terça-feira, 8 de junho de 2010

Astrologia Preditiva – Análise Crítica e Observações Históricas

O objetivo desse texto é realizar comentários gerais sobre Astrologia Preditiva, uma área de especialização da Astrologia voltada para a realização de previsões de acontecimentos humanos e naturais, de uma forma geral.
O mapa de nascimento (ou mapa natal) é um instantâneo da visão particular do Céu em um momento dado a partir de um local específico da Terra, mostrando as promessas para a vida pessoal. Porém, como no Universo nada está parado, a Astrologia Preditiva utiliza várias técnicas para acompanhar o movimento do Mapa Natal, a partir do momento em que foi feito o seu “retrato congelado”, para adiante[1].
Como afirma Nezilda Passos, “o mapa natal é uma fotografia do cosmo no momento do nascimento. No entanto, estes planetas estão em eterno movimento, ao som da música das esferas, deslocando-se no zodíaco”[2].
As previsões, em astrologia, são baseadas nos movimentos cíclicos dos planetas. Para se fazer um trabalho de previsão na Astrologia, o profissional deve desenvolver um raciocínio cíclico.
A lógica utilizada em previsões é ao mesmo tempo, intuitiva e empírica. Observam-se os fenômenos humanos e terrestres do passado, nas épocas em que os planetas estavam em um determinado ponto de seu movimento cíclico. Por ser um ciclo, esses movimentos delineiam uma marcha repetível que pode ser acompanhada e observada. Esse fato, inclusive, atende uma exigência da validade científica: a repetição experimental e a possibilidade de sua confirmação empírica.
Quando esses pontos do ciclo estão para terem seus movimentos repetidos, com a base empírica comparativa das outras épocas repetidas do passado, sabendo-se a história desses momentos, podemos deduzir por analogia o que deverá ocorrer no futuro ponto de reencontro desses ciclos, com alta probabilidade.
Existem ciclos menores – facilmente rastreáveis em seu passado imediato – e ciclos maiores, que exigem uma pesquisa mais profunda, podendo inclusive, utilizar-se de métodos científicos como os existentes em ciências como história, arqueologia e antropologia, que também estudam o passado.
É interessante observar que a Astrologia Preditiva deve se voltar à observação de fatos e comportamentos passados (correlatos ao delineamento de ciclos planetários já vivenciados), para poder deduzir probabilidades, previsões e possibilidades futuras quando esses ciclos se repetem.
A própria História, e outras ciências sociais como a Sociologia ou a Economia já perceberam, usando seus próprios métodos, que os fatos históricos e sociais se dão seguindo ritmos cíclicos. Por exemplo, momentos de rebelião ou revolta social se intercalam com momentos de acomodação e calmaria. Momentos de progresso e abundância econômica são intercalados com grandes crises e quedas, o mesmo ocorrendo no terreno político, entre ciclos de momentos “democráticos” e ciclos “autoritários”. Alguns estudos longitudinais, baseados em observações de longo prazo, sugerem que esses eventos se intercalam seguindo ciclos. Esse terreno é muito fértil para a causalidade e a sincronicidade cíclica da lógica astrológica.
Até que ponto podemos ter alguma certeza de que os fenômenos ou os fatos que ocorreram no passado, em certo ponto de um ou mais ciclos astrológicos, irão se repetir quando esses ciclos retornarem aos mesmos pontos? A observação empírica mostra que os eventos “tendem” a se repetir, porém, há fatores de livre-arbítrio e contexto que modulam essas tendências. Além disso, os ciclos podem se repetir em “estados evolutivos” mais avançados, ou menos. Há fatores de experiência e aprendizagem, individual e coletiva, que foram elaborados nos ciclos anteriores, de forma que a repetição de um ciclo, provavelmente não irá ser vivenciada da mesma forma.
Por fim, como cada planeta tem uma velocidade própria, definindo ciclos de variados tamanhos de amplitude e tempo de duração, muitas combinações de ciclos se tornam possíveis, produzindo um amálgama de tendências sistêmicas. Os vários ciclos formam um arranjo em “rede”.
Tudo isso impede que o destino se formalize como um evento pré-determinado, cristalizado e estanque. Pode haver uma “programação” multideterminada de tendências de destino, com várias possibilidades e caminhos que seguem uma “matriz”, uma “estrutura” ou um “arquétipo” identificável. Há a possibilidade da previsão, mas não há uma determinação linear, “reta”, “ponto-a-ponto”.
A lógica previsional na Astrologia é probabilística, e não fixamente determinística. A lógica probabilística é comum em outras ciências que também fazem previsões, nos seus respectivos campos de conhecimento, como a meteorologia, a medicina, a economia, a sociologia, a física, a matemática, a estatística, etc. A previsão é um procedimento comum na ciência, mas nenhuma dessas se adjudicam o status de infalibilidade, aceitando a existência de um desvio padrão ou margem de “erro”.
Com a Astrologia, podemos constatar o mesmo processo. Suas previsões não são infalíveis e também comportam uma margem de “erro”, pequena é verdade, mas não inexistente. Porém, em função das especificidades e questões filosóficas e existenciais que a Astrologia levanta, essa margem de “erro” pode ser compreendida num outro sentido, como uma margem de “indeterminação”, que na verdade, possibilita um campo de livre-arbítrio, um âmbito de possibilidades “não-previstas” e de certo “movimento” ou “mobilidade”.
Em termos epistemológicos[3], essa “margem de indeterminação” teria seu fundamento no postulado probabilístico do “Princípio de Incerteza” de Werner Heisenberg, prêmio Nobel de Física, que mostrou que muitos eventos naturais se desenvolvem seguindo um processo não-determinístico, de amplos espectros de possibilidade. Ele mostrou isso no circunspeto universo do mundo subatômico. Porém, seu Princípio de Incerteza aplicado às Filosofias do Conhecimento (epistemologia), da Existência e da Cosmologia, é um postulado adicional que apóia o axioma do livre-arbítrio e se coaduna com a lógica probabilística da Astrologia Preditiva. O pensamento probabilístico é um algoritmo do pensamento científico moderno que se contrapõe ao determinismo linear configurado em outras épocas do passado, tanto na filosofia antiga como na metafísica, ou mesmo, nos paradigmas da ciência clássica newtoniana.
A prática de previsão na Astrologia é feita usando e combinando várias técnicas – as progressões ou direções, trânsitos, lunações e eclipses, revoluções, ciclos e outras – que compõem uma conclusão de probabilidade.
As progressões são prioritárias. Elas dão partida no processo interpretativo, e também a sua direção. Apontam as mudanças que se desenvolvem na vida, mostrando como se desenrola o processo de evolução pessoal. As primeiras progressões chamadas de Progressões Primárias foram criadas por Ptolomeu, no século II.
Claudio Ptolomeu compilou o conhecimento astrológico dos egípcios, caldeus e gregos, parcialmente fragmentado com a triste destruição de grande parte da fabulosa e gigantesca Biblioteca de Alexandria. Ptolomeu concluiu essa compilação no século II d.C., em sua grande obra, chamada Tetrabiblos. Até hoje é considerada a “Bíblia da Astrologia” e permitiu um resgate de várias teorias e técnicas da Astrologia, e a criação de outras naquela época. Astrólogos de séculos posteriores fizeram várias revisões do saber astrológico tomando como ponto de partida essa obra.
Foi no Tetrabiblos que Ptolomeu apresentou a técnica das Direções ou Progressões Primárias. Procurando aprimorar o seu método, vários matemáticos de renome estudaram a sua técnica, como o alemão Regiomontanus, o italiano Campanus, o incrível francês Morin de Villefranche, além de Placidus, Nabolda e Maginus. Todos esses grandes matemáticos estavam preocupados em encontrar formas de simplificar o cálculo das progressões primárias, pois essas exigiam um amplo conhecimento de trigonometria esférica, constituindo-se numa técnica de maior dificuldade.
A técnica reinou sozinha desde o século II, durante quinze séculos, ou seja, até o século XVII quando, então, a formulação das Leis de Kepler possibilitaram o cálculo do movimento dos planetas. Com isso matemáticos como Antônio Maginus e Valentino Nabolda, estudando as direções de Ptolomeu, procuraram simplificá-las e conseguiram elaborar as chamadas Progressões Secundárias, de cálculo muito mais simples e alternativas técnicas mais ricas, que a fizeram ser bem mais utilizadas.
As progressões primárias baseiam-se na premissa matemática de que “quatro minutos de tempo sideral correspondem a um ano de vida”. Assim, seis horas (360 minutos) corresponderão há uma vida de noventa anos. O fundamento matemático-simbólico das progressões secundárias é diferente e considera “cada dia após o nascimento correspondente a um ano de vida”. Essa premissa matemática permitiu um cálculo diferente, mais simples, com o apoio da regularidade das Leis de Kepler, que não eram conhecidas por Ptolomeu, no século II. A descoberta das Leis de Kepler foram fundamentais para a formulação das Progressões Secundárias.
As progressões primárias tinham um inconveniente de cálculo. Elas exigiam um conhecimento exato e inequívoco da hora de nascimento. Como as situações e fatos da vida, numa previsão, ocorriam muito próximas da data da direção ou progressão, a falta de precisão encontrada nas horas de nascimento, ocorrida por qualquer motivo (e mais comuns do que normalmente se pensa), provocaria diferenças de três meses para cada minuto de erro.
Na verdade, esse inconveniente permaneceu nas progressões secundárias, porém, como o seu cálculo é mais simples e fácil, a técnica se mostrou eficaz para realizar outro procedimento denominado Retificação Horária, um processo técnico que permite fazer correções no cálculo de horário de nascimento. A técnica de cálculo de Retificação Horária se tornou tão importante, que atualmente ela é imprescindível para a confecção profissional de mapas astrológicos.
Tanto as progressões primárias quanto secundárias podem ser Diretas ou Conversas, e essas devem ser usadas em conjunto. As progressões primárias são Diretas quando o movimento é calculado no sentido do semi-arco diurno, do Ascendente para o Meio-do-Céu, e Conversas quando no sentido do semi-arco noturno, do Ascendente para o Fundo-do-Céu.
Por sua vez, as progressões secundárias são Diretas quando a contagem projetada para o futuro é realizada para cada dia após o nascimento, como correspondente a um ano; e nas Conversas, a contagem de dias, para cada ano, é feita do nascimento para trás. Aqui, as Conversas também são chamadas de Progressões Pré-Natais.
Como dissemos, as Progressões Secundárias têm sua origem nos estudos de grandes matemáticos para a simplificação do cálculo das Primárias. Essas não deixaram totalmente de serem usadas, mas a maioria dos astrólogos profissionais utilizam mais (ou somente) as Progressões Secundárias, que inclusive são as adotadas e ensinadas em cursos de formação de Astrologia. Salientamos que além de mais fáceis, as Progressões Secundárias são (paradoxalmente) mais ricas tecnicamente. Isso mostra o sucesso dos matemáticos do século XVII, Placidus, Maginus e Nabolda.
Outro diferencial das Progressões Secundárias é que elas utilizam o movimento real diário dos planetas e cúspides, sendo que suas posições progredidas dão origem ao Mapa Progredido Secundário. A utilização do movimento real diário na Progressão Secundária traz características específicas para essa técnica, como a possibilidade da mudança de movimento de todos os planetas em relação à condição natal, bem como a função da Lua, muito especial nesta progressão[4].
Os luminares (Sol e Lua) e planetas progridem segundo um ritmo de movimentação diário, que é mostrado a seguir[5]:

Sol 59´ 30”
Lua 13o 30´
Mercúrio 1º 19´
Vênus 1º 15´
Marte 0º 38´
Júpiter 0º 05´
Saturno 0º 04´
Urano 0º 03´
Netuno 0º 02´
Plutão 0º 01´

Pela tabela observamos que a Lua progride rapidamente, enquanto o Sol, Mercúrio e Vênus, progridem em ritmos mais próximos (o Sol progride um pouco mais devagar). Marte, com seu ritmo, parece ser um intermediário entre os outros planetas pessoais (Sol, Lua, Mercúrio e Vênus) e os planetas sociais (Júpiter e Saturno) e transpessoais (Urano, Netuno e Plutão). Esses cinco planetas “exteriores” progridem num passo bem mais lento.
Por isso Beranger afirma que,

Quanto à direções, são consideradas apenas as formadas pela progressão do Sol, Lua, Mercúrio, Vênus e Marte e dos eixos Ascendente/Descendente, Meio do Céu/Fundo do Céu, porque sendo o movimento diário dos planetas sociais e transpessoais muito pequeno, suas direções durariam muitos anos, já que o orbe utilizado aqui é de um grau (para a aproximação e para a separação do aspecto exato). Por este motivo, as direções formadas pelos planetas lentos progredidos são consideradas apenas quando em orbe exato de grau e minuto, o que só ocorre em um ano específico[6].

As progressões são chamadas, por muitos astrólogos, de direções. Isso é uma herança da prática das Progressões Primárias, mas nas secundárias, como aponta Alan Leo, esses termos devem ser diferenciados. Para ele, Progressão é a movimentação dos pontos e planetas que constituem o Mapa Progredido em dada ocasião, enquanto Direções são os aspectos formados pelos planetas e pontos (Asc., MC) progredidos com as posições do Mapa Natal[7].
Nesse sentido, a autora propõe levar em consideração as direções formadas pelo (1) Sol, (2) Lua, (3) Mercúrio, (4) Vênus, (5) Marte, (6) Ascendente/Descendente e (7) Meio-do-Céu (MC)/Fundo-do-Céu (IC), todos progredidos, com as posições originais do Mapa Natal, desde o Sol até Plutão (natais).
Muitos astrólogos acham suficiente utilizar apenas quatro pontos ou localizações progredidas – Sol, Lua, Ascendente e Meio-do-Céu progredidos em aspecto com os planetas do mapa natal. Nesse caso, consideram a Progressão Direta e Conversa (Pré-Natal), ou seja, consideram as direções do Sol Progredido Direto e do Sol Pré-Natal, da Lua direta e conversa, e do Asc. e MC diretos e pré-natal. Temos assim, oito pontos de direções a considerar (e não só quatro), com os 10 planetas do Mapa Natal, além do Asc. e MC radical. Isso forma um número grande de combinações possíveis a ser analisado, ao longo das evoluções anuais. A observação empírica mostra que isso já é suficiente[8].
Depois do surgimento das Progressões Secundárias no século XVII, outros esforços foram feitos na busca de simplificações. Simonite sugeriu no século XIX, que fosse considerado o movimento preciso do Sol progredido secundário para aplicá-lo a todos os planetas do mapa. Com isso ele lançou o cálculo de progressões mais simples de todos, e de mais fácil execução. Essas progressões ficaram conhecidas pelo nome de Progressões Simbólicas, pois sua característica é a projeção fictícia homogênea do movimento de todos os planetas do mapa (independente da marcha real de cada ponto ou planeta), seguindo obrigatoriamente, a marcha real de progressão de um único astro – o Sol.
As Progressões Simbólicas tiveram suas primeiras pesquisas no século XVII com Valentino Nabolda (os ingleses mudaram seu nome para Naboid), sua elaboração, aplicação e divulgação com Simonite no século XIX, e um desenvolvimento e aprimoramento, no século XX, com Sepharial e Vivian Robson.
As Progressões Simbólicas também partem da consideração de que “um dia equivale a um ano de vida”, entretanto essa base é aplicada sobre um movimento único, onde tanto os planetas quanto os ângulos progridem “imaginariamente” (simbolicamente) em função do movimento diário do Sol. Ou seja, nessa progressão, todos os planetas, ou o mapa todo, é movimentado de forma fictícia, até a formação de um desenho ou mapa final – o Mapa de Direções Simbólicas. Aqui, todo o conjunto movimenta-se “projetivamente”, de maneira igual ou uniforme, sobre o zodíaco.
Existem quatro tipos de Progressões Simbólicas sempre baseados no movimento do Sol, sendo duas personalizadas e duas não-personalizadas. São elas:

1. Passo do Sol;
2. Arco Solar;
3. Grau por Ano; e
4. Arco Naboid.

As duas primeiras – Passo do Sol e Arco Solar – são classificadas como personalizadas, enquanto as outras duas – Grau por Ano e Arco Naboid – são não-personalizadas.
O Passo do Sol toma como base o movimento do Sol no dia do nascimento, e aplica essa marcha uniformemente para todos os outros anos. A marcha do Sol no dia do nascimento é específica (“personalizada”) e é identificada ou informada nas efemérides para esse dia. Ela é, então “fixada” e ficticiamente considerada como constante e aplicada para cada ano seguinte da vida, mesmo que concretamente a marcha do Sol tenha se modificado nos anos seguintes.
A Direção por Arco Solar utiliza o arco preciso do Sol do nascimento até à sua posição progredida para uma determinada idade. Ela foi sugerida por Simonite, e foi adotada no início do século XX pelas escolas alemãs de Reinhold Ebertin e Alfred Witte, e pelo inglês Charles Carter.
Grau por Ano é uma direção que apenas move UM GRAU por ano, todos os pontos e planetas, e é de tão fácil aplicação e visualização, que pode ser delineada com uma “passada de olhos”. Muito útil para uma primeira avaliação rápida, por outro lado, é a menos precisa.
A Direção pelo Arco Naboid (em homenagem a Valentino Nabolda) ou Sistema Radix, como também é chamada essa direção, tem como base o passo médio diário do Sol, que anda 59´08” por dia, sendo aplicado simbólica ou ficticiamente a todos os pontos do mapa. Foi criado na Inglaterra por Sepharial e Vivian Robson, ao mesmo tempo que a Direção por Arco Solar era efetivada pela escola alemã, no início do século XX.
Os astrólogos profissionais utilizam uma entre essas quatro opções, que adotam como padrão. Elas são consideradas válidas até hoje. Mas, as Direções Personalizadas parecem ser um pouco mais precisas. O Grau por Ano é de aplicação fácil, imediata e até mesmo visual, mas é a menos precisa. A Progressão Simbólica por Arco Solar parece ser a mais precisa. Na verdade, ela é exatamente o mesmo Sol das Progressões Secundárias. Sua utilidade foi comprovada pela pesquisa empírica das escolas alemãs de Hamburgo e Reinhold Ebertin. Isso tem feito a Direção por Arco Solar ser a progressão simbólica mais indicada das quatro, pelos astrólogos, após uma primeira olhada rápida (e opcional) com a Direção de Grau por Ano.
O francês Henri Gouchon, resistente ao uso das Direções Simbólicas, e o inglês Charles Carter, defensor dessas, apesar de suas divergências, concordam que se use mais de um tipo de progressão, e principalmente, que as conjuguem com outras técnicas preditivas como os trânsitos, lunações e eclipses.
A diferença básica entre os Trânsitos e as Progressões reside no fato de que os trânsitos são movimentos que utilizam o tempo real, enquanto as progressões consideram um tempo simbólico. Além disso, os trânsitos apresentam o Céu em movimento mais rápido enquanto as progressões, comparativamente, o apresentam em movimento bem mais lento.
Para muitos astrólogos os trânsitos são o mundo exterior afetando a pessoa, ao passo que as Progressões são mudanças de nossa consciência interior, ocasionando as mudanças correspondentes no ambiente. Celisa Beranger precisa que as progressões são consideradas interiorizadas ou subjetivas, e os trânsitos são responsáveis pela expressão externa dos processos internos de transformação gerados pelas progressões[9].
Segundo a australiana Bernadette Brady, “as progressões parecem manifestarem-se primeiro como sentimento ou necessidade, para então aparecerem como ação[10]. Os trânsitos aparecem como indicadores da maneira como esses processos são expressos no mundo.
Morin de Villefranche considerava a ação das progressões como mais “precisa” que a dos trânsitos. Porém, enfatizava que o mais comum é que a “maior parte dos trânsitos reforce ou determine a realização das progressões”[11].
Essa observação de Jean Baptista Morin de Villefranche é muito importante, pois é essa a orientação seguida pela maioria dos astrólogos: identificam-se as progressões de uma certa data ou período de tempo, depois procuram-se os trânsitos, lunações e outros pontos que confirmem as direções dadas pelas progressões. Tudo isso sempre considerado em relação ao mapa natal.
Corroborando esse procedimento em relação aos trânsitos e progressões, Ronald Davison (assim como Villefranche) considera que “os trânsitos são parte integrante das progressões, uma extensão lógica e um desenvolvimento da idéia básica do sistema, e não um processo externo à técnica de progressão”. E assim, o americano Steven Forrest conclui assertivamente: “Usar trânsitos sem progressões é como voar sem instrumentos em um nevoeiro”[12]. Infelizmente, esse é um erro comum de astrólogos iniciantes e estudantes autodidatas.
A exceção é dada para os trânsitos de Urano, Netuno e Plutão, que por serem trânsitos de longa duração (2, 4 e 5 anos respectivamente, em média) possuem o mesmo peso de direções[13] marcantes.
Trânsitos dos planetas sociais – Júpiter e Saturno – têm a mesma importância das direções da Lua Progredida Secundária ou das Direções Primárias Fracas[14]. Em geral, os trânsitos dos planetas sociais e as direções da Lua Progredida tratam de prognósticos astrológicos de curto e médio prazos (envolvendo um, dois, três ou quatro meses, em média).
Podem ocorrer das direções progredidas se encontrarem em sentidos diferentes dos trânsitos. Nesse caso, a preferência é dada para a direção dos aspectos indicados pelas progressões. Predominam as progressões preferencialmente.
Para direções progredidas fáceis (trígonos e sextis) e trânsitos difíceis (quadraturas e oposições), o período em questão, é considerado importante para o futuro e para que a pessoa possa sair-se bem, mas pode ocorrer algum problema ou dificuldade momentâneo. Mesmo assim, a pessoa consegue o seu intento, ou no máximo, se o resultado não for obtido nessa ocasião, pode ser adiado um pouco, mas é provavelmente ou parcialmente atingido.
Com direções (ou progressões) difíceis, mesmo havendo trânsitos favoráveis, o que ocorre é que no período podem se apresentar oportunidades favoráveis, porém a pessoa não está em condições de aproveitá-las ou ocorrem resultados que não permanecem. Também existe a possibilidade de ocorrerem revezes em situações que começaram bem.
Podemos concluir que as progressões dão o tom do resultado final previsto: com boas progressões enfrentamos bem trânsitos tensos, mas com progressões difíceis podemos não saber aproveitar trânsitos que seriam fluentes ou favoráveis.
Por outro lado, trânsitos isolados indicando uma situação, sem a presença de direções ou progressões que o apóiem, podem simplesmente não se concretizarem (ou seja, não ocorre nada), ou quando ocorrem e se concretizam de alguma forma, seu efeito é passageiro e pouco significativo. Por isso, astrólogos amadores e estudantes iniciantes se decepcionam quando ignoram ou desconhecem a importância das progressões, e acompanham um trânsito que não resultou em nenhum acontecimento. Geralmente, eles não viram se existia alguma direção que apoiasse aquele trânsito.
Os antigos já haviam observado: acontecimentos importantes estão sempre marcados em várias técnicas – progressões, trânsitos, lunações e revolução solar – e todas devem indicar a mesma coisa, porque uma indicação isolada pode ser apenas uma tendência que não se realize. Esse é um axioma fundamental da Astrologia Preditiva.

Referências Bibliográficas

BERANGER, Celisa. A evolução através das Progressões. Rio de Janeiro: Espaço do Céu, 2001.

CUNNINGHAM, Donna. A influência da Lua no seu mapa natal. São Paulo: Pensamento, 1988.

HALL, Judy. A Bíblia da Astrologia – O guia definitivo do zodíaco. São Paulo: Pensamento, 2008.

HASTINGS, Nancy Anne. Progressões Secundárias – Técnica de prognóstico em Astrologia. São Paulo: Pensamento, 1995.

PASSOS, Nezilda. Trânsitos Astrológicos – Um caminho para o autoconhecimento. São Paulo: Roka, 2000.

RIBEIRO, Anna Maria Costa. Conhecimento da Astrologia – Manual Completo. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2008.


[1] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 11.
[2] Nezilda PASSOS, Trânsitos Astrológicos, p. 3.
[3] Epistemologia é a área da filosofia que estuda como o conhecimento é produzido. É a teoria filosófica do conhecimento, estudando as premissas e implicações dos vários métodos utilizados para produzir um determinado saber.
[4] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 23.
[5] Ibidem.
[6] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 22.
[7] Ibidem, p. 17.
[8] Além disso, essas posições ainda serão avaliadas em conjunto com outras técnicas como trânsitos, lunações e revoluções.
[9] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 45.
[10] Ibidem, p. 16.
[11] Ibidem, p. 45.
[12] Ibidem, p. 46.
[13] Lembremos que direções são os aspectos formados pelos planetas e pontos progredidos com as posições do Mapa Natal (conforme definição de Alan Leo).
[14] Celisa BERANGER, A Evolução através das Progressões, p. 47.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo.
    Verdadeira aula de astrologia.

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  2. Achei super didático...
    pedagógico,Eu mesmoaprendí coisas novas...

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