão. Aliás, a observação da pesquisadora de que tal padrão comportamental dure até 23 ou 25 anos, mostra que essa “contestação” parece demorar um pouco mais do que o esperado. O comum (naquela faixa dos 25 % de homossexuais ocasionais) é surgir alguma experimentação homossexual adolescente por volta dos 16 ou 18 anos, e isso parar por ali mesmo. Mas, manter tal “experimentação” até os 23 ou 25 anos, já é algo de outra natureza de expressão. Há aí uma tendência, indicada pelo mapa astral. Inclusive, a autora observou que essas tendências ressurgem por volta dos 40 anos.

Outra forma de homossexualidade, mais serena, mais idealista, pode ser encontrada nos temas em que Netuno e a Lua se acham em conjunção ou em oposição. Esses parecem ser casos de homossexualidade em que o aspecto psicológico é mais evidente, como resolução do complexo de Édipo descrito por Freud na psicanálise. Geralmente se desenvolve uma repugnância genital pelo sexo oposto (uma espécie de “nojo” pelo órgão sexual oposto), e nos casos desequilibrados uma sedução pelas drogas e pelo álcool. Nos casos mais equilibrados e não patológicos, desenvolve-se uma homossexualidade discreta, feliz, serena, com um parceiro ou parceira estável.

Chama a atenção que autora concentrou sua atenção nas conjunções e aspectos duros como quadraturas e oposições. Ela não cita aspectos harmônicos como trígonos e sextis.

Há um grupo de homossexuais, segundo Hirsig, que são mais “desligados” ou menos compromissados afetivamente, cujo tema de nascimento indica frequentemente um aspecto Vênus-Urano, em oposição ou conjunção, aspecto tenso que pode ser amenizado se apoiado por outras configurações harmônicas.

O Homossexual que quer viver uma comunhão amorosa perfeita geralmente tem Netuno em conjunção com o ascendente, segundo a autora (é fácil deduzir que isso deve se expandir para os casos que envolvem aspectos duros entre Netuno e o ascendente; eu mesmo conheço um caso envolvendo Netuno em oposição ao ascendente). Nesse caso a possibilidade de desilusão é igualmente maior. A sublimação pode ocorrer, quando o sujeito se dedica ao mundo das artes, o que lhe é altamente benéfico.

Assim, além dos 4 indicadores principais propostos por Hirsig, ela mesma sugere prestar atenção para:

a) Aspectos duros e conjunções entre Urano (o planeta das contestações, que rompe com as regras e limites sociais), e o Sol, Marte e/ou Vênus.

b) Conjunções e aspectos duros entre a Lua e Netuno (homossexualidade mais afetiva e discreta), ou entre Netuno e o Ascendente (uma homossexualidade muito idealista e com fantasias românticas).

c) Conjunções e aspectos duros entre Vênus e Urano, predizendo uma homossexualidade com afeto (Vênus), mas também mais liberdade e desprendimento (Urano).

Vou citar apenas um mapa que conheço possuir três aspectos, conforme apontado por Hisig. Esse mapa possui (1) Lua em conjunção com Vênus, (2) Vênus em quadratura com Netuno e (3) Netuno em oposição com o ascendente. Além disso, Urano está na Casa cinco, dos romances, quebrando todas as regras nesse assunto. Vênus é o dispositor desse Urano, fazendo aspecto com a Lua e Netuno, como já foi dito. Trata-se de uma homossexualidade romântica e idealista, mesmo fantasiosa, tendente para relacionamentos mais fixos. Esse é um caso confirmado de “homossexualidade natural” e muito bem conhecido por mim, que parece apoiar o estudo de Huguette Hirsig.

Pensando no quanto é raro ter todos esses aspectos numa única natividade, e o quanto é minoritário o percentual de homossexuais naturais na população, esses achados podem dar o que pensar, embora não esgotem o assunto.

Referências Bibliográficas

HIRSIG, Huguette. Astrologia e Homossexualidade: o primeiro estudo de compatibilidade astrológica para pessoas do mesmo sexo. RJ: Recor - Nova Era, 1988.

ALIA, David; WAYNBERG, Jacques. Guia Prático da Vida do Casal. SP: Manole, 1989.

Adalberto Ricardo Pessoa.

Astrólogo e Psicólogo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A ASTROLOGIA OCIDENTAL SEMPRE TERÁ 12 SIGNOS.

Recentemente astrônomos do planetário de Minnesota, nos EUA, afirmaram que, por causa da atração gravitacional que a Lua exerce sobre a Terra, o alinhamento das estrelas foi empurrado por cerca de um mês. A implicação disso segundo os astrônomos é que tudo o que se sabia sobre horóscopo (na Astrologia) estaria errado.
Por exemplo, de acordo com os o grupo de astrônomos, um 13º signo deveria fazer parte da astrologia, que teria imprecisões desde o seu início. A explicação é que, na Antiga Babilônia, apenas 12 das 13 constelações foram levadas em conta, ignorando Serpentário, que tem como símbolo a cobra.

De acordo com os astrônomos de Minnesota, esta é o período correto que identificaria cada signo:Capricórnio: de 20 de janeiro a 16 de fevereiro
Aquário: de 16 de fevereiro a 11 de março
Peixes: de 11 de março a 18 de abril
Áries: de 18 de abril a 13 de maio
Touro: de 13 de maio a 21 de junho
Gêmeos: de 21 de junho a 20 de julho
Câncer: de 20 de julho a 10 de agosto
Leão: de 10 de agosto a 16 de setembro
Virgem: de 16 de setembro a 30 de outubro
Libra: de 30 de outubro a 23 de novembro
Escorpião: de 23 a 29 de novembro
Serpentário: de 29 de novembro a 17 de dezembro
Sagitário: de 17 de dezembro a 20 de janeiro

Para saber sobre essas alegações dos astrônomos de Minnesota, acesse o link: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/01/movimento-da-terra-mudou-signos-do-zodiaco-dizem-astronomos.html
Essa notícia causou grande polêmica no mundo virtual, em comunidades de redes sociais, no Twitter e na mídia de forma geral. Esse tipo de argumentação (ou de ataque) dos astrônomos contra os astrólogos, vai e volta de tempos em tempos, e os astrólogos parecem se perder em suas respostas aos astrônomos.
Um astrólogo tentou fornecer uma resposta que considero insuficiente, embora não esteja exatamente incorreta. O link de tal resposta é esse:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/01/nocao-que-os-astronomos-tem-de-zodiaco-e-falsa-diz-astrologo.html

Mas, a solução desse dilema é simples: deve-se entender que o “céu astronômico” tal como eles o representam é totalmente diferente do “céu astrológico”. A representação do céu dos astrônomos é uma figuração realista do cosmos, segundo seus instrumentos específicos como telescópios e cálculos físicos. Essa representação é útil para as finalidades que os próprios astrônomos modernos assumem.
O “céu astrológico” por sua vez, não é uma representação fiel ou real do céu, embora muita gente erroneamente pense que os astrólogos trabalhem com uma figuração real do cosmos. O céu astrológico é um representação pictórica de uma fórmula matemática que os antigos astrólogos usavam para representar um pedaço específico do céu, a partir de sua observação geocêntrica (isso é, da sua observação a partir da própria Terra). Ou seja, o “Céu astrológico” é uma representação “simbólica”, não é o céu real dos astrônomos.

Mais do que isso, o “céu astrológico” é um céu “MATEMATICAMENTE IDEALIZADO” segundo alguns cálculos muito específicos e complexos, e que tem servido como modelo intermediário para realizar comparações e erigir observações sobre o comportamento humano e outros fenômenos terrestres de caráter preditivo.
Embora não seja o céu real dos astrônomos modernos, os astrólogos ao longo de séculos têm constatado que seu “construto abstrato” (i.e., seu céu matemático-simbólico) tem sido eficaz para descrever fatos humanos e fenômenos terrestres com razoável precisão. Por isso, os astrólogos têm mantido seu “céu artificial” intacto ao longo dos anos, e assim continuarão a proceder, pois ele se mostra útil, até hoje, como referencial de comparação entre certas classes de acontecimentos e fenômenos em sintonia com as variações desse modelo astrológico (não-astronômico).

Isso implica que pouco importa que alterações os astrônomos incluam na sua representação de seu “céu realista”. Isso pouco afetará o modelo matemático-simbólico do céu astrológico. O único aspecto que pode interferir produzindo uma mudança nesse céu dos astrólogos é a descoberta de novos planetas, como já ocorreu com Urano, Netuno e Plutão.
Caso os astrônomos descobrissem mais um planeta, os astrólogos teriam que refazer alguns cálculos para “adaptar” a colocação desse novo planeta em seu modelo de “céu matemático-simbólico” procedendo à observação de como esse “novo planeta matematicamente colocado” corresponderia a certas manifestações comportamentais ou fenômenos terrestres. Mesmo esse novo planeta no céu dos astrólogos NÃO CORRESPONDERIA ao mesmo planeta no céu dos astrônomos, mas antes seria uma abstração matemática “inspirada” no novo planeta descoberto astronomicamente e simbolizada na representação gráfica do céu dos astrólogos.

Já a inclusão de novos signos, como um 13º ou 14º signo, não é cabível nas fórmulas dos astrólogos. O erro dos astrônomos consiste em achar que os doze signos do zodíaco são correspondências reais biunívocas da faixa de constelações abrangida pela eclíptica (a faixa do céu considerada pelos astrólogos; os astrólogos não consideram todo o céu astronômico, mas só uma faixa que é o caminho “APARENTE” que o Sol parece fazer ao redor da Terra, aos olhos de um observador localizado na Terra, quando na verdade, é a Terra que circula o Sol).
Acontece, porém, que não há uma relação direta entre os signos e as constelações, sejam essas em número de 12, 13 ou mais constelações. Infelizmente, os astrólogos deram aos signos os mesmos nomes aplicados às constelações, o que induz a um erro de percepção ou interpretação que é achar que os 12 signos são representações diretas das constelações, quando não o são. Os signos são apenas divisões da faixa da eclíptica, em partes iguais. Ao invés de nomes de constelações, os astrólogos antigos poderiam ter usado letras do alfabeto ou algarismos romanos.
Assim, ao invés de signos de áries, touro, gêmeos e etc, teríamos os signos A, B, C... ou os signos I, II, III. A confusão é de terminologia, que seria evitada se simplesmente os astrólogos dessem aos signos nomes diferentes das constelações.
Eles não fizeram tal distinção terminológica apenas para facilitar a memorização de algumas analogias simbólicas, o que foi um recurso interessante por um lado, mas abriu espaço para erros interpretativos como os gerados pelos astrônomos de Minnesota.

Enfim, resumindo: ASTRONOMICAMENTE, ou seja, em termos da representação real do céu, as observações dos astrônomos de Minnesota estão corretas. Mas, ASTROLOGICAMENTE, ou seja, em relação à representação simbólico-matemática do céu dos astrólogos, as corretas observações realistas dos astrônomos NÃO TÊM NENHUMA IMPLICAÇÃO OU CONSEQUÊNCIA. NÃO MUDAM NADA. CONTINUAMOS COM 12 SIGNOS E NÃO COM 13.
Não há relação entre o céu realista dos astrônomos e o construto abstrato expresso no céu dos astrólogos. A única alteração astronômica que afeta INDIRETAMENTE a representação do céu dos astrólogos seria a descoberta de um novo planeta. Fora isso, nada que ocorra no céu astronômico pode afetar o céu astrológico.
Tudo isso quer dizer que a Astronomia é um saber totalmente diferente da Astrologia, inclusive nas suas representações do “céu”. Quando isso for entendido, de uma vez por todas, os astrônomos vão perceber que a Astrologia está totalmente fora de seu escopo, assim como a Astronomia está fora do escopo dos astrólogos.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Filosofia da História da Astrologia

(Parte 1)

O objetivo desse trabalho é pesquisar e praticar o ato reflexivo e crítico de filosofar, tomando o pensamento e o conhecimento astrológico como fonte de inspiração, para a análise de temas existenciais e metafísicos de alcance variado[1]. Parte do trabalho terá como inspiração o método historiográfico.
Para tanto alguns conceitos preliminares precisam ser definidos e algumas premissas explicitadas.
Para Jenny Teichman e Katherine C. Evans[2], a Filosofia é o estudo de problemas fundamentais, abstratos e muito gerais que dizem respeito (1) à natureza da existência, (2) do conhecimento, (3) da moralidade, (4) da razão e (5) do propósito humano.
Os ramos acadêmicos da Filosofia são:

Metafísica;
Ética;
Filosofia Política;
Filosofia da Ciência e
Lógica (entre outros).

Alexandre Caballero[3] afirma que a Filosofia é a ciência do “por-trás-das-coisas”[4] e das analogias ônticas[5].
Segundo Caballero,

O homem nunca se satisfaz só com as respostas imediatas e experimentais; sempre teve necessidade de ir “além disso”. Ele sabe que existe esse “além disso” e nada poderá impedi-lo de procurar compreender melhor sempre esse além. Quando as outras ciências param, cabe à Filosofia o ônus de continuar adiante na procura da verdade[6].

Para Caballero[7] a Filosofia não é uma ciência, no sentido de “conclusão ou conjunto de conclusões de processos experimentais”, mas pode ser considerada como ciência se essa palavra dizer respeito a “conhecimento certo ou conjunto organizado de conhecimentos certos”[8].
Como ciência do “por-trás-das-coisas”, a Filosofia é um saber do “transcendente”, do “mais além”. Segundo Caballero,

A Filosofia é eminentemente uma ciência metafísica no sentido mais pleno da palavra. Ela vem após e vai além das ciências físicas ou experimentais, muito embora possa ter e tenha na experiência, principalmente na experiência científica, seus principais alicerces ou pontos de partida[9].

A palavra grega “meta” significa “após” e Metafísica quer dizer “o que vem depois da Física”, da materialidade.
A Metafísica surgiu de alguns tratados escritos por Aristóteles sobre a natureza do ser, a natureza da causalidade (do vir a ser) e a natureza do conhecimento. Essa “primeira filosofia” ou Metafísica, pode ser definida como algo composto de (1) ontologia – que é o estudo da natureza da existência e do “vir a ser” – em conjunto com a (2) epistemologia – que é a teoria do conhecimento.
Mas, a Metafísica também indaga sobre a mente, a alma, Deus, tempo, espaço e livre-arbítrio. Por isso, em resumo, a Metafísica é a ciência ou estudo do Ser e do Saber[10].
Para Paulo Duboc, a Astrologia é um saber que encerra uma metafísica, e considerações de ordem filosófica, religiosa, moral, estética e científica, bem como uma corrente de valores empíricos[11].
Citando Dane Rudhyar, Duboc define a Astrologia como uma técnica de “simbolização e prognósticos” na qual algumas categorias de dados astronômicos são utilizados como indicadores fundamentais.
Astrólogos brasileiros de prestígio, como Olavo de Carvalho ou Antônio Carlos Harres, segundo consta na Declaração Brasileira de Astrologia[12] definem “Astrologia” como “toda abordagem e estudo sistemático das relações naturais ou transcendentais entre a vida humana e terrestre e o ambiente cósmico”.
Nesse conceito a Astrologia é considerada uma disciplina integrativa: (1) científica nos seus fundamentos materiais e nos seus processos de verificação; (2) artística na elaboração das sínteses interpretativas; (3) filosófica no seu espírito e na formulação da sua metodologia e (4) transcendental em sua finalidade última e na sua simbologia básica.
Tomando o aspecto filosófico e transcendental da Astrologia, diversos autores apontam o papel significativo que a Astrologia pode ter na compreensão e solução da crise de valores do mundo (pós-)Moderno. Assim, consta na Declaração Brasileira de Astrologia, o seguinte parágrafo:

Consideremos que, face a uma época, que agora finda, marcada pela fragmentação do conhecimento e, portanto, pelo esfacelamento da personalidade humana, o renascimento da Astrologia – disciplina integrativa por excelência, que restabelece os liames entre o indivíduo empírico e a realidade do seu destino cósmico, desde o nível natural até o transcendental – acompanha a tendência, hoje incoercível, à reunificação do conhecimento em todas as áreas e constitui, com ela, uma promessa de reconstrução da integridade do espírito humano e o prenúncio de uma era onde se reconstituam os liames orgânicos entre vida e arte, religião e saber, indivíduo e coletividade[13].

Elizabeth Teissier, já apontava reflexão semelhante ao argumentar que a “Astrologia fornece uma cosmogonia completa ao homem do século XX” [14] (e século XXI, também, na minha opinião).
Segundo Teissier,

... é uma cosmogonia completa o que a Astrologia oferece ao homem do século XX, sedento de absoluto e de unidade (...) não uma cosmogonia totalitária e dogmática, tal como a que, construída sobre a escolástica, oferecia à astrologia da Idade Média (...)
Numa altura destas, em que as diversas ideologias evidenciam demasiado as suas fraquezas e lacunas, em que as religiões tradicionais parecem desembocar numa inadequação em relação aos problemas do nosso tempo, em que as sociedades tecnológicas e as civilizações industriais endeusam o homem animal e esquecem o homem espiritual, o mundo de hoje aspira de novo a uma concepção harmoniosa e sintética do Universo[15].

Segundo a autora, a Astrologia é uma solução para o problema da falta de um sistema filosófico globalista, e para o qual deveríamos reconhecer seu legítimo valor epistemológico.
Nesse sentido, a Astrologia encerra implicitamente uma Filosofia (ou conceito/concepção de filosofia) enquanto (1) cosmovisão de mundo, (2) sabedoria de vida e (3) esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido.
É interessante notar que no meio acadêmico formal, estas concepções de Filosofia já foram criticadas (e rejeitadas), por exemplo, por Marilena Chauí. Essa autora prefere definir a Filosofia como “Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas”, logo, como um saber que se ocupa, cada vez mais, com as condições e os princípios do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro. Porém, como a autora mesma assume, a Filosofia não abandona “as questões sobre a essência da realidade”[16].
Pessoalmente considero que essa “busca da essência”, seja o ponto crucial e basilar que define e/ou unifica todas as reflexões e diferentes opiniões do metaconceito de Filosofia.
Para mim a Filosofia é a busca da essência de todos os conceitos, métodos, e da própria realidade. Essa “essência” é o que ao mesmo tempo “fundamenta” os conhecimentos e práticas (apontadas na definição de Chauí). Esse ponto, na minha opinião, retoma e unifica todas as concepções por ela criticadas (e rejeitadas).
Filosofar é a arte de fazer filosofia, é a própria atividade filosófica em si. Essa é descrita por Chauí, como:

1o) Análise;
2o) Reflexão;
3o) Crítica (Questionamento).

Essas três atividades são orientadas pela elaboração filosófica de significações gerais sobre a realidade e os seres humanos. Podem ser caracterizadas da seguinte maneira:

I) Análise: das condições do conhecimento – ciência, arte, religião, moral;
II) Reflexão: volta da consciência para si mesma para conhecer-se enquanto capacidade para o conhecimento, o sentimento e a ação[17];
III) Crítica: questionamento das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e práticas científicas, políticas e artísticas.

A atitude filosófica ou o “filosofar” pergunta “o que”, “como” e “por que” a coisa, idéia ou valor, é, funciona e existe, como tal. Assim, além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas indagando o que são, qual sua permanência e qual a necessidade interna que as transforma em outras[18].
É, modernamente, a disciplina ou área de estudos que envolve a (1) investigação, (2) argumentação, (3) análise, (4) discussão, (5) formação e reflexão das idéias sobre o mundo, o homem e o ser. A Filosofia originou-se de uma inquietude em questionar o senso comum, opondo-se a seus preconceitos e aceitação tácita de seus juízos apriorísticos, bem como pela curiosidade humana natural.
Uma dúvida filosófica não é o mesmo que uma dúvida comum, trivial. A dúvida filosófica surge quando começamos a refletir sobre como sabemos o que supomos saber[19].
Essa primeira discussão metafilosófica é necessária para retormarmos o projeto ptolomaico do século II d. C., que compreendia a Astrologia como uma forma de conhecimento filosófico racional[20].
São muitas as discussões sobre a (difícil) delimitação e elaboração de uma definição de Filosofia e de seu objeto específico. Definir a Filosofia é realizar uma tarefa metafilosófica , ou em outras palavras, fazer uma filosofia da filosofia. O paradoxo é que a sua definição já exige uma filosofia (ou um “filosofar à priori”)[21].
Para Ptolomeu (séc. II d.C.) a Astrologia é um conhecimento de tipo filosófico, com base racional[22].
Assim, podemos levantar a hipótese de que a atitude filosófica típica do Filósofo (e que de certa forma, encontramos também, num certo contexto com limites, no Psicólogo), é compatível de ser encontrada no Astrólogo, mesmo porque, como afirma Caballero, “... o homem não existe para filosofar, mas filosofa pelo fato de existir como homem. A Filosofia é, assim, a ciência mais humana e também mais humanizante”[23]. Esse conjunto de idéias aproxima a Astrologia da Filosofia e da Psicologia, sem reduzir uma à outra, e sem anular a independência dos seus campos de investigação, promovendo somente uma troca dialética, um diálogo.
A partir desse quadro de referências, sustentamos a proposta de uma abordagem histórico-filosófica da reflexão astrológica, i.e., uma Filosofia da História da Astrologia. Nesse ponto, começaremos com o pensamento grego.

A FILOSOFIA GREGA E A ASTROLOGIA

Segundo Peter Marshall, “várias crenças astrológicas ocidentais, especialmente a respeito da natureza do cosmos, podem ser investigadas até chegar aos filósofos gregos"[24].
Lembrando que existem 4 grandes Escolas de Astrologia:

Astrologia Chinesa;
Astrologia Indiana;
Astrologia do Oriente Médio; e
Astrologia Ocidental (que segundo alguns astrólogos se subdivide em Astrologia Antiga, Tradicional ou Clássica e Astrologia Moderna).

Podemos situar as origens históricas e epistemológicas da Astrologia Ocidental na Filosofia Grega, o que demanda uma compreensão mais profunda desse saber.
Histórica e tradicionalmente, a filosofia se inicia com Tales de Mileto, séc. VI a.C. Ele foi o primeiro dos filósofos pré-socráticos a buscarem explicações de todas as coisas através de um princípio ou origem causal (arché) diferentemente do que os mitos antes mostravam.
Nas explicações míticas, o explicador é tão desconhecido quanto a coisa explicada. Por exemplo, se a causa de uma doença é a “ira divina”, explicar a doença por essa não nos ajuda muito a entender o porque daquela. Assim, a Filosofia Antiga nasceu de uma necessidade de explicar o mundo a partir de uma cosmovisão (mais) racional e realista, prescindindo de explicações mitológicas incompreensíveis ou incognoscíveis.
Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros a fazerem esse movimento tendo como foco a especulação sobre problemas cosmológicos ou cosmo-ontológicos. Suas reflexões buscavam o princípio (ou arché) das coisas. Eram também chamados de “Naturalistas” ou “Filósofos da Physis”[25].
Os Pré-Socráticos formaram algumas “Escolas” ou tendências, entre elas:

1. Escola Jônica;
2. Escola Italiana;
3. Escola da Pluralidade (ou Pluralista) – 2a fase do pensamento pré-socrático[26];

A Escola Jônica caracteriza-se sobretudo pelo interesse pela physis, pelas teorias sobre a natureza, enquanto a Escola Italiana focou-se numa visão de mundo mais abstrata, menos voltada para uma explicação naturalista da realidade, prenunciando em certo sentido o surgimento da lógica e da metafísica, sobretudo no que diz respeito aos eleatas.
Enquanto a Escola Jônica de filosofia tendia a ser materialista e mecânica, a colônia grega no Sul da Itália, em Eléia, formava um grupo bem mais místico de filósofos. Segundo Marshall, a diferença entre as suas visões “científica” e “intuitiva” dos céus ainda divide os astrólogos de hoje[27].
Essa dicotomia é reeditada na abordagem idealista (místico-intuitiva) de Platão e no materialismo imanente (científico) de Aristóteles reverberando por todas as linhas do conhecimento até hoje, incluindo a Astrologia. Numa visão junguiana moderna essa dicotomia tem origem, segundo se supõe, em diferenças de temperamento daqueles que defendem um lado ou outro da questão, incluindo os próprios criadores de tais posições.
Seja como for, voltando aos pré-socráticos, os milésios da Escola Jônica, como Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes (também de Mileto), apresentaram o problema do movimento e suas primeiras soluções.
Tales acreditava que as coisas têm, por trás de si, um princípio físico (physis), material, chamado arqué. Para ele, o arqué seria a água. Anaximandro de Mileto, contemporâneo de Tales (no século VI a.C., aproximadamente) considerou a physis como sendo o apeiron, um princípio ilimitado e indeterminado. Já Anaxímenes pensava que a origem de todas as coisas seria o ar ou o vapor (pneuma). Para Xenófanes, o elemento primordial é a terra, enquanto Heráclito achava que seria o fogo.
Assim, os filósofos naturalistas acreditavam na existência de uma substância básica única, que seria a origem de todas as coisas. Mas, isso deixava sem solução o problema da mudança: como poderia uma substância se transformar repentinamente em outra coisa?
Por volta de 500 a.C., um grupo de filósofos (mais “místicos”) começaram a se interessar por esse ponto do debate. Eram um grupo da colônia grega de Eléia, no sul da Itália, chamados de Eleatas (pertencentes, portanto, à Escola Italiana) .
Enfatizando a importância do Ser, os eleanos ou eleatas acreditavam que a mudança física era ilusória, defendendo que o Universo era uma unidade criada e guiada por uma única inteligência, um deus único (monoteísmo).
Parmênides de Eléia, no século V a.C. propunha que a despeito das mudanças aparentes da matéria, nada realmente muda. Ele foi o fundador da escola Eleática e defendia que não podemos confiar em nossas percepções sensoriais, mas sim na razão, faculdade pela qual ele deduzia sobre a imutabilidade essencial do mundo. Ele foi o primeiro a propor um dualismo sistemático de aparência e realidade[28], e se opunha aos milésios e, principalmente, a Heráclito.
Heráclito de Éfeso, na Ásia Menor, propôs que a matéria básica do Universo seria o fogo, e a mudança constante (o fluxo) seria o fundamento da natureza. Para ele, tudo muda, todas as coisas fluem, e “não entramos duas vezes no mesmo rio”. Heráclito acreditava mais na percepção, ao contrário de Parmênides, que se lhe opunha.
Esses primeiros pensadores gregos podem ter lançado os fundamentos da Astrologia (e da Astronomia) Ocidental.
Tales chegou a prever um eclipse, cuja interpretação astrológica ajudou a evitar uma guerra entre os medas (sudoeste do Mar Cáspio) e os lídios (Ásia Menor, atual Turquia), por volta de 585 a.C[29]. Segundo Heródoto, esse seria um eclipse do Sol. Ainda, para provar o valor do seu saber, Tales teria aplicado seu conhecimento dos astros para prever uma boa colheita de azeitonas. Assim, ele comprou todas as prensas de azeitona locais e lucrou alugando-as aos plantadores para atender à demanda[30].
Anaximandro, cerca de 610 a.C. , alegou que os planetas viajavam em esferas separadas (suas órbitas) que constituíam o céu. Essa visão astrológica subsistiu até a Revolução Científica do século XVIII, e teve como colorário a noção de “recorrência eterna” que viria a se tornar um conceito-chave (ciclicidade) na Astrologia Ocidental.
Anaxímenes, por sua vez, considerava as estrelas como objetos fixos num céu “de fundo” que girava em torno da Terra. O “céu inteiro” girava, não as estrelas, que ficavam “penduradas” nesse “telhado” do céu. Essa crença também se manteve até o século XVII, e o telhado do céu seria formado por esferas cristalinas (já citadas por Anaximandro).
Heráclito de Éfeso, cerca de 500 a.C., como os antigos chineses taoístas, enfatizou a importância do Vir-a-Ser, e imaginou que o fluxo contínuo e perpétuo da mudança ocorria pela reconciliação de opostos. Essa visão tornou-se o cerne da concepção astrológica dos signos positivos e negativos do zodíaco[31]. Para todo o fluxo da vida havia a unidade na diversidade do mundo.
A Filosofia Grega é vista pelos estudiosos europeus como racionalista, mas os próprios gregos reconhecem contribuições da Mesopotâmia e do Egito, além dos mistérios órficos. A Grécia Clássica dos séculos V e IV a.C. (período contemporâneo dos filósofos mencionados anteriormente) provavelmente conhecia e apreciava a Astrologia praticada no Oriente Próximo e no Norte da África.
Homero, Tales, Pitágoras e Platão foram instruídos nos templos egípcios. E por volta do século V a.C., a antiga crença egípcia de que a alma dos mortos se conectava com as estrelas estava bem estabelecida na Grécia[32]. Mas, a influência da Mesopotâmia havia atingido a Grécia antes disso, em meados do século VIII a.C.
Após as invasões da Grécia pelos persas, no primeiro quarto do século V, os contatos culturais entre os dois povos continuaram filtrando as idéias indianas, babilônicas e egípcias. As previsões dos sacerdotes caldeus eram considerados muito precisas[33].
Essas observações expandem as origens da Astrologia Clássica para antes dos Filósofos Gregos, de modo que o seu estudo a partir do período pré-socrático se justifica apenas como um artifício didático, pois teríamos que investigar as origens egípcias e mesopotâmicas da Astrologia Ocidental, para sermos mais exatos e fidedignos.
Isso pode ser feito depois. Assim, avançando no tempo ao invés de retrocedermos, chegamos a Pitágoras de Samos, nascido em 570 a.C., aproximadamente. Especula-se sobre uma possível influência egípcia no seu pensamento, já que ele defendia uma concepção de imortalidade e transmigração (metempsicose) da alma.
Convencido de que os números eram a chave para a compreensão do universo[34], atribuiu valores matemáticos às relações entre os corpos celestes. Seus discípulos – os pitagóricos – combinavam o amor pela matemática com a visão mística do absoluto. Eles desenvolveram e ampliaram a doutrina da recorrência eterna de Anaximandro, ao declararem que tudo voltaria na mesma ordem numérica[35].
Assim, quando todos os planetas retornam a uma posição similar em relação às estrelas fixas, o Grande Ano se completa. Essa idéia é precursora do nosso atual conceito de Retorno ou Revolução (ou seja, o retorno de qualquer planeta para a posição que ele ocupava no zodíaco no momento do nascimento). Porém a concepção clássica dos pitagóricos já era defendida pelos antigos mesopotâmios e egípcios.
Atribui-se, ainda, a Pitágoras a descoberta de que as antigas designadas estrelas da manhã e da tarde são o mesmo planeta, Vênus[36].
A maior contribuição de Pitágoras para a Astrologia é a de que o universo pode ser explicado pelos números. No século XVII, Galileu acreditou que o universo era reduzível a um número e Kepler baseou suas teorias dos movimentos planetários na geometria pitagórica. Na astrologia ocidental, a convenção de o 4 representar a “Casa” é devido ao fato de os pitagóricos considerarem o 4 como o número da estrutura[37].
O pitagórico Filolau de Crotona (470-390 a.C., aproximadamente) conhecia a divisão duodecimal do zodíaco por volta de 430 a.C. A doutrina pitagórica da perfeição universal postulava que as órbitas planetárias se davam em círculos perfeitos, embora Filolau, sem rejeitar a teoria em questão, observou que vistas da Terra, tais órbitas pareciam irregulares. Ele rompeu com a visão geocêntrica da Terra, antes de Copérnico, mas em sua visão astronômica antiga, achava que a Terra, o Sol e os outros planetas giravam ao redor de um “fogo central”. Com isso tentava explicar a irregularidade “aparente” das órbitas planetárias, sendo o primeiro filósofo grego a compreender que a Terra se move no espaço, e a distinguir entre o movimento diurno e anual dos planetas.
Méton, um contemporâneo de Filolau, tentou reformar o calendário em Atenas, por volta de 432 a.C. (século V a.C.), baseado nos modelos babilônicos.
Chegamos, então, no mais influente filósofo pitagórico, Empédocles de Agrigento, na Sicília (495-430 a.C.). Sua principal contribuição foi popularizar a doutrina dos 4 elementos – fogo, terra, ar e água – tão cara à Astrologia Antiga e Moderna, bem como à medicina antiga e medieval.
Vimos que os filósofos gregos pré-socráticos argumentavam que o universo físico era formado por um elemento fundamental: Tales, declarou que esse elemento era a água, Anaximandro o apeiron, Anaxímenes o ar, Heráclito o fogo, e Xenófanes a Terra.
Empédocles, contudo, defendeu que todas as coisas, incluindo os seres humanos, eram compostos por combinações dos 4 elementos. Fogo, terra, ar e água estariam em um estado permanente de fluxo, combinando-se entre si de modos diferentes para montar a vasta diversidade do universo[38].
Os astrólogos, então, assumiram a teoria dos 4 elementos de Empédocles e os associaram aos signos do zodíaco e às Casas Astrológicas.
Na medicina Antiga, o conceito dos 4 elementos foi resgatado por Hipócrates (nascido em 460 a.C.), que os associou aos 4 “humores” ou condições do corpo, cujo desequilíbrio entre eles resultava em vários tipos de doenças. Como esses humores são, na verdade, tipos de “temperamentos” de personalidades, essa teoria pode ser a base distante do que hoje conhecemos como abordagem psicossomática.
Os quatro humores ou “temperamentos” como fluidos corporais foram associados, especialmente na Idade Média, a determinados tipos psicológicos:

1) Sangüíneo – preponderância de sangue e associado ao ar;
2) Fleumático – fleuma/água;
3) Colérico – amarelo/fogo;
4) Melancólico – bílis negra/terra.
Hipócrates lançou, com essa teoria, as bases da Astrologia Médica, conhecida pelos gregos de iatromathematica. Hipócrates antecipou a chamada homeopatia e a “medicina holística”.

(CONTINUA...)

NOTAS

[1] Como veremos, esse caminho de investigação deve aproximar o diálogo entre Filosofia, Astrologia e Psicologia, dentro de uma noção comum que poderia ser denominada Hermenêutica Filosófica.
[2] Jenny Teichman, Filosofia: um guia para iniciantes, p. 11.
[3] Alexandre Caballero foi ex-professor titular de Filosofia Geral e da Educação da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
[4] Alexandre CABALLERO, A Filosofia através dos textos, p. 18.
[5] Ontologia é a ciência que estuda a natureza do “ser” enquanto ser, considerado em si mesmo, independente da matéria e da especulação da essência. É a parte da metafísica que trata dos entes em geral.
[6] Alexandre CABALLERO, A Filosofia através dos textos, p. 18.
[7] Ibid., p.18.
[8] A despeito dessa concepção de ciência parecer genérica demais, é nesse sentido que a Astrologia também pode começar a ser considerada como uma ciência.
[9] Alexandre CABALLERO, A Filosofia através dos textos, p. 18.
[10] Jenny Teichman, Filosofia: um guia para iniciantes, p. 11,12.
[11] Paulo DUBOC, passim
[12] Marilha Maneschy Suzuki, Astrologia no Brasil, p. 123.
[13] Ibid. p. 124.
[14] Elizabeth TEISSIER, O Significado da Astrologia, p. 246.
[15] Ibid., p. 246.
[16] Marilena CHAUÍ, Convite à Filosofia, p.17.
[17] Provavelmente, dessa orientação intelectiva aplicada funcionalmente na vida prática, que podemos contextualizar o surgimento da Psicologia, enquanto projeto científico. A Psicologia, sinteticamente, nesse sentido, é uma aplicação utilitária bem-sucedida, da atitude filosófica, sobre o comportamento humano. Por isso também, seus paradigmas epistemológicos guardam relações de simpatias mútuas.
[18] Marilena CHAUÍ, Convite à Filosofia, p. 17.
[19] Stephen LAW, Filosofia: Guia Ilustrado Zahar, p. 51.
[20] Cf. Roberto de Andrade Martins, A influência de Aristóteles na obra astrológica de Ptolomeu (o “Tetrabiblos”). Trans/Form/Ação 18: 51-57, 1995
[21] Esse paradoxo torna-se inteligível se compreendermos que (1) não há como se definir sem que se tenha alguma compreensão dada de definição do mesmo modo que, (2) não há como responder adequadamente a uma pergunta, se não partimos de uma compreensão dada de pergunta e resposta.
[22] Cf. Roberto de Andrade Martins, passim.
[23] Alexandre CABALLERO, A Filosofia através dos textos, p.18.
[24] Peter MARSHALL, A Astrologia no Mundo, p. 262.
[25] Aqui, o termo “natureza” não era entendido no seu sentido corriqueiro, mas sim como “realidade primeira, originária e fundamental” ou “o que é primário, fundamental e persistente” em oposição ao que é “secundário, derivado e transitório”.
[26] Danilo Marcondes, Iniciação à História da Filosofia, p.31.
[27] Peter MARSHALL, A Astrologia no Mundo, p. 263.
[28] Stephen LAW, Filosofia: Guia Ilustrado Zahar, p.239.
[29] Peter Marshall, Astrologia no Mundo, p 263.
[30] Stephen LAW, Filosofia: Guia Ilustrado Zahar, p. 232.
[31] Peter Marshall, Astrologia no Mundo, p. 262-264.
[32] Ibid., p. 261.
[33] Ibid., p. 262.
[34] Para Pitágoras, diferentemente das verdades sobre o mundo físico, as verdades matemáticas são eternas. Embora a matemática tenha aplicações empíricas, o raciocínio matemático (e dedutivo) preciso lida com um mundo superior de objetos supra-sensíveis.
[35] Peter Marshall, Astrologia no Mundo, p. 265.
[36] Stephen LAW, Filosofia: Guia Ilustrado Zahar, p. 234.
[37] Peter Marshall, Astrologia no Mundo, p. 265.
[38] Ibid., p. 266.

Referências Bibliográficas

MARSHALL, Peter. A Astrologia no Mundo: uma visão histórica para entender melhor a personalidade humana. Rio de Janeiro: Nova Era, 2006.

CABALLERO, Alexandre. A Filosofia através dos textos. São Paulo: Editora Cultrix, s/d.

TEICHMAN, Jenny e EVANS, Katherine C. Filosofia - Um guia para iniciantes. São Paulo: Madras, 2009.

LAW, Stephen. Filosofia: Guia Ilustrado Zahar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. (revisão técnica: Danilo Marcondes)

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

DUBOC, Paulo. Astrologia Dinâmica: ângulos e aspectos. Rio de Janeiro: Nova Era, 1998.