quarta-feira, 30 de junho de 2010

Filosofia da História da Astrologia

(Parte 1)

O objetivo desse trabalho é pesquisar e praticar o ato reflexivo e crítico de filosofar, tomando o pensamento e o conhecimento astrológico como fonte de inspiração, para a análise de temas existenciais e metafísicos de alcance variado[1]. Parte do trabalho terá como inspiração o método historiográfico.
Para tanto alguns conceitos preliminares precisam ser definidos e algumas premissas explicitadas.
Para Jenny Teichman e Katherine C. Evans[2], a Filosofia é o estudo de problemas fundamentais, abstratos e muito gerais que dizem respeito (1) à natureza da existência, (2) do conhecimento, (3) da moralidade, (4) da razão e (5) do propósito humano.
Os ramos acadêmicos da Filosofia são:

Metafísica;
Ética;
Filosofia Política;
Filosofia da Ciência e
Lógica (entre outros).

Alexandre Caballero[3] afirma que a Filosofia é a ciência do “por-trás-das-coisas”[4] e das analogias ônticas[5].
Segundo Caballero,

O homem nunca se satisfaz só com as respostas imediatas e experimentais; sempre teve necessidade de ir “além disso”. Ele sabe que existe esse “além disso” e nada poderá impedi-lo de procurar compreender melhor sempre esse além. Quando as outras ciências param, cabe à Filosofia o ônus de continuar adiante na procura da verdade[6].

Para Caballero[7] a Filosofia não é uma ciência, no sentido de “conclusão ou conjunto de conclusões de processos experimentais”, mas pode ser considerada como ciência se essa palavra dizer respeito a “conhecimento certo ou conjunto organizado de conhecimentos certos”[8].
Como ciência do “por-trás-das-coisas”, a Filosofia é um saber do “transcendente”, do “mais além”. Segundo Caballero,

A Filosofia é eminentemente uma ciência metafísica no sentido mais pleno da palavra. Ela vem após e vai além das ciências físicas ou experimentais, muito embora possa ter e tenha na experiência, principalmente na experiência científica, seus principais alicerces ou pontos de partida[9].

A palavra grega “meta” significa “após” e Metafísica quer dizer “o que vem depois da Física”, da materialidade.
A Metafísica surgiu de alguns tratados escritos por Aristóteles sobre a natureza do ser, a natureza da causalidade (do vir a ser) e a natureza do conhecimento. Essa “primeira filosofia” ou Metafísica, pode ser definida como algo composto de (1) ontologia – que é o estudo da natureza da existência e do “vir a ser” – em conjunto com a (2) epistemologia – que é a teoria do conhecimento.
Mas, a Metafísica também indaga sobre a mente, a alma, Deus, tempo, espaço e livre-arbítrio. Por isso, em resumo, a Metafísica é a ciência ou estudo do Ser e do Saber[10].
Para Paulo Duboc, a Astrologia é um saber que encerra uma metafísica, e considerações de ordem filosófica, religiosa, moral, estética e científica, bem como uma corrente de valores empíricos[11].
Citando Dane Rudhyar, Duboc define a Astrologia como uma técnica de “simbolização e prognósticos” na qual algumas categorias de dados astronômicos são utilizados como indicadores fundamentais.
Astrólogos brasileiros de prestígio, como Olavo de Carvalho ou Antônio Carlos Harres, segundo consta na Declaração Brasileira de Astrologia[12] definem “Astrologia” como “toda abordagem e estudo sistemático das relações naturais ou transcendentais entre a vida humana e terrestre e o ambiente cósmico”.
Nesse conceito a Astrologia é considerada uma disciplina integrativa: (1) científica nos seus fundamentos materiais e nos seus processos de verificação; (2) artística na elaboração das sínteses interpretativas; (3) filosófica no seu espírito e na formulação da sua metodologia e (4) transcendental em sua finalidade última e na sua simbologia básica.
Tomando o aspecto filosófico e transcendental da Astrologia, diversos autores apontam o papel significativo que a Astrologia pode ter na compreensão e solução da crise de valores do mundo (pós-)Moderno. Assim, consta na Declaração Brasileira de Astrologia, o seguinte parágrafo:

Consideremos que, face a uma época, que agora finda, marcada pela fragmentação do conhecimento e, portanto, pelo esfacelamento da personalidade humana, o renascimento da Astrologia – disciplina integrativa por excelência, que restabelece os liames entre o indivíduo empírico e a realidade do seu destino cósmico, desde o nível natural até o transcendental – acompanha a tendência, hoje incoercível, à reunificação do conhecimento em todas as áreas e constitui, com ela, uma promessa de reconstrução da integridade do espírito humano e o prenúncio de uma era onde se reconstituam os liames orgânicos entre vida e arte, religião e saber, indivíduo e coletividade[13].

Elizabeth Teissier, já apontava reflexão semelhante ao argumentar que a “Astrologia fornece uma cosmogonia completa ao homem do século XX” [14] (e século XXI, também, na minha opinião).
Segundo Teissier,

... é uma cosmogonia completa o que a Astrologia oferece ao homem do século XX, sedento de absoluto e de unidade (...) não uma cosmogonia totalitária e dogmática, tal como a que, construída sobre a escolástica, oferecia à astrologia da Idade Média (...)
Numa altura destas, em que as diversas ideologias evidenciam demasiado as suas fraquezas e lacunas, em que as religiões tradicionais parecem desembocar numa inadequação em relação aos problemas do nosso tempo, em que as sociedades tecnológicas e as civilizações industriais endeusam o homem animal e esquecem o homem espiritual, o mundo de hoje aspira de novo a uma concepção harmoniosa e sintética do Universo[15].

Segundo a autora, a Astrologia é uma solução para o problema da falta de um sistema filosófico globalista, e para o qual deveríamos reconhecer seu legítimo valor epistemológico.
Nesse sentido, a Astrologia encerra implicitamente uma Filosofia (ou conceito/concepção de filosofia) enquanto (1) cosmovisão de mundo, (2) sabedoria de vida e (3) esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido.
É interessante notar que no meio acadêmico formal, estas concepções de Filosofia já foram criticadas (e rejeitadas), por exemplo, por Marilena Chauí. Essa autora prefere definir a Filosofia como “Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas”, logo, como um saber que se ocupa, cada vez mais, com as condições e os princípios do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro. Porém, como a autora mesma assume, a Filosofia não abandona “as questões sobre a essência da realidade”[16].
Pessoalmente considero que essa “busca da essência”, seja o ponto crucial e basilar que define e/ou unifica todas as reflexões e diferentes opiniões do metaconceito de Filosofia.
Para mim a Filosofia é a busca da essência de todos os conceitos, métodos, e da própria realidade. Essa “essência” é o que ao mesmo tempo “fundamenta” os conhecimentos e práticas (apontadas na definição de Chauí). Esse ponto, na minha opinião, retoma e unifica todas as concepções por ela criticadas (e rejeitadas).
Filosofar é a arte de fazer filosofia, é a própria atividade filosófica em si. Essa é descrita por Chauí, como:

1o) Análise;
2o) Reflexão;
3o) Crítica (Questionamento).

Essas três atividades são orientadas pela elaboração filosófica de significações gerais sobre a realidade e os seres humanos. Podem ser caracterizadas da seguinte maneira:

I) Análise: das condições do conhecimento – ciência, arte, religião, moral;
II) Reflexão: volta da consciência para si mesma para conhecer-se enquanto capacidade para o conhecimento, o sentimento e a ação[17];
III) Crítica: questionamento das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e práticas científicas, políticas e artísticas.

A atitude filosófica ou o “filosofar” pergunta “o que”, “como” e “por que” a coisa, idéia ou valor, é, funciona e existe, como tal. Assim, além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas indagando o que são, qual sua permanência e qual a necessidade interna que as transforma em outras[18].
É, modernamente, a disciplina ou área de estudos que envolve a (1) investigação, (2) argumentação, (3) análise, (4) discussão, (5) formação e reflexão das idéias sobre o mundo, o homem e o ser. A Filosofia originou-se de uma inquietude em questionar o senso comum, opondo-se a seus preconceitos e aceitação tácita de seus juízos apriorísticos, bem como pela curiosidade humana natural.
Uma dúvida filosófica não é o mesmo que uma dúvida comum, trivial. A dúvida filosófica surge quando começamos a refletir sobre como sabemos o que supomos saber[19].
Essa primeira discussão metafilosófica é necessária para retormarmos o projeto ptolomaico do século II d. C., que compreendia a Astrologia como uma forma de conhecimento filosófico racional[20].
São muitas as discussões sobre a (difícil) delimitação e elaboração de uma definição de Filosofia e de seu objeto específico. Definir a Filosofia é realizar uma tarefa metafilosófica , ou em outras palavras, fazer uma filosofia da filosofia. O paradoxo é que a sua definição já exige uma filosofia (ou um “filosofar à priori”)[21].
Para Ptolomeu (séc. II d.C.) a Astrologia é um conhecimento de tipo filosófico, com base racional[22].
Assim, podemos levantar a hipótese de que a atitude filosófica típica do Filósofo (e que de certa forma, encontramos também, num certo contexto com limites, no Psicólogo), é compatível de ser encontrada no Astrólogo, mesmo porque, como afirma Caballero, “... o homem não existe para filosofar, mas filosofa pelo fato de existir como homem. A Filosofia é, assim, a ciência mais humana e também mais humanizante”[23]. Esse conjunto de idéias aproxima a Astrologia da Filosofia e da Psicologia, sem reduzir uma à outra, e sem anular a independência dos seus campos de investigação, promovendo somente uma troca dialética, um diálogo.
A partir desse quadro de referências, sustentamos a proposta de uma abordagem histórico-filosófica da reflexão astrológica, i.e., uma Filosofia da História da Astrologia. Nesse ponto, começaremos com o pensamento grego.

A FILOSOFIA GREGA E A ASTROLOGIA

Segundo Peter Marshall, “várias crenças astrológicas ocidentais, especialmente a respeito da natureza do cosmos, podem ser investigadas até chegar aos filósofos gregos"[24].
Lembrando que existem 4 grandes Escolas de Astrologia:

Astrologia Chinesa;
Astrologia Indiana;
Astrologia do Oriente Médio; e
Astrologia Ocidental (que segundo alguns astrólogos se subdivide em Astrologia Antiga, Tradicional ou Clássica e Astrologia Moderna).

Podemos situar as origens históricas e epistemológicas da Astrologia Ocidental na Filosofia Grega, o que demanda uma compreensão mais profunda desse saber.
Histórica e tradicionalmente, a filosofia se inicia com Tales de Mileto, séc. VI a.C. Ele foi o primeiro dos filósofos pré-socráticos a buscarem explicações de todas as coisas através de um princípio ou origem causal (arché) diferentemente do que os mitos antes mostravam.
Nas explicações míticas, o explicador é tão desconhecido quanto a coisa explicada. Por exemplo, se a causa de uma doença é a “ira divina”, explicar a doença por essa não nos ajuda muito a entender o porque daquela. Assim, a Filosofia Antiga nasceu de uma necessidade de explicar o mundo a partir de uma cosmovisão (mais) racional e realista, prescindindo de explicações mitológicas incompreensíveis ou incognoscíveis.
Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros a fazerem esse movimento tendo como foco a especulação sobre problemas cosmológicos ou cosmo-ontológicos. Suas reflexões buscavam o princípio (ou arché) das coisas. Eram também chamados de “Naturalistas” ou “Filósofos da Physis”[25].
Os Pré-Socráticos formaram algumas “Escolas” ou tendências, entre elas:

1. Escola Jônica;
2. Escola Italiana;
3. Escola da Pluralidade (ou Pluralista) – 2a fase do pensamento pré-socrático[26];

A Escola Jônica caracteriza-se sobretudo pelo interesse pela physis, pelas teorias sobre a natureza, enquanto a Escola Italiana focou-se numa visão de mundo mais abstrata, menos voltada para uma explicação naturalista da realidade, prenunciando em certo sentido o surgimento da lógica e da metafísica, sobretudo no que diz respeito aos eleatas.
Enquanto a Escola Jônica de filosofia tendia a ser materialista e mecânica, a colônia grega no Sul da Itália, em Eléia, formava um grupo bem mais místico de filósofos. Segundo Marshall, a diferença entre as suas visões “científica” e “intuitiva” dos céus ainda divide os astrólogos de hoje[27].
Essa dicotomia é reeditada na abordagem idealista (místico-intuitiva) de Platão e no materialismo imanente (científico) de Aristóteles reverberando por todas as linhas do conhecimento até hoje, incluindo a Astrologia. Numa visão junguiana moderna essa dicotomia tem origem, segundo se supõe, em diferenças de temperamento daqueles que defendem um lado ou outro da questão, incluindo os próprios criadores de tais posições.
Seja como for, voltando aos pré-socráticos, os milésios da Escola Jônica, como Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes (também de Mileto), apresentaram o problema do movimento e suas primeiras soluções.
Tales acreditava que as coisas têm, por trás de si, um princípio físico (physis), material, chamado arqué. Para ele, o arqué seria a água. Anaximandro de Mileto, contemporâneo de Tales (no século VI a.C., aproximadamente) considerou a physis como sendo o apeiron, um princípio ilimitado e indeterminado. Já Anaxímenes pensava que a origem de todas as coisas seria o ar ou o vapor (pneuma). Para Xenófanes, o elemento primordial é a terra, enquanto Heráclito achava que seria o fogo.
Assim, os filósofos naturalistas acreditavam na existência de uma substância básica única, que seria a origem de todas as coisas. Mas, isso deixava sem solução o problema da mudança: como poderia uma substância se transformar repentinamente em outra coisa?
Por volta de 500 a.C., um grupo de filósofos (mais “místicos”) começaram a se interessar por esse ponto do debate. Eram um grupo da colônia grega de Eléia, no sul da Itália, chamados de Eleatas (pertencentes, portanto, à Escola Italiana) .
Enfatizando a importância do Ser, os eleanos ou eleatas acreditavam que a mudança física era ilusória, defendendo que o Universo era uma unidade criada e guiada por uma única inteligência, um deus único (monoteísmo).
Parmênides de Eléia, no século V a.C. propunha que a despeito das mudanças aparentes da matéria, nada realmente muda. Ele foi o fundador da escola Eleática e defendia que não podemos confiar em nossas percepções sensoriais, mas sim na razão, faculdade pela qual ele deduzia sobre a imutabilidade essencial do mundo. Ele foi o primeiro a propor um dualismo sistemático de aparência e realidade[28], e se opunha aos milésios e, principalmente, a Heráclito.
Heráclito de Éfeso, na Ásia Menor, propôs que a matéria básica do Universo seria o fogo, e a mudança constante (o fluxo) seria o fundamento da natureza. Para ele, tudo muda, todas as coisas fluem, e “não entramos duas vezes no mesmo rio”. Heráclito acreditava mais na percepção, ao contrário de Parmênides, que se lhe opunha.
Esses primeiros pensadores gregos podem ter lançado os fundamentos da Astrologia (e da Astronomia) Ocidental.
Tales chegou a prever um eclipse, cuja interpretação astrológica ajudou a evitar uma guerra entre os medas (sudoeste do Mar Cáspio) e os lídios (Ásia Menor, atual Turquia), por volta de 585 a.C[29]. Segundo Heródoto, esse seria um eclipse do Sol. Ainda, para provar o valor do seu saber, Tales teria aplicado seu conhecimento dos astros para prever uma boa colheita de azeitonas. Assim, ele comprou todas as prensas de azeitona locais e lucrou alugando-as aos plantadores para atender à demanda[30].
Anaximandro, cerca de 610 a.C. , alegou que os planetas viajavam em esferas separadas (suas órbitas) que constituíam o céu. Essa visão astrológica subsistiu até a Revolução Científica do século XVIII, e teve como colorário a noção de “recorrência eterna” que viria a se tornar um conceito-chave (ciclicidade) na Astrologia Ocidental.
Anaxímenes, por sua vez, considerava as estrelas como objetos fixos num céu “de fundo” que girava em torno da Terra. O “céu inteiro” girava, não as estrelas, que ficavam “penduradas” nesse “telhado” do céu. Essa crença também se manteve até o século XVII, e o telhado do céu seria formado por esferas cristalinas (já citadas por Anaximandro).
Heráclito de Éfeso, cerca de 500 a.C., como os antigos chineses taoístas, enfatizou a importância do Vir-a-Ser, e imaginou que o fluxo contínuo e perpétuo da mudança ocorria pela reconciliação de opostos. Essa visão tornou-se o cerne da concepção astrológica dos signos positivos e negativos do zodíaco[31]. Para todo o fluxo da vida havia a unidade na diversidade do mundo.
A Filosofia Grega é vista pelos estudiosos europeus como racionalista, mas os próprios gregos reconhecem contribuições da Mesopotâmia e do Egito, além dos mistérios órficos. A Grécia Clássica dos séculos V e IV a.C. (período contemporâneo dos filósofos mencionados anteriormente) provavelmente conhecia e apreciava a Astrologia praticada no Oriente Próximo e no Norte da África.
Homero, Tales, Pitágoras e Platão foram instruídos nos templos egípcios. E por volta do século V a.C., a antiga crença egípcia de que a alma dos mortos se conectava com as estrelas estava bem estabelecida na Grécia[32]. Mas, a influência da Mesopotâmia havia atingido a Grécia antes disso, em meados do século VIII a.C.
Após as invasões da Grécia pelos persas, no primeiro quarto do século V, os contatos culturais entre os dois povos continuaram filtrando as idéias indianas, babilônicas e egípcias. As previsões dos sacerdotes caldeus eram considerados muito precisas[33].
Essas observações expandem as origens da Astrologia Clássica para antes dos Filósofos Gregos, de modo que o seu estudo a partir do período pré-socrático se justifica apenas como um artifício didático, pois teríamos que investigar as origens egípcias e mesopotâmicas da Astrologia Ocidental, para sermos mais exatos e fidedignos.
Isso pode ser feito depois. Assim, avançando no tempo ao invés de retrocedermos, chegamos a Pitágoras de Samos, nascido em 570 a.C., aproximadamente. Especula-se sobre uma possível influência egípcia no seu pensamento, já que ele defendia uma concepção de imortalidade e transmigração (metempsicose) da alma.
Convencido de que os números eram a chave para a compreensão do universo[34], atribuiu valores matemáticos às relações entre os corpos celestes. Seus discípulos – os pitagóricos – combinavam o amor pela matemática com a visão mística do absoluto. Eles desenvolveram e ampliaram a doutrina da recorrência eterna de Anaximandro, ao declararem que tudo voltaria na mesma ordem numérica[35].
Assim, quando todos os planetas retornam a uma posição similar em relação às estrelas fixas, o Grande Ano se completa. Essa idéia é precursora do nosso atual conceito de Retorno ou Revolução (ou seja, o retorno de qualquer planeta para a posição que ele ocupava no zodíaco no momento do nascimento). Porém a concepção clássica dos pitagóricos já era defendida pelos antigos mesopotâmios e egípcios.
Atribui-se, ainda, a Pitágoras a descoberta de que as antigas designadas estrelas da manhã e da tarde são o mesmo planeta, Vênus[36].
A maior contribuição de Pitágoras para a Astrologia é a de que o universo pode ser explicado pelos números. No século XVII, Galileu acreditou que o universo era reduzível a um número e Kepler baseou suas teorias dos movimentos planetários na geometria pitagórica. Na astrologia ocidental, a convenção de o 4 representar a “Casa” é devido ao fato de os pitagóricos considerarem o 4 como o número da estrutura[37].
O pitagórico Filolau de Crotona (470-390 a.C., aproximadamente) conhecia a divisão duodecimal do zodíaco por volta de 430 a.C. A doutrina pitagórica da perfeição universal postulava que as órbitas planetárias se davam em círculos perfeitos, embora Filolau, sem rejeitar a teoria em questão, observou que vistas da Terra, tais órbitas pareciam irregulares. Ele rompeu com a visão geocêntrica da Terra, antes de Copérnico, mas em sua visão astronômica antiga, achava que a Terra, o Sol e os outros planetas giravam ao redor de um “fogo central”. Com isso tentava explicar a irregularidade “aparente” das órbitas planetárias, sendo o primeiro filósofo grego a compreender que a Terra se move no espaço, e a distinguir entre o movimento diurno e anual dos planetas.
Méton, um contemporâneo de Filolau, tentou reformar o calendário em Atenas, por volta de 432 a.C. (século V a.C.), baseado nos modelos babilônicos.
Chegamos, então, no mais influente filósofo pitagórico, Empédocles de Agrigento, na Sicília (495-430 a.C.). Sua principal contribuição foi popularizar a doutrina dos 4 elementos – fogo, terra, ar e água – tão cara à Astrologia Antiga e Moderna, bem como à medicina antiga e medieval.
Vimos que os filósofos gregos pré-socráticos argumentavam que o universo físico era formado por um elemento fundamental: Tales, declarou que esse elemento era a água, Anaximandro o apeiron, Anaxímenes o ar, Heráclito o fogo, e Xenófanes a Terra.
Empédocles, contudo, defendeu que todas as coisas, incluindo os seres humanos, eram compostos por combinações dos 4 elementos. Fogo, terra, ar e água estariam em um estado permanente de fluxo, combinando-se entre si de modos diferentes para montar a vasta diversidade do universo[38].
Os astrólogos, então, assumiram a teoria dos 4 elementos de Empédocles e os associaram aos signos do zodíaco e às Casas Astrológicas.
Na medicina Antiga, o conceito dos 4 elementos foi resgatado por Hipócrates (nascido em 460 a.C.), que os associou aos 4 “humores” ou condições do corpo, cujo desequilíbrio entre eles resultava em vários tipos de doenças. Como esses humores são, na verdade, tipos de “temperamentos” de personalidades, essa teoria pode ser a base distante do que hoje conhecemos como abordagem psicossomática.
Os quatro humores ou “temperamentos” como fluidos corporais foram associados, especialmente na Idade Média, a determinados tipos psicológicos:

1) Sangüíneo – preponderância de sangue e associado ao ar;
2) Fleumático – fleuma/água;
3) Colérico – amarelo/fogo;
4) Melancólico – bílis negra/terra.
Hipócrates lançou, com essa teoria, as bases da Astrologia Médica, conhecida pelos gregos de iatromathematica. Hipócrates antecipou a chamada homeopatia e a “medicina holística”.

(CONTINUA...)

NOTAS

[1] Como veremos, esse caminho de investigação deve aproximar o diálogo entre Filosofia, Astrologia e Psicologia, dentro de uma noção comum que poderia ser denominada Hermenêutica Filosófica.
[2] Jenny Teichman, Filosofia: um guia para iniciantes, p. 11.
[3] Alexandre Caballero foi ex-professor titular de Filosofia Geral e da Educação da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
[4] Alexandre CABALLERO, A Filosofia através dos textos, p. 18.
[5] Ontologia é a ciência que estuda a natureza do “ser” enquanto ser, considerado em si mesmo, independente da matéria e da especulação da essência. É a parte da metafísica que trata dos entes em geral.
[6] Alexandre CABALLERO, A Filosofia através dos textos, p. 18.
[7] Ibid., p.18.
[8] A despeito dessa concepção de ciência parecer genérica demais, é nesse sentido que a Astrologia também pode começar a ser considerada como uma ciência.
[9] Alexandre CABALLERO, A Filosofia através dos textos, p. 18.
[10] Jenny Teichman, Filosofia: um guia para iniciantes, p. 11,12.
[11] Paulo DUBOC, passim
[12] Marilha Maneschy Suzuki, Astrologia no Brasil, p. 123.
[13] Ibid. p. 124.
[14] Elizabeth TEISSIER, O Significado da Astrologia, p. 246.
[15] Ibid., p. 246.
[16] Marilena CHAUÍ, Convite à Filosofia, p.17.
[17] Provavelmente, dessa orientação intelectiva aplicada funcionalmente na vida prática, que podemos contextualizar o surgimento da Psicologia, enquanto projeto científico. A Psicologia, sinteticamente, nesse sentido, é uma aplicação utilitária bem-sucedida, da atitude filosófica, sobre o comportamento humano. Por isso também, seus paradigmas epistemológicos guardam relações de simpatias mútuas.
[18] Marilena CHAUÍ, Convite à Filosofia, p. 17.
[19] Stephen LAW, Filosofia: Guia Ilustrado Zahar, p. 51.
[20] Cf. Roberto de Andrade Martins, A influência de Aristóteles na obra astrológica de Ptolomeu (o “Tetrabiblos”). Trans/Form/Ação 18: 51-57, 1995
[21] Esse paradoxo torna-se inteligível se compreendermos que (1) não há como se definir sem que se tenha alguma compreensão dada de definição do mesmo modo que, (2) não há como responder adequadamente a uma pergunta, se não partimos de uma compreensão dada de pergunta e resposta.
[22] Cf. Roberto de Andrade Martins, passim.
[23] Alexandre CABALLERO, A Filosofia através dos textos, p.18.
[24] Peter MARSHALL, A Astrologia no Mundo, p. 262.
[25] Aqui, o termo “natureza” não era entendido no seu sentido corriqueiro, mas sim como “realidade primeira, originária e fundamental” ou “o que é primário, fundamental e persistente” em oposição ao que é “secundário, derivado e transitório”.
[26] Danilo Marcondes, Iniciação à História da Filosofia, p.31.
[27] Peter MARSHALL, A Astrologia no Mundo, p. 263.
[28] Stephen LAW, Filosofia: Guia Ilustrado Zahar, p.239.
[29] Peter Marshall, Astrologia no Mundo, p 263.
[30] Stephen LAW, Filosofia: Guia Ilustrado Zahar, p. 232.
[31] Peter Marshall, Astrologia no Mundo, p. 262-264.
[32] Ibid., p. 261.
[33] Ibid., p. 262.
[34] Para Pitágoras, diferentemente das verdades sobre o mundo físico, as verdades matemáticas são eternas. Embora a matemática tenha aplicações empíricas, o raciocínio matemático (e dedutivo) preciso lida com um mundo superior de objetos supra-sensíveis.
[35] Peter Marshall, Astrologia no Mundo, p. 265.
[36] Stephen LAW, Filosofia: Guia Ilustrado Zahar, p. 234.
[37] Peter Marshall, Astrologia no Mundo, p. 265.
[38] Ibid., p. 266.

Referências Bibliográficas

MARSHALL, Peter. A Astrologia no Mundo: uma visão histórica para entender melhor a personalidade humana. Rio de Janeiro: Nova Era, 2006.

CABALLERO, Alexandre. A Filosofia através dos textos. São Paulo: Editora Cultrix, s/d.

TEICHMAN, Jenny e EVANS, Katherine C. Filosofia - Um guia para iniciantes. São Paulo: Madras, 2009.

LAW, Stephen. Filosofia: Guia Ilustrado Zahar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. (revisão técnica: Danilo Marcondes)

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

DUBOC, Paulo. Astrologia Dinâmica: ângulos e aspectos. Rio de Janeiro: Nova Era, 1998.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Astrologia Preditiva – Análise Crítica e Observações Históricas

O objetivo desse texto é realizar comentários gerais sobre Astrologia Preditiva, uma área de especialização da Astrologia voltada para a realização de previsões de acontecimentos humanos e naturais, de uma forma geral.
O mapa de nascimento (ou mapa natal) é um instantâneo da visão particular do Céu em um momento dado a partir de um local específico da Terra, mostrando as promessas para a vida pessoal. Porém, como no Universo nada está parado, a Astrologia Preditiva utiliza várias técnicas para acompanhar o movimento do Mapa Natal, a partir do momento em que foi feito o seu “retrato congelado”, para adiante[1].
Como afirma Nezilda Passos, “o mapa natal é uma fotografia do cosmo no momento do nascimento. No entanto, estes planetas estão em eterno movimento, ao som da música das esferas, deslocando-se no zodíaco”[2].
As previsões, em astrologia, são baseadas nos movimentos cíclicos dos planetas. Para se fazer um trabalho de previsão na Astrologia, o profissional deve desenvolver um raciocínio cíclico.
A lógica utilizada em previsões é ao mesmo tempo, intuitiva e empírica. Observam-se os fenômenos humanos e terrestres do passado, nas épocas em que os planetas estavam em um determinado ponto de seu movimento cíclico. Por ser um ciclo, esses movimentos delineiam uma marcha repetível que pode ser acompanhada e observada. Esse fato, inclusive, atende uma exigência da validade científica: a repetição experimental e a possibilidade de sua confirmação empírica.
Quando esses pontos do ciclo estão para terem seus movimentos repetidos, com a base empírica comparativa das outras épocas repetidas do passado, sabendo-se a história desses momentos, podemos deduzir por analogia o que deverá ocorrer no futuro ponto de reencontro desses ciclos, com alta probabilidade.
Existem ciclos menores – facilmente rastreáveis em seu passado imediato – e ciclos maiores, que exigem uma pesquisa mais profunda, podendo inclusive, utilizar-se de métodos científicos como os existentes em ciências como história, arqueologia e antropologia, que também estudam o passado.
É interessante observar que a Astrologia Preditiva deve se voltar à observação de fatos e comportamentos passados (correlatos ao delineamento de ciclos planetários já vivenciados), para poder deduzir probabilidades, previsões e possibilidades futuras quando esses ciclos se repetem.
A própria História, e outras ciências sociais como a Sociologia ou a Economia já perceberam, usando seus próprios métodos, que os fatos históricos e sociais se dão seguindo ritmos cíclicos. Por exemplo, momentos de rebelião ou revolta social se intercalam com momentos de acomodação e calmaria. Momentos de progresso e abundância econômica são intercalados com grandes crises e quedas, o mesmo ocorrendo no terreno político, entre ciclos de momentos “democráticos” e ciclos “autoritários”. Alguns estudos longitudinais, baseados em observações de longo prazo, sugerem que esses eventos se intercalam seguindo ciclos. Esse terreno é muito fértil para a causalidade e a sincronicidade cíclica da lógica astrológica.
Até que ponto podemos ter alguma certeza de que os fenômenos ou os fatos que ocorreram no passado, em certo ponto de um ou mais ciclos astrológicos, irão se repetir quando esses ciclos retornarem aos mesmos pontos? A observação empírica mostra que os eventos “tendem” a se repetir, porém, há fatores de livre-arbítrio e contexto que modulam essas tendências. Além disso, os ciclos podem se repetir em “estados evolutivos” mais avançados, ou menos. Há fatores de experiência e aprendizagem, individual e coletiva, que foram elaborados nos ciclos anteriores, de forma que a repetição de um ciclo, provavelmente não irá ser vivenciada da mesma forma.
Por fim, como cada planeta tem uma velocidade própria, definindo ciclos de variados tamanhos de amplitude e tempo de duração, muitas combinações de ciclos se tornam possíveis, produzindo um amálgama de tendências sistêmicas. Os vários ciclos formam um arranjo em “rede”.
Tudo isso impede que o destino se formalize como um evento pré-determinado, cristalizado e estanque. Pode haver uma “programação” multideterminada de tendências de destino, com várias possibilidades e caminhos que seguem uma “matriz”, uma “estrutura” ou um “arquétipo” identificável. Há a possibilidade da previsão, mas não há uma determinação linear, “reta”, “ponto-a-ponto”.
A lógica previsional na Astrologia é probabilística, e não fixamente determinística. A lógica probabilística é comum em outras ciências que também fazem previsões, nos seus respectivos campos de conhecimento, como a meteorologia, a medicina, a economia, a sociologia, a física, a matemática, a estatística, etc. A previsão é um procedimento comum na ciência, mas nenhuma dessas se adjudicam o status de infalibilidade, aceitando a existência de um desvio padrão ou margem de “erro”.
Com a Astrologia, podemos constatar o mesmo processo. Suas previsões não são infalíveis e também comportam uma margem de “erro”, pequena é verdade, mas não inexistente. Porém, em função das especificidades e questões filosóficas e existenciais que a Astrologia levanta, essa margem de “erro” pode ser compreendida num outro sentido, como uma margem de “indeterminação”, que na verdade, possibilita um campo de livre-arbítrio, um âmbito de possibilidades “não-previstas” e de certo “movimento” ou “mobilidade”.
Em termos epistemológicos[3], essa “margem de indeterminação” teria seu fundamento no postulado probabilístico do “Princípio de Incerteza” de Werner Heisenberg, prêmio Nobel de Física, que mostrou que muitos eventos naturais se desenvolvem seguindo um processo não-determinístico, de amplos espectros de possibilidade. Ele mostrou isso no circunspeto universo do mundo subatômico. Porém, seu Princípio de Incerteza aplicado às Filosofias do Conhecimento (epistemologia), da Existência e da Cosmologia, é um postulado adicional que apóia o axioma do livre-arbítrio e se coaduna com a lógica probabilística da Astrologia Preditiva. O pensamento probabilístico é um algoritmo do pensamento científico moderno que se contrapõe ao determinismo linear configurado em outras épocas do passado, tanto na filosofia antiga como na metafísica, ou mesmo, nos paradigmas da ciência clássica newtoniana.
A prática de previsão na Astrologia é feita usando e combinando várias técnicas – as progressões ou direções, trânsitos, lunações e eclipses, revoluções, ciclos e outras – que compõem uma conclusão de probabilidade.
As progressões são prioritárias. Elas dão partida no processo interpretativo, e também a sua direção. Apontam as mudanças que se desenvolvem na vida, mostrando como se desenrola o processo de evolução pessoal. As primeiras progressões chamadas de Progressões Primárias foram criadas por Ptolomeu, no século II.
Claudio Ptolomeu compilou o conhecimento astrológico dos egípcios, caldeus e gregos, parcialmente fragmentado com a triste destruição de grande parte da fabulosa e gigantesca Biblioteca de Alexandria. Ptolomeu concluiu essa compilação no século II d.C., em sua grande obra, chamada Tetrabiblos. Até hoje é considerada a “Bíblia da Astrologia” e permitiu um resgate de várias teorias e técnicas da Astrologia, e a criação de outras naquela época. Astrólogos de séculos posteriores fizeram várias revisões do saber astrológico tomando como ponto de partida essa obra.
Foi no Tetrabiblos que Ptolomeu apresentou a técnica das Direções ou Progressões Primárias. Procurando aprimorar o seu método, vários matemáticos de renome estudaram a sua técnica, como o alemão Regiomontanus, o italiano Campanus, o incrível francês Morin de Villefranche, além de Placidus, Nabolda e Maginus. Todos esses grandes matemáticos estavam preocupados em encontrar formas de simplificar o cálculo das progressões primárias, pois essas exigiam um amplo conhecimento de trigonometria esférica, constituindo-se numa técnica de maior dificuldade.
A técnica reinou sozinha desde o século II, durante quinze séculos, ou seja, até o século XVII quando, então, a formulação das Leis de Kepler possibilitaram o cálculo do movimento dos planetas. Com isso matemáticos como Antônio Maginus e Valentino Nabolda, estudando as direções de Ptolomeu, procuraram simplificá-las e conseguiram elaborar as chamadas Progressões Secundárias, de cálculo muito mais simples e alternativas técnicas mais ricas, que a fizeram ser bem mais utilizadas.
As progressões primárias baseiam-se na premissa matemática de que “quatro minutos de tempo sideral correspondem a um ano de vida”. Assim, seis horas (360 minutos) corresponderão há uma vida de noventa anos. O fundamento matemático-simbólico das progressões secundárias é diferente e considera “cada dia após o nascimento correspondente a um ano de vida”. Essa premissa matemática permitiu um cálculo diferente, mais simples, com o apoio da regularidade das Leis de Kepler, que não eram conhecidas por Ptolomeu, no século II. A descoberta das Leis de Kepler foram fundamentais para a formulação das Progressões Secundárias.
As progressões primárias tinham um inconveniente de cálculo. Elas exigiam um conhecimento exato e inequívoco da hora de nascimento. Como as situações e fatos da vida, numa previsão, ocorriam muito próximas da data da direção ou progressão, a falta de precisão encontrada nas horas de nascimento, ocorrida por qualquer motivo (e mais comuns do que normalmente se pensa), provocaria diferenças de três meses para cada minuto de erro.
Na verdade, esse inconveniente permaneceu nas progressões secundárias, porém, como o seu cálculo é mais simples e fácil, a técnica se mostrou eficaz para realizar outro procedimento denominado Retificação Horária, um processo técnico que permite fazer correções no cálculo de horário de nascimento. A técnica de cálculo de Retificação Horária se tornou tão importante, que atualmente ela é imprescindível para a confecção profissional de mapas astrológicos.
Tanto as progressões primárias quanto secundárias podem ser Diretas ou Conversas, e essas devem ser usadas em conjunto. As progressões primárias são Diretas quando o movimento é calculado no sentido do semi-arco diurno, do Ascendente para o Meio-do-Céu, e Conversas quando no sentido do semi-arco noturno, do Ascendente para o Fundo-do-Céu.
Por sua vez, as progressões secundárias são Diretas quando a contagem projetada para o futuro é realizada para cada dia após o nascimento, como correspondente a um ano; e nas Conversas, a contagem de dias, para cada ano, é feita do nascimento para trás. Aqui, as Conversas também são chamadas de Progressões Pré-Natais.
Como dissemos, as Progressões Secundárias têm sua origem nos estudos de grandes matemáticos para a simplificação do cálculo das Primárias. Essas não deixaram totalmente de serem usadas, mas a maioria dos astrólogos profissionais utilizam mais (ou somente) as Progressões Secundárias, que inclusive são as adotadas e ensinadas em cursos de formação de Astrologia. Salientamos que além de mais fáceis, as Progressões Secundárias são (paradoxalmente) mais ricas tecnicamente. Isso mostra o sucesso dos matemáticos do século XVII, Placidus, Maginus e Nabolda.
Outro diferencial das Progressões Secundárias é que elas utilizam o movimento real diário dos planetas e cúspides, sendo que suas posições progredidas dão origem ao Mapa Progredido Secundário. A utilização do movimento real diário na Progressão Secundária traz características específicas para essa técnica, como a possibilidade da mudança de movimento de todos os planetas em relação à condição natal, bem como a função da Lua, muito especial nesta progressão[4].
Os luminares (Sol e Lua) e planetas progridem segundo um ritmo de movimentação diário, que é mostrado a seguir[5]:

Sol 59´ 30”
Lua 13o 30´
Mercúrio 1º 19´
Vênus 1º 15´
Marte 0º 38´
Júpiter 0º 05´
Saturno 0º 04´
Urano 0º 03´
Netuno 0º 02´
Plutão 0º 01´

Pela tabela observamos que a Lua progride rapidamente, enquanto o Sol, Mercúrio e Vênus, progridem em ritmos mais próximos (o Sol progride um pouco mais devagar). Marte, com seu ritmo, parece ser um intermediário entre os outros planetas pessoais (Sol, Lua, Mercúrio e Vênus) e os planetas sociais (Júpiter e Saturno) e transpessoais (Urano, Netuno e Plutão). Esses cinco planetas “exteriores” progridem num passo bem mais lento.
Por isso Beranger afirma que,

Quanto à direções, são consideradas apenas as formadas pela progressão do Sol, Lua, Mercúrio, Vênus e Marte e dos eixos Ascendente/Descendente, Meio do Céu/Fundo do Céu, porque sendo o movimento diário dos planetas sociais e transpessoais muito pequeno, suas direções durariam muitos anos, já que o orbe utilizado aqui é de um grau (para a aproximação e para a separação do aspecto exato). Por este motivo, as direções formadas pelos planetas lentos progredidos são consideradas apenas quando em orbe exato de grau e minuto, o que só ocorre em um ano específico[6].

As progressões são chamadas, por muitos astrólogos, de direções. Isso é uma herança da prática das Progressões Primárias, mas nas secundárias, como aponta Alan Leo, esses termos devem ser diferenciados. Para ele, Progressão é a movimentação dos pontos e planetas que constituem o Mapa Progredido em dada ocasião, enquanto Direções são os aspectos formados pelos planetas e pontos (Asc., MC) progredidos com as posições do Mapa Natal[7].
Nesse sentido, a autora propõe levar em consideração as direções formadas pelo (1) Sol, (2) Lua, (3) Mercúrio, (4) Vênus, (5) Marte, (6) Ascendente/Descendente e (7) Meio-do-Céu (MC)/Fundo-do-Céu (IC), todos progredidos, com as posições originais do Mapa Natal, desde o Sol até Plutão (natais).
Muitos astrólogos acham suficiente utilizar apenas quatro pontos ou localizações progredidas – Sol, Lua, Ascendente e Meio-do-Céu progredidos em aspecto com os planetas do mapa natal. Nesse caso, consideram a Progressão Direta e Conversa (Pré-Natal), ou seja, consideram as direções do Sol Progredido Direto e do Sol Pré-Natal, da Lua direta e conversa, e do Asc. e MC diretos e pré-natal. Temos assim, oito pontos de direções a considerar (e não só quatro), com os 10 planetas do Mapa Natal, além do Asc. e MC radical. Isso forma um número grande de combinações possíveis a ser analisado, ao longo das evoluções anuais. A observação empírica mostra que isso já é suficiente[8].
Depois do surgimento das Progressões Secundárias no século XVII, outros esforços foram feitos na busca de simplificações. Simonite sugeriu no século XIX, que fosse considerado o movimento preciso do Sol progredido secundário para aplicá-lo a todos os planetas do mapa. Com isso ele lançou o cálculo de progressões mais simples de todos, e de mais fácil execução. Essas progressões ficaram conhecidas pelo nome de Progressões Simbólicas, pois sua característica é a projeção fictícia homogênea do movimento de todos os planetas do mapa (independente da marcha real de cada ponto ou planeta), seguindo obrigatoriamente, a marcha real de progressão de um único astro – o Sol.
As Progressões Simbólicas tiveram suas primeiras pesquisas no século XVII com Valentino Nabolda (os ingleses mudaram seu nome para Naboid), sua elaboração, aplicação e divulgação com Simonite no século XIX, e um desenvolvimento e aprimoramento, no século XX, com Sepharial e Vivian Robson.
As Progressões Simbólicas também partem da consideração de que “um dia equivale a um ano de vida”, entretanto essa base é aplicada sobre um movimento único, onde tanto os planetas quanto os ângulos progridem “imaginariamente” (simbolicamente) em função do movimento diário do Sol. Ou seja, nessa progressão, todos os planetas, ou o mapa todo, é movimentado de forma fictícia, até a formação de um desenho ou mapa final – o Mapa de Direções Simbólicas. Aqui, todo o conjunto movimenta-se “projetivamente”, de maneira igual ou uniforme, sobre o zodíaco.
Existem quatro tipos de Progressões Simbólicas sempre baseados no movimento do Sol, sendo duas personalizadas e duas não-personalizadas. São elas:

1. Passo do Sol;
2. Arco Solar;
3. Grau por Ano; e
4. Arco Naboid.

As duas primeiras – Passo do Sol e Arco Solar – são classificadas como personalizadas, enquanto as outras duas – Grau por Ano e Arco Naboid – são não-personalizadas.
O Passo do Sol toma como base o movimento do Sol no dia do nascimento, e aplica essa marcha uniformemente para todos os outros anos. A marcha do Sol no dia do nascimento é específica (“personalizada”) e é identificada ou informada nas efemérides para esse dia. Ela é, então “fixada” e ficticiamente considerada como constante e aplicada para cada ano seguinte da vida, mesmo que concretamente a marcha do Sol tenha se modificado nos anos seguintes.
A Direção por Arco Solar utiliza o arco preciso do Sol do nascimento até à sua posição progredida para uma determinada idade. Ela foi sugerida por Simonite, e foi adotada no início do século XX pelas escolas alemãs de Reinhold Ebertin e Alfred Witte, e pelo inglês Charles Carter.
Grau por Ano é uma direção que apenas move UM GRAU por ano, todos os pontos e planetas, e é de tão fácil aplicação e visualização, que pode ser delineada com uma “passada de olhos”. Muito útil para uma primeira avaliação rápida, por outro lado, é a menos precisa.
A Direção pelo Arco Naboid (em homenagem a Valentino Nabolda) ou Sistema Radix, como também é chamada essa direção, tem como base o passo médio diário do Sol, que anda 59´08” por dia, sendo aplicado simbólica ou ficticiamente a todos os pontos do mapa. Foi criado na Inglaterra por Sepharial e Vivian Robson, ao mesmo tempo que a Direção por Arco Solar era efetivada pela escola alemã, no início do século XX.
Os astrólogos profissionais utilizam uma entre essas quatro opções, que adotam como padrão. Elas são consideradas válidas até hoje. Mas, as Direções Personalizadas parecem ser um pouco mais precisas. O Grau por Ano é de aplicação fácil, imediata e até mesmo visual, mas é a menos precisa. A Progressão Simbólica por Arco Solar parece ser a mais precisa. Na verdade, ela é exatamente o mesmo Sol das Progressões Secundárias. Sua utilidade foi comprovada pela pesquisa empírica das escolas alemãs de Hamburgo e Reinhold Ebertin. Isso tem feito a Direção por Arco Solar ser a progressão simbólica mais indicada das quatro, pelos astrólogos, após uma primeira olhada rápida (e opcional) com a Direção de Grau por Ano.
O francês Henri Gouchon, resistente ao uso das Direções Simbólicas, e o inglês Charles Carter, defensor dessas, apesar de suas divergências, concordam que se use mais de um tipo de progressão, e principalmente, que as conjuguem com outras técnicas preditivas como os trânsitos, lunações e eclipses.
A diferença básica entre os Trânsitos e as Progressões reside no fato de que os trânsitos são movimentos que utilizam o tempo real, enquanto as progressões consideram um tempo simbólico. Além disso, os trânsitos apresentam o Céu em movimento mais rápido enquanto as progressões, comparativamente, o apresentam em movimento bem mais lento.
Para muitos astrólogos os trânsitos são o mundo exterior afetando a pessoa, ao passo que as Progressões são mudanças de nossa consciência interior, ocasionando as mudanças correspondentes no ambiente. Celisa Beranger precisa que as progressões são consideradas interiorizadas ou subjetivas, e os trânsitos são responsáveis pela expressão externa dos processos internos de transformação gerados pelas progressões[9].
Segundo a australiana Bernadette Brady, “as progressões parecem manifestarem-se primeiro como sentimento ou necessidade, para então aparecerem como ação[10]. Os trânsitos aparecem como indicadores da maneira como esses processos são expressos no mundo.
Morin de Villefranche considerava a ação das progressões como mais “precisa” que a dos trânsitos. Porém, enfatizava que o mais comum é que a “maior parte dos trânsitos reforce ou determine a realização das progressões”[11].
Essa observação de Jean Baptista Morin de Villefranche é muito importante, pois é essa a orientação seguida pela maioria dos astrólogos: identificam-se as progressões de uma certa data ou período de tempo, depois procuram-se os trânsitos, lunações e outros pontos que confirmem as direções dadas pelas progressões. Tudo isso sempre considerado em relação ao mapa natal.
Corroborando esse procedimento em relação aos trânsitos e progressões, Ronald Davison (assim como Villefranche) considera que “os trânsitos são parte integrante das progressões, uma extensão lógica e um desenvolvimento da idéia básica do sistema, e não um processo externo à técnica de progressão”. E assim, o americano Steven Forrest conclui assertivamente: “Usar trânsitos sem progressões é como voar sem instrumentos em um nevoeiro”[12]. Infelizmente, esse é um erro comum de astrólogos iniciantes e estudantes autodidatas.
A exceção é dada para os trânsitos de Urano, Netuno e Plutão, que por serem trânsitos de longa duração (2, 4 e 5 anos respectivamente, em média) possuem o mesmo peso de direções[13] marcantes.
Trânsitos dos planetas sociais – Júpiter e Saturno – têm a mesma importância das direções da Lua Progredida Secundária ou das Direções Primárias Fracas[14]. Em geral, os trânsitos dos planetas sociais e as direções da Lua Progredida tratam de prognósticos astrológicos de curto e médio prazos (envolvendo um, dois, três ou quatro meses, em média).
Podem ocorrer das direções progredidas se encontrarem em sentidos diferentes dos trânsitos. Nesse caso, a preferência é dada para a direção dos aspectos indicados pelas progressões. Predominam as progressões preferencialmente.
Para direções progredidas fáceis (trígonos e sextis) e trânsitos difíceis (quadraturas e oposições), o período em questão, é considerado importante para o futuro e para que a pessoa possa sair-se bem, mas pode ocorrer algum problema ou dificuldade momentâneo. Mesmo assim, a pessoa consegue o seu intento, ou no máximo, se o resultado não for obtido nessa ocasião, pode ser adiado um pouco, mas é provavelmente ou parcialmente atingido.
Com direções (ou progressões) difíceis, mesmo havendo trânsitos favoráveis, o que ocorre é que no período podem se apresentar oportunidades favoráveis, porém a pessoa não está em condições de aproveitá-las ou ocorrem resultados que não permanecem. Também existe a possibilidade de ocorrerem revezes em situações que começaram bem.
Podemos concluir que as progressões dão o tom do resultado final previsto: com boas progressões enfrentamos bem trânsitos tensos, mas com progressões difíceis podemos não saber aproveitar trânsitos que seriam fluentes ou favoráveis.
Por outro lado, trânsitos isolados indicando uma situação, sem a presença de direções ou progressões que o apóiem, podem simplesmente não se concretizarem (ou seja, não ocorre nada), ou quando ocorrem e se concretizam de alguma forma, seu efeito é passageiro e pouco significativo. Por isso, astrólogos amadores e estudantes iniciantes se decepcionam quando ignoram ou desconhecem a importância das progressões, e acompanham um trânsito que não resultou em nenhum acontecimento. Geralmente, eles não viram se existia alguma direção que apoiasse aquele trânsito.
Os antigos já haviam observado: acontecimentos importantes estão sempre marcados em várias técnicas – progressões, trânsitos, lunações e revolução solar – e todas devem indicar a mesma coisa, porque uma indicação isolada pode ser apenas uma tendência que não se realize. Esse é um axioma fundamental da Astrologia Preditiva.

Referências Bibliográficas

BERANGER, Celisa. A evolução através das Progressões. Rio de Janeiro: Espaço do Céu, 2001.

CUNNINGHAM, Donna. A influência da Lua no seu mapa natal. São Paulo: Pensamento, 1988.

HALL, Judy. A Bíblia da Astrologia – O guia definitivo do zodíaco. São Paulo: Pensamento, 2008.

HASTINGS, Nancy Anne. Progressões Secundárias – Técnica de prognóstico em Astrologia. São Paulo: Pensamento, 1995.

PASSOS, Nezilda. Trânsitos Astrológicos – Um caminho para o autoconhecimento. São Paulo: Roka, 2000.

RIBEIRO, Anna Maria Costa. Conhecimento da Astrologia – Manual Completo. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2008.


[1] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 11.
[2] Nezilda PASSOS, Trânsitos Astrológicos, p. 3.
[3] Epistemologia é a área da filosofia que estuda como o conhecimento é produzido. É a teoria filosófica do conhecimento, estudando as premissas e implicações dos vários métodos utilizados para produzir um determinado saber.
[4] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 23.
[5] Ibidem.
[6] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 22.
[7] Ibidem, p. 17.
[8] Além disso, essas posições ainda serão avaliadas em conjunto com outras técnicas como trânsitos, lunações e revoluções.
[9] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 45.
[10] Ibidem, p. 16.
[11] Ibidem, p. 45.
[12] Ibidem, p. 46.
[13] Lembremos que direções são os aspectos formados pelos planetas e pontos progredidos com as posições do Mapa Natal (conforme definição de Alan Leo).
[14] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 47.
Astrologia Preditiva ou Previsional – Noções Introdutórias

A Astrologia Preditiva é uma especialização da Astrologia que objetiva realizar previsões de fatos concretos e psicológicos, que potencialmente possuem uma alta probabilidade de ocorrerem, e são identificados por um conjunto sistêmico de técnicas simultâneas.
Na Astrologia Natal – outra especialidade da Astrologia que estuda o Horóscopo pessoal ou Mapa Astral – aprendemos a interpretar um Mapa Natal levantando suas potencialidades e tendências, bem como promessas de vida marcadas por diversos pontos estudados. Na Astrologia Previsional estudamos quando estes fatos poderão se concretizar.
O mapa natal, mapa astral ou horóscopo individual descreve a vida se desenrolando do nascimento à velhice[1], carregado de potencialidades e promessas prontas a serem detonadas num momento preciso da vida do indivíduo.
Ribeiro afirma que a previsão é uma técnica de conhecer em avanço, que energias planetárias estarão influenciando o comportamento e as reações psicológicas de uma pessoa, num determinado tempo. Como a própria autora pontua, citando C. G. Jung, “quando o indivíduo não está consciente de uma energia, ela se manifesta exteriormente numa fatalidade”[2].
Devemos deixar claro que, como nos mostra Morin de Villefranche, astrólogo do século XVII, os astros “inclinam”, mas não “determinam” fatos e acontecimentos, embora muito do que se estuda em previsões ou num tema natal são evidências e possibilidades que de fato ocorrem, sendo então a previsão um instrumento útil para podermos vivenciar melhor qualquer situação à nossa frente.
Como argumenta Judy Hall,

Observando o movimento diário dos planetas e calculando como ele afetará o signo solar ou o mapa natal de alguém, o astrólogo consegue prever acontecimentos, reconhecer a possibilidade de mudança e identificar oportunidades ou bloqueios no caminho (...); compreendendo a progressão dos planetas, você pode aprender a usar as mudanças a seu favor[3].

Existem inúmeras técnicas de previsão na Astrologia Previsional. Entre essas destacam-se:

1. Progressões Secundárias;
2. Trânsitos;
3. Lunações e Eclipses;
4. Revoluções.

Há ainda duas técnicas muito importantes:

5. Grandes Conjunções e Ciclos Planetários;
6. Direções Simbólicas.

Por fim, ainda podemos citar:

7. Pró Luna;
8. Revolução Sinódica;
9. Revolução Diurnal;
10. Fatum ou Meio do Céu Evolutivo;
11. Ponto Idade ou Age Point;
12. Direções Primárias.

As técnicas principais que pretendo discutir são as seis primeiras citadas.
O primeiro axioma que afirmo com veemência é o de que o procedimento de previsão deve ser feito com o uso conjunto de todas essas técnicas, simultaneamente.
Assim, não adianta utilizar apenas a técnica de trânsitos, sem utilizar a de progressões, ou utilizar apenas as lunações ou as revoluções, sem associá-las às outras técnicas restantes, pois o resultado final pode ser falho ou incompleto.
O conceito de previsão é probabilístico, e não restritamente determinístico. Assim, até é possível realizar “alguma” previsão com uma ou outra técnica isolada, porém as previsões mais confiáveis, com alta probabilidade de ocorrerem, só são possíveis quando todas as técnicas são utilizadas em conjunto, inclusive e obrigatoriamente, com o Mapa Natal.
Vejamos um exemplo: se ocorrer um determinado trânsito de um planeta indicando ganhos financeiros, até é possível que isso ocorra, mas a probabilidade efetiva de que essa possibilidade se concretize será muito maior, se existirem posicionamentos astrológicos similares à interpretação de “ganhos financeiros” também nas outras técnicas. Assim, se houver posicionamentos favoráveis nos mapas de trânsitos, progressões e lunações, para ganhos financeiros essa previsão tem muito mais chances de ocorrer, do que se houver apenas uma posição isolada no mapa de trânsitos ou progressões, ou ainda, se só houver um posicionamento no mapa de revolução solar ou de lunações.
Nesses últimos casos, com apenas uma posição isolada em alguma técnica particular, o evento previsto, com baixa probabilidade de se efetivar, pode simplesmente não ocorrer. Esse tipo de “erro” costuma acontecer com iniciantes no emprego da Astrologia de Previsão, que atentam insistentemente para apenas um ou outro ponto de um mapa ou técnica, e ignoram a visão de conjunto que a orientação holística e sistêmica da técnica astrológica exige.
Vejamos algumas definições e comentários das principais técnicas da Astrologia Previsional.

Progressões Secundárias

Progressão é talvez a mais antiga das técnicas de previsão e desenvolvimento do mapa natal. A definição formulada pelo estudioso e pesquisador francês Henri Gouchon é a seguinte:

Progressões são todos os movimentos reais ou fictícios atribuídos aos astros durante as horas ou dias que se seguem ao nascimento. Estes movimentos vão gerar, em relação ao Céu Natal, numerosos aspectos fáceis ou difíceis que, estarão, em princípio, relacionados com os acontecimentos da vida[4].

Assim, as progressões representam movimentos nos quais um curto período de tempo projeta-se, por analogia, num longo período.
Existem três principais tipos de progressão, entre outras:

1) Progressões Primárias " utiliza os movimentos reais ocorridos durante as horas que se seguem ao nascimento.
2) Progressões Secundárias " utiliza os movimentos reais nos dias que se seguem ao nascimento.
3) Progressões Simbólicas " Utiliza os movimentos fictícios baseados apenas no movimento do Sol.

A técnica de Progressão Secundária – uma das mais antigas e empiricamente comprovadas durante séculos – desdobra-se em duas etapas: (1) Progressão Direta e (2) Progressão Pré-Natal ou Conversa.
A técnica de Progressão Secundária é extremamente simples, enquanto método, mas seus resultados são bem significativos. A técnica baseia-se na equivalência de que cada dia da efeméride corresponde a um ano de sua vida. Trata-se, portanto, simplesmente de substituir um dia por um ano de vida. Se uma pessoa está com 20 anos de idade, levanta-se um mapa para 20 dias a contar da data de nascimento. Por exemplo, se você nasceu em 04 de março de 1973, e quiser saber sobre as tendências para seu vigésimo ano de vida, procura-se então as posições planetárias para o dia 24 de março de 1973.
Após isso, verifica-se os aspectos que esses novos posicionamentos planetários fazem com a sua carta natal. A esse procedimento chamamos Progressão Direta. Esta mesma correspondência pode ser feita de maneira inversa, contando-se os dias para trás da data de nascimento, ao que se chama Progressão Pré-Natal ou Conversa.
Vimos que, enquanto o mapa natal mostra como a pessoa é, sua estrutura, suas tendências e potencialidades, bem como o que está prometido para ela, as progressões indicam as mudanças que ocorrem e marcam a vida, o desenvolvimento e a evolução pessoal. Em outras palavras, enquanto o mapa natal apresenta o que a pessoa é, as progressões descrevem como ela está, qual a sua disposição geral em dada ocasião, e como a pessoa se encontra na sua caminhada como ser humano, em um dado momento[5]. As progressões são, no final das contas, ciclos de crescimento.
É importante frisar que não se deve utilizar essas técnicas de progressões, nem nenhuma técnica astrológica de predição sem referência ao mapa natal. Segundo Hastings, com o mapa secundário progredido é preciso dispor tanto do mapa natal como dos trânsitos dos planetas exteriores para fazer previsões corretas[6]. Nesse ponto, devemos enfatizar que astrólogos sérios não “adivinham magicamente” acontecimentos, mas apenas calculam tendências, probabilidades e possibilidades, que dependem muito, para serem concretizadas, da cambiante faculdade do livre-arbítrio.
Gouchon e Carter complementam que as progressões devem ser conjugadas com as várias outras técnicas da Astrologia Preditiva: Revoluções, trânsitos, lunações, eclipses, evolutivos etc.
Por outro lado, a importância das progressões é de tal natureza, que há 18 séculos um axioma da Astrologia Preditiva vem se mantendo. Esse postulado afirma que “nenhum acontecimento importante pode ocorrer sem que esteja indicado por uma direção da natureza do evento”[7]. Essa direção é o outro termo pelo qual as progressões também são conhecidas.
Concluímos, que na conjugação das progressões secundárias, trânsitos, lunações, revoluções e outros ciclos, as progressões são prioritárias, constituindo-se como pontos de partida que dão as direções preliminares de todo o trabalho preditivo. Como pontua Beranger, as “Progressões são a base para qualquer previsão formulada com seriedade”[8].

Trânsitos

Os trânsitos correspondem à passagem diária dos planetas sobre o mapa natal da pessoa.
A técnica consiste em pesquisar as efemérides, num determinado dia, localizando os planetas nas coordenadas zodiacais do momento. Compara-se essas posições dos planetas em trânsito, com os dos planetas radicais (ou seja, os planetas do mapa natal).
O planeta em trânsito (movimento) é chamado de planeta transitante. O planeta radical que recebe aspectos do planeta transitante é chamado de planeta transitado. Assim, deve-se considerar que o planeta transitante (em movimento) afetará o planeta transitado (radical ou natal) de acordo com suas energias particulares e também de acordo com a posição original do planeta que recebe o aspecto no mapa natal (casa e signo em que se localiza e casa que rege).
Os planetas em trânsito ao mudarem de posição por signo e casa, levam os acontecimentos que influenciam a Carta Natal, inclusive através dos novos aspectos que os planetas radicais recebem dos transitantes. Além disso, quando um planeta em trânsito ativa um planeta no mapa natal, ativará a seu tempo, por órbita de trânsito, os planetas aspectados por ele no mapa natal.
Nesse ponto, porém, é importante salientar, por enquanto, que a ocorrência de trânsitos indicando uma dada situação, sem a presença de direções (ou progressões) capazes de apoiar a possibilidade, pode indicar uma tendência muito “fraca” ou “reduzida” que simplesmente não se concretize, ou pode promover a ocasião e até o acontecimento, mas sua influência sobre rumo da vida é passageiro, sutil ou pouco perceptível[9]. Esse postulado empírico corrobora a inutilidade e/ou as limitações de se analisar os trânsitos isoladamente, sem levar em conta, as progressões.

Lunações e Eclipses

Lunação, ou mais conhecida popularmente como Lua Nova, é o momento da conjunção Sol e Lua, ocorrendo num intervalo de 28 dias entre uma e outra. Quando se faz sua análise considera-se também a Lua Cheia que ocorre imediatamente depois (14 dias aproximadamente), quando a Lua e o Sol estão em oposição; tanto que Cunningham chega a definir as Lunações como sendo os ciclos de Luas Cheias e Luas Novas que ocorrem no ano[10].
Todos os meses ocorre uma Lunação, e às vezes até duas, uma vez que a Lua leva 28 dias para dar uma volta completa no Zodíaco. Isso faz com que ocorram 13 lunações por ano. As lunações podem ser simples ou com eclipse.
As Lunações (simples) indicam possibilidades de acontecimentos nas casas onde ocorrem. Esses acontecimentos nem sempre ocorrem na Lua Nova, mas são trazidos pela Lua Cheia imediatamente posterior, aproximadamente 14 dias após a Lunação, podendo acionar o fato previsto. Ou seja, se você tiver uma lunação na Casa 2 (do dinheiro) algum evento novo deve acontecer nessa área da vida, e seu clímax será visível 14 dias depois na Lua Cheia. Às vezes o evento só é nítido na Lua Cheia, mas alguma coisa disparou o processo na Lua Nova (Lunação).
Quando ocorre um Eclipse Solar (que também é um tipo especial de Lunação), um evento mais significativo ainda deve acontecer, relacionada à Casa onde ocorreu o eclipse. Mas o seu auge ocorre na próxima lunação que fizer quadratura ao ponto fixado pelo eclipse, normalmente na terceira lunação após três meses (lembremos que em média ocorre uma lunação por mês, seguindo a trajetória do trânsito do Sol pelas 12 casas do mapa). Os efeitos de um eclipse como um todo duram em média 6 meses, ou seja, até o próximo eclipse solar.
Por fim, os Eclipses Lunares (que só podem ocorrer em épocas de Lua Cheia, quando a Lua fica eclipsada pelo Sol) não têm interpretação na Astrologia. Não há dados empíricos que confirmem qualquer tipo de interpretação para os eclipses lunares, embora alguns insistam em atribuir significação a esses posicionamentos.
O interessante de mapear as suas Lunações do Ano, em seu mapa astral, é que esses períodos que vão da Lua Nova até a Lua Cheia são excelentes para iniciar e consolidar atividades, coletar informações e estabelecer contatos[11], nos assuntos da Casa onde a Lunação ou o Eclipse (solar) ocorre, especialmente se a Lunação formar conjunção com algum planeta natal, e mais ainda se esse planeta for ativado por um trânsito ou progressão.

Revoluções

O termo Revolução significa o retorno de um planeta à sua posição inicial, ou para o Astrólogo Profissional que utiliza esta técnica, o retorno de um astro à sua posição de origem no mapa natal. Pode-se dizer que a revolução é um trânsito em conjunção exata de um planeta sobre ele mesmo.
Através desta técnica iremos nos familiarizar com o horóscopo calculado para o momento em que a cada ano, cada astro retorna à sua posição natal. Podemos fazer revoluções para todos os planetas, mas as principais analisadas pelo astrólogos são as Revoluções Solar (para o ano todo) e Lunar (para cada mês do ano solar). Esses mapas “congelam” os trânsitos básicos desse momento de retorno do astro à sua posição natal, evidenciando assim uma tendência preditiva ou prognóstica para o tempo de retorno cíclico de cada astro em particular, no qual se traça o mapa de revolução. No caso do Sol, um ano, e da Lua, 28 dias ou um mês. Se fosse um mapa de revolução de Marte, seria uma revolução para um ciclo de 2 anos e meio, e para Júpiter corresponderia a um mapa de revolução com previsões para 12 anos.
Na análise da Revolução Solar, fazemos a sua combinação e comparação com o Mapa Natal, analisando seus interaspectos, e movimentando-se o Ascendente e o trânsito do Sol e da Lua, permitindo-nos avaliar as tendências de acontecimentos e suas épocas prováveis de realização.
Com as revoluções da Lua analisam-se os acontecimentos prometidos pela Revolução Solar, sendo ativados mensalmente, que é o período em que a Lua faz a sua Revolução.

Direções Simbólicas

É um tipo de progressão baseada no movimento fictício conjunto de todos os planetas e casas, em “bloco”, na mesma proporção. Assim, movimentamos o mapa como um todo, na direção e na proporção temporal que se quer analisar, gerando um mapa “dirigido”, simbólico.
Essa proporção pode utilizar como base de cálculo as seguintes correspondências para o movimento do mapa:

1) Grau por ano;
2) Passo do Sol;
3) Arco Solar;
4) Naboid.

Grau por Ano = 1 grau da eclítica é igual a um ano de vida da direção. Nesse método, progride-se 1º para cada ano, em todos os planetas ao mesmo tempo, até o momento ou idade desejado para análise. É o de cálculo mais fácil, quase visual, porém menos preciso.

Passo do Sol = é dado pela “marcha” do Sol no dia do nascimento (ou seja, quantos graus o Sol anda exatamente nesse dia). Esse ritmo é tomado ficticiamente como constante para todos os anos que se deseja progredir o restante do mapa e seus planetas.

Arco Solar = é a diferença em graus entre a posição do Sol no dia do nascimento até o dia que representa a idade a se examinar. Considera-se o dia para cada ano a partir da efeméride. Esse cálculo fornece a informação de quanto abriu esse arco em graus. Soma-se, então, esse valor à posição de cada planeta do mapa. É o método de cálculo manual mais difícil, porém, também o mais preciso. Com a facilidade dos cálculos computadorizados que anulam a inconveniência do seu cálculo manual, para meros segundos de trabalho, o Arco Solar tem se tornado o método de Progressão Simbólica mais utilizado.

Naboid = toma como valor padrão para progredir todos os planetas, ao mesmo tempo, o passo médio anual do Sol que é 59´08”. Multiplica-se esse valor pelo número de anos até a data a ser analisada, e soma-se o resultado à posição de cada planeta.

A direção simbólica pode ser Direta, calculada em movimento avançado no mapa natal, ou Conversa, calculada em movimento inverso, parecido com o movimento pré-natal em progressão secundária. Após realizar a progressão, direta ou conversa, utilizando um dos quatro métodos mencionados, verifica-se se os planetas que foram progredidos fazem algum aspecto exato com um planeta do mapa natal. Alguns astrólogos usam 1º de órbita. O interaspecto procurado, aqui, é a conjunção.
As direções simbólicas indicam os desejos e motivações durante um ano, por exemplo, a partir do aniversário da pessoa. Havendo trânsitos semelhantes, que apóiem a direção, os desejos podem ser concretizados, ou podemos prever um acontecimento significativo. Porém, a direção simbólica, como as outras progressões, especialmente as secundárias, possuem uma força relativa autônoma e expressiva, manifestando acontecimentos importantes no ano, mesmo sem apoio de outros trânsitos ou outros pontos astrológicos. Nesse sentido, a técnica de Direções Simbólicas é uma exceção que não precisa tanto do apoio das outras técnicas de previsão.

Grandes Conjunções e Ciclos Planetários

Cada planeta tem seu movimento especial, formando um final de ciclo quando retorna ao seu ponto de partida, e aí começa um novo ciclo. Todo começo de ciclo equivale a uma conjunção, ou retorno. Um sexto do ciclo equivale a um sextil, um quarto de ciclo corresponde à quadratura, um terço do ciclo corresponde ao trígono, e o meio-ciclo é a oposição.
Cada vez que um planeta completa uma órbita sobre si mesmo, fazendo seu retorno, amadurece seu comportamento. O retorno de Júpiter dura 12 anos, enquanto o de Saturno dura em média 28 a 30 anos. O ascendente e o Meio-do-Céu também fazem suas próprias revoluções (retornos) a cada 24 horas. Isso tem como colorário o fato de que amadurecemos diariamente a nossa maneira de projetar e concretizar nossas expectativas e objetivos de vida.
Todos esses pontos em movimento (planetas, Asc., MC) além de terem seus retornos, quando fazem conjunção com suas posições originais no mapa, também fazem outros aspectos – sêxteis, quadraturas, trígonos e oposições[12] – trazendo mais fluência ou obstáculos aos assuntos envolvidos.
As conjunções são aspectos muito intensos caracterizados pela posição em mesmo grau do zodíaco de dois corpos celestes, considerando-se as orbes utilizadas, em torno de 10º. As conjunções que ocorrem no Céu Astrológico entre Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão, têm uma importância diferenciada nos mapas pessoais, e em Astrologia Mundial. Essas são as chamadas Grandes Conjunções, que marcam inícios importantes de ciclos planetários.
Para esses posicionamentos marca-se o momento do seu exato aspecto no céu, bem como sua localização nos mapas individuais (especialmente em conjunção nas cúspides ou planetas radicais), com orbe de 5º. Esse mesmo procedimento pode ser feito em mapas de cidades e países (Astrologia Mundial). Para mapas pessoais são mais sentidas as conjunções que ocorrem em tempo mais curto de ocorrência, como as Grandes Conjunções de Marte e Júpiter, e até mesmo Saturno.



Referências Bibliográficas

BERANGER, Celisa. A evolução através das Progressões. Rio de Janeiro: Espaço do Céu, 2001.

CUNNINGHAM, Donna. A influência da Lua no seu mapa natal. São Paulo: Pensamento, 1988.

HALL, Judy. A Bíblia da Astrologia – O guia definitivo do zodíaco. São Paulo: Pensamento, 2008.

HASTINGS, Nancy Anne. Progressões Secundárias – Técnica de prognóstico em Astrologia. São Paulo: Pensamento, 1995.

PASSOS, Nezilda. Trânsitos Astrológicos – Um caminho para o autoconhecimento. São Paulo: Roka, 2000.

RIBEIRO, Anna Maria Costa. Conhecimento da Astrologia – Manual Completo. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2008.

[1] Judy HALL, A Bíblia da Astrologia, p. 12.
[2] Anna Maria Costa RIBEIRO, Conhecimento da Astrologia, p. 550.
[3] Judy HALL, A Bíblia da Astrologia, p. 13.
[4] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 15.
[5] Ibidem, p. 18.
[6] Nancy Anne HASTINGS, Progressões Secundárias, p.16.
[7] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 13,14.
[8] Ibidem, p. 14.
[9] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 47,48.

[10] Donna CUNNINGHAM, A influência da Lua no seu mapa Natal, p. 85
[11] Ibidem, p. 86.
[12] Todos aspectos maiores ou ptolomaicos. Os aspectos menores não são tão evidentes, nem utilizados pelos astrólogos, nesses casos.