sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dignidades e Debilidades nas Regências Planetárias

O sistema de regências planetárias teve sua origem na Grécia Antiga, momento de surgimento da Astrologia Ocidental, junto com outros saberes como a Filosofia e a Psicologia, além das ciências naturais e da Metafísica, que marcaram os fundamentos ancestrais da nossa sociedade moderna.
As regências estão baseadas na distância dos planetas em relação ao Sol, e estão relacionadas com a importância da localização dos astros por signos que é fundamental para a Astrologia Tropical (Ocidental), já que o princípio arquetípico do signo fornece a tonalidade estruturante para a expressão do significado do astro, que em si, também é um símbolo arquetípico estrutural.
Podemos, então, alegar que o signo vai indicar como a natureza do astro irá se manifestar. Disso resulta que (1) há combinações com tonalidades em total acordo, (2) outras nem tanto e (3) outras ainda, inadequadas à sua própria natureza planetária.
O estudos das condições dessas combinações deu origem a um sistema organizado para a situação dos astros em relação aos signos, que a Astrologia Clássica ou Tradicional limitou à consideração dos planetas que conhecia em sua época (de Mercúrio a Saturno), além dos luminares, Sol e Lua. A Astrologia Moderna, por sua vez, inclui nesse entendimento os três planetas exteriores, transpessoais ou geracionais (Urano, Netuno e Plutão), embora siga uma lógica diferente dos “Clássicos”.
Dentro desse sistema temos os conceitos de Dignidades e Debilidades: dizemos que um astro está em dignidade, quando bem colocado por signo. As dignidades principais são Domicílio e Exaltação. Dizemos que um astro está em debilidade (ou debilitado) quando o princípio do signo está em desacordo com a natureza do astro. As debilidades principais são Exílio e Queda. Quando um planeta não está nem num signo de sua dignidade (domicílio e exaltação) e nem num signo de sua debilidade (exílio ou queda), dizemos que o planeta está Peregrino (normal).
Classicamente, os astrólogos antigos dividiram o zodíaco (com seus doze signos) entre os dois luminares, o Sol e a Lua. O Sol regia sozinho seis signos de leão a capricórnio, no sentido anti-horário (leão, virgem, libra, escorpião, sagitário e capricórnio) e a Lua regia de câncer a aquário, no sentido horário (câncer, gêmeos, touro, áries, peixes e aquário). O primeiro dos seis signos de cada metade, recebeu a regência única dos luminares: Leão é regido pelo Sol e Câncer pela Lua.
Os demais signos foram, depois, repartidos entre os cinco planetas conhecidos em função de suas distâncias dos luminares. Como a cada um dos planetas coube dois signos, a regência foi subdividida.
Um dos signos era regido pelo astro em nascimentos diurnos, ou melhor, com o Sol acima do horizonte (definido pelo eixo Ascendente/Descendente), enquanto o segundo recebia a regência noturna, quando o Sol se encontra abaixo do horizonte.
Atualmente não é utilizada essa diferenciação antiga ou clássica (alguns astrólogos que atualmente se intitulam de “clássicos ou tradicionais” talvez se fundamentem nesse critério, ainda). Seja como for, a distribuição original resultante era a seguinte:

Planeta / Domicílio Diurno / Domicílio Noturno

Mercúrio / Gêmeos / Virgem
Vênus / Libra / Touro
Marte / Áries / Escorpião
Júpiter / Sagitário / Peixes
Saturno / Aquário / Capricórnio

Na tabela acima, observamos que Mercúrio faz a sua regência diurna em gêmeos e a noturna em virgem, Vênus faz a sua regência diurna em libra e noturna em touro, e assim por diante.
O projeto de uma Astrologia Moderna começa a surgir no século XVII, com a sistematização proposta por Morin de Villefranche, sendo que a partir do século XVIII, com o início da descoberta dos novos planetas (exteriores), a antiga regência noturna foi aos poucos sendo delegada a esses últimos. Uma das características diferenciais desses planetas são a erraticidade de suas órbitas como vistas da Terra, e a lentidão dos seus ciclos orbitais contados pela nossa cronologia convencional, dada a distância desses planetas ao Sol e mesmo à Terra. Por isso, esses planetas são chamados de exteriores, geracionais ou transpessoais. São geracionais porque devido ao seu movimento lento, parecem atuar em grandes gerações populacionais, ao longo das épocas, quando consideramos a sua posição por signos; são considerados transpessoais, pois do ponto de vista interpretativo, segundo algumas escolas modernas, esses planetas simbolizam a nossa relação com as dimensões espirituais, divinas e metafísicas da realidade. São exteriores, evidentemente, devido à longuíssima distância desses planetas tanto da Terra como do Sol (para além dos planetas sociais, Júpiter e Saturno; assim, também são chamados de trans-saturninos).
Quanto à regência dos planetas exteriores, logicamente há divergências de opiniões entre os astrólogos (quem se aprofunda no saber astrológico, descobre mais cedo ou mais tarde, que há um número razoavelmente expressivo de divergências entre os astrólogos).
Uma corrente de astrólogos defende que as regências dos planetas exteriores deveriam seguir a ordem dos signos após capricórnio, considerando a lógica do esquema de Ptolomeu (século II d. C.), segundo a tese da Astrologia Clássica presente nesse autor, quanto a relação entre planetas e signos ocorrer de acordo com a observação do céu, baseada na distância dos planetas em relação ao Sol, e a ordem dos signos no Zodíaco.
Desde já é interessante notar que esse critério não segue qualquer forma de observação empírica correlacional entre eventos celestes e terrestres, mas é apenas uma inferência dedutiva, aparentemente arbitrária, cuja lógica inferencial subjacente não é explicitada, refutando o discurso tão estereotipadamente repetido pelos que se dizem astrólogos clássicos, de que essa escola atende exigências de legitimidade objetivistas.
Seja como for, paradoxalmente, essa proposta ptolomaica foi seguida para Urano e Netuno, regentes modernos de Aquário e Peixes, respectivamente, seguindo capricórnio regido pelo último visível, Saturno. É interessante notar que observações empíricas e historiográficas iniciais parecem corroborar a inferência dedutiva dos significados arquetípicos atribuídos a esses planetas, embora muito mais pesquisas sistemáticas precisem ser formuladas e realizadas. Infelizmente, há uma escassez dessas.
Porém, esse método dedutivo (ptolomaico) não foi seguido para Plutão, havendo um grupo minoritário que defenda a regência de Plutão para áries. Apesar de escorpião ser incontestavelmente o signo mais aceito para a regência de Plutão, há quem (grotescamente) defenda seu domicílio em sagitário, capricórnio, gêmeos e até leão.
A correlação entre Plutão e escorpião é baseada numa lógica analítica de pesquisa arquetípica, que inclui estudos de mitologia e simbologia coletiva, que apóiam esse pareamento. Além disso, pesquisas históricas fornecem uma corroboração adicional para essa relação. Mas, essas correlações ainda estão num estágio de observação. Curiosamente, há alguns estudos utilizando uma metodologia clínica (observações empíricas apoiadas na consistência interna ou estrutural dessas próprias observações) que parecem sugerir que essa correlação entre escorpião e Plutão, realmente faz algum sentido, embora tal tese não seja conclusiva.
Por fim, há Astrólogos Clássicos (não todos) que dogmaticamente não aceitam a inclusão dos geracionais no sistema de regências e mantém, integralmente, o sistema inicial. É difícil dizer se esses astrólogos têm consciência, do quanto essa postura paralisa a possibilidade metodológica e gnosiológica de avanços no conhecimento astrológico. Porém, dentro de uma postura dogmática, a grande verdade é que eles estão sendo até, bem coerentes com suas premissas fundacionais, já que para o dogmatismo filosófico (enquanto cosmovisão), a preocupação com o progresso e a evolução não se colocam. E se isso não lhes serve como crítica legítima, dentro de seus próprios pressupostos, não deixa de ser verdade, que ao excluírem a pesquisa dos significados dos planetas transpessoais, eles excluem de sua prática, ferramentas teóricas potenciais que se mostram muito úteis e pertinentes.
Muitos astrólogos modernos adotam a seguinte convenção, quanto às regências ou domicílios para os planetas exteriores: Urano para aquário, Netuno para peixes e Plutão para escorpião. Contudo, consideram que estas devem ser utilizadas em conjunto com os regentes tradicionais, Saturno, Júpiter e Marte, respectivamente, como co-regentes.
Nesse ponto também há uma polêmica. Alguns astrólogos consideram que os regentes tradicionais devem ter maior importância e peso na análise, e que os regentes modernos, devem ser vistos secundariamente como co-regentes, de peso não-desprezível. Pessoalmente, eu me coloco dentro dessa linha de pensamento. Ou seja, sem desconsiderar os regentes modernos, confiro mais importância na análise aos regentes tradicionais desses signos. Essa abordagem que considero a mais correta, acaba sendo uma forma de conciliação dialética entre a visão Clássica e a Moderna, embora, evidentemente, muitos astrólogos rejeitem tal proposta. A meu favor, existe o fato de que as Escolas de Astrologia com reconhecimento na comunidade astrológica contemporânea, como as escolas Gaia e Regulus (e boa parcela de seus professores com anos de prática e estudo), adotam essa mesma posição. Em todo caso, para não dizerem que me fundamento num argumento falacioso de “autoridade”, esclareço que a observação clínica (empírica e metodológica em atendimentos individuais) favorece essa interpretação.
Quanto às exaltações, especialmente no que diz respeito a Mercúrio, também encontramos opiniões diferentes. A maioria dos astrólogos modernos (no qual me incluo) o consideram exaltado em Aquário e outros defendem a sua exaltação (equivocadamente, na minha avaliação) em escorpião. Para a Astrologia Clássica ou Tradicional, Mercúrio está, ao mesmo tempo, domiciliado e exaltado em virgem. Assim, Mercúrio também estaria duplamente exilado e em queda, no signo de peixes, o que é um contrasenso e um absurdo, segundo minha opinião (pretendo justificar minha objeção em outro texto sobre essa temática).
É muito fácil identificar as debilidades planetárias, sabendo-se os signos de suas dignidades. Vimos que as debilidades planetárias são exílio e queda. O exílio é definido pela posição do planeta no signo oposto a seu domicílio, enquanto a queda é encontrada pela posição do planeta no signo oposto à sua exaltação. Assim, se Júpiter tem seu domicílio em sagitário (diurno) e peixes (noturno), seu exílio ocorre em gêmeos e virgem, os signos opostos de sagitário e peixes, respectivamente. Como Júpiter tem sua exaltação em câncer, sua queda ocorre em capricórnio.
Voltando à discussão das dignidades, precisamos diferenciar os domicílios das exaltações. A astróloga Celisa Beranger faz uma distinção muito pertinente entre essas duas condições, que concordo plenamente. Segundo a autora, em domicílio, o astro encontra-se “puro”, possuindo liberdade e autoridade em sua expressão porque, além do princípio do signo estar de acordo com sua própria natureza, sendo por isto dono do signo, não possui um dispositor (que corresponde ao regente do signo no qual um astro se encontra quando não está domiciliado).
A exaltação por sua vez, é um conceito que surgiu na antiga Babilônia, e era denominada de “casa secreta”. O planeta em seu signo de exaltação encontra-se numa condição significativamente melhor do que se estivesse numa posição peregrina (normal), atuando dentro dos parâmetros de sua especialização e com seu melhor aproveitamento, porém não possui liberdade total (como no domicílio), porque de qualquer forma, possui um dispositor que lhe limita a expressão, a não ser que esse dispositor também esteja em bom estado celeste.
Assim, em domicílio, o astro está à vontade quanto ao princípio arquetípico que naturalmente ele encarna, e quanto ao princípio do signo que lhe é altamente compatível e familiar, enquanto na exaltação é grande a atenção quanto ao direcionamento correto (e especializado) de sua força, visando um melhor aproveitamento de sua natureza. Por exemplo, Marte em Áries (domicílio) simboliza uma ação impulsionada (naturalmente) para empreender, competir e buscar desafios, enquanto Marte em capricórnio (exaltação) tem sua atuação delimitada e direcionada (“especializada”) para objetivos concretos. Vênus domiciliada em Libra apresenta com naturalidade suas qualidades de sociabilidade, expansividade social, adaptabilidade diplomática (qualidades tanto de Vênus quanto de Libra), ou domiciliada em touro, Vênus também expressa outra de suas qualidades naturais que é o senso estético, de proporções, e o desejo de sofisticação material e conforto (qualidades tanto de Vênus quanto de touro). Por outro lado, Vênus exaltada em peixes, vai apresentar uma habilidade especializada ou focalizada no Amor, de um determinado tipo, que é o “amor universal” pela humanidade, pelos animais, pelos mais necessitados, etc.
Esses exemplos colocam em evidência a plasticidade e multivariedade das interpretações possíveis para cada combinação simbólica e arquetípica entre planetas e signos. Mas, esse seria tema para outro artigo.
Evidentemente o tema das dignidades e debilidades não se esgota, por aqui. Esse texto, porém, representa uma contribuição para se entender alguns fundamentos lógicos e históricos das noções de dignidades e debilidades planetárias.

Referências Bibliográficas

BERANGER, Celisa. Revelações: explorando recursos da carta natal. Rio de Janeiro: Espaço do Céu, 2005.

Crítica da Astrologia de Senso Comum

Na acepção da Filosofia Contemporânea, o senso comum é um conjunto de opiniões e valores característicos daquilo que é coerentemente aceito em um meio social determinado. Consiste em uma série de crenças admitidas no seio de uma sociedade determinada e que seus membros presumem serem partilhadas por todo ser racional. (1)
Uma corrente expressiva do pensamento filosófico e científico possui - com toda pertinência segundo minha opinião - uma atitude de desconfiança e criticismo em relação às posições e expressões do senso comum. Essa reflexão sobre as limitações do senso comum já eram realizadas na Antigüidade por Sócrates e Platão. (2)
Devemos entender que, numa linguagem não-técnica, o senso comum, nada mais é do que nossa visão corrente, o entendimento comum que temos sobre qualquer tema, i.e., nossa opinião (do grego “doxa”) tal como se apresenta comumente. Sócrates tinha uma visão negativa da opinião corriqueira do senso comum como insatisfatória: seu questionamento das crenças e opiniões que temos apontava que as idéias e concepções das pessoas, em geral, e da própria sociedade são vagas, imprecisas, parciais, incompletas, erradas, equivocadas e/ou preconceituosas.
Nossa experiência, de onde as opiniões de senso comum provêem, se revelam inadequadas, inconfiáveis e insuficientes. De fato, é inacreditável como muitas das opiniões que temos em nosso dia-a-dia, e acreditamos ingenuamente estarem tão corretas ou acertadas, quando colocadas sobre o escrutínio científico ou filosófico se mostram completamente infundados, errados... Para quem define a arte como uma forma sensível e intuitiva de crítica, observa que essa também se constitui, muitas vezes, numa forma de ruptura e oposição ao senso comum.
O método socrático vai mostrar que, com freqüência, não sabemos aquilo que pensamos saber. Temos, no máximo, um entendimento imediato e parcial, porém, que se revela distorcido ou incompleto, ou ambos. A reflexão filosófica revela a fragilidade do entendimento do senso comum habitual e aponta para a necessidade de aperfeiçoá-lo, e mesmo, corrigi-lo através da reflexão crítica.
Para Sócrates, o princípio da sabedoria só pode se dar pelo reconhecimento da própria ignorância, ou seja, da constatação de que não sabemos o que “pensamos” saber. Essa idéia está contida no aforismo proferido por Sócrates: “Só sei que nada sei”. Essa afirmação mostra que, para Sócrates, a legítima sabedoria só é obtida através de uma atitude de humildade gnosiológica, i.e., uma postura de modéstia quanto ao próprio conhecimento. O domínio da opinião (senso comum), com todos os seus autoenganos, distorções e preconceitos, ao contrário costuma ser um terreno de alta arrogância epistemológica, inflação de ego e vaidade intelectual dogmatista. Assim, Sócrates afasta a noção de um possível verdadeiro conhecimento (episteme) do simples domínio da opinião (doxa) pessoal ou coletiva.
Platão dá prosseguimento ao rompimento do verdadeiro conhecimento (entendido como posse de uma representação correta do real) com a imprecisão e os preconceitos do senso comum, através de um procedimento dialético de reexame crítico desses últimos. Na interpretação platônica da filosofia socrática, o método dialético é aquele que procede à refutação das opiniões (preconceitos) do senso comum, explicitando as suas contradições intrínsecas, objetivando sua substituição por concepções mais precisas e racionais, isto é (i.e.), verdadeiras.
O perigo e o problema maior do senso comum, é que seu dinamismo facilita a produção, manutenção e transmissão de muitas formas, expressas ou disfarçadas, de preconceito. E isso se torna ainda mais problemático, quando constatamos que a modalidade de pensamento e de discurso dominante que permeia o senso comum (que não é outra coisa, senão o automatismo de nossas idéias usuais) é altamente impreciso, falacioso e, mesmo, irracional e infundado.
O preconceito se define como opinião ou crença admitida sem ser discutida ou examinada, internalizada pelos indivíduos sem se darem conta disso, e influenciando seu modo de agir e de considerar as coisas. Segundo uma reflexão filosófica, o preconceito é constituído por uma visão de mundo ingênua que se transmite culturalmente e reflete crenças, valores e interesses de uma sociedade ou grupo social. O termo possui, nesse contexto, um sentido eminentemente pejorativo, designando o caráter irrefletido e freqüentemente dogmático dessas crenças, que se revestem de uma certeza injustificada.
Entretanto, como alegam os autores Hilton Japiassú e Danilo Marcondes, é preciso admitir que nosso pensamento inevitavelmente inclui sempre preconceitos, originários de sua própria formação, sendo tarefa de uma reflexão crítica precisamente desmascarar os preconceitos e revelar sua falsidade. (3)
Esse é exatamente um dos aspectos do projeto filosófico de Platão (e também, do meu projeto gnosiológico pessoal): ir contra a opinião (sem justificativas, ou sequer, coerência e consistência racional) que não se reconhece como (apenas) opinião, mas que se apresenta como “certeza”, que se baseia em “fatos”, na realidade particular, concreta, na experiência, tomando como totalidade do real e como fundamento da certeza, aquilo que é parcial e contingente.
Platão visou denunciar que a opinião (doxa) ou senso comum tem uma falsa (e orgulhosa) consciência de si mesma, sendo o oposto da verdade e do conhecimento. Faz parte da “doxa” ou opinião vulgar, ocultar suas inconsistências da experiência (incluindo interesses e preconceitos) sob um falso discurso de unidade.
A Astrologia acaba não se encontrando livre desse tipo de distorção. Pelo contrário, sua condição marginal (no sentido de algo que está à margem) frente às supostas formas de saber crítico como a ciência, a arte e a filosofia, viabilizam a sua apropriação por parte da maior parcela alienada do senso comum, no contexto de publicações populares que pouco ou nenhum comprometimento possuem com a precisão dos conceitos astrológicos, bem como dos infrutíferos debates virtuais em comunidades de relacionamentos (especialmente em algumas comunidades do Orkut, mas não em todas) que, retirando algumas exceções, pouco acrescentam em questões e respostas astrologicamente relevantes.
Não seria estranho algumas vozes que insistem em enxergar algo de valioso ou positivo no (deprimente e alienado) domínio da “doxa” objetarem que a massificação e apropriação do discurso astrológico pelo senso comum, não deixa de ser uma forma de democratização de uma modalidade de conhecimento ancestral da humanidade - a astrologia – e pior seria a sua repressão e exclusão. Mesmo que concordemos que isso seja verdade, por um lado, não deixa de ser igualmente verossímil, embora menos óbvio, que qualquer projeto informativo de permissividade democrática costume resultar no rebaixamento intelectivo e crítico dos discursos manifestos e produzidos, muitas vezes para níveis dramáticos de alienação e impertinência. Isso se torna ainda mais constatável em esquemas de organização expressamente anárquicos.
Um dos paradoxos da democracia (e mesmo da anarquia) é que a opinião incompetente, e mesmo contrária ao próprio sistema em questão, também tem seu espaço de manifestação garantido, ou não seria uma democracia (ou anarquia). Mas, esse não é um problema sem solução (e também não deve ser entendido como um argumento contra a democracia, nem contra a democratização do conhecimento, e muito ao contrário, é uma crítica e um alerta para se buscar saídas para seu aperfeiçoamento): afinal, já foi dito que não existe democracia real, sem educação e esclarecimento.
Isso dito, também vale para a Astrologia, que em sua forma de estudo mais evoluído e prática avançada, não tem nenhuma relação com as formas hipostasiadas dos falsos conceitos e “preconceitos astrológicos” tão comuns, no submundo de suas representações de senso comum.
Formulações sobre “bons” e “maus” signos, mapas “fortes e fracos”, adivinhações rigidamente cristalizadas, injúrias baseadas na reificação de supostos caracteres astrais, alegações dogmáticas (porém, falsas) de conhecimento, enfim, tudo isso aliena o debate reflexivo sobre questões relevantes para o saber astrológico.
É importante enfatizar que a reflexão, aqui realizada, se refere a algo mais do que apenas “falta de conhecimento astrológico”, argumento que poderia ser usado para justificar as distorções da chamada “Astrologia de Senso Comum”, designação que sugeri para apontar a apropriação do discurso astrológico num contexto social massificante e acrítico, que distorce arbitrariamente o saber astrológico, tornando-se na verdade, um “não-saber”.
Mais do que “falta de conhecimento astrológico”, essa reflexão denuncia as formas difusas pelas quais os preconceitos do senso comum invadem o discurso astrológico tentando legitimar cosmovisões estereotipadas, segregacionistas e/ou alienantes, ao invés de reflexivas e esclarecedoras.
O projeto de uma Astrologia Crítica, moderna (ou melhor, ainda, Contemporânea), e amadurecida deve permitir o desmascaramento, a desmontagem, ou ainda, a desconstrução dessa realidade distorcida, alienante e estereotipada. Como na Filosofia (e mesmo na Psicologia, que são saberes com que a Astrologia pode e deve manter uma interface em contexto interdisciplinar), o ponto de resolução dessa problemática se situa no nível do discurso, do diálogo, do logos.
Devemos saber que o discurso é um construto que se presta à manipulação, e por isso, deve se submeter às regras de inteligibilidade e de certos princípios argumentativos, sob pena de não realizar sua função comunicativa. O discurso astrológico não escapa à essa consideração, e o projeto de uma Astrologia Esclarecida (em oposição a uma Astrologia de Senso Comum) deve incluir a interpelação de seus principais articuladores (astrólogos, estudantes, cliente e até “curiosos”) com a conseqüente exigência de explicações, justificações e explicitações de discurso, e não a simples assimilação e aceitação passiva de opiniões não-embasadas.
O discurso astrológico (assim como o discurso psicológico e filosófico, aplicável à interdisciplinaridade com a astrologia) deve se preocupar com sua própria problematização, legitimação e justificação, para poder ser considerado crítico e reflexivo. A argumentação astrológica não poder apenas “dizer e afirmar”, como muitas vezes o faz, mas precisa explicitar suas razões, sua hermenêutica (ou suas interpretações) e até mesmo seus fundamentos gnosiológicos mais profundos, independentemente das vozes alienantes que vociferam contra o questionamento embasado na gnoseologia astrológica.

Notas

(1) Hilton JAPIASSÚ e Danilo MARCONDES, Dicionário Básico de Filosofia, p.250.

(2) Cf. Danilo MARCONDES, passim.

(3) Hilton JAPIASSÚ e Danilo MARCONDES, Dicionário Básico de Filosofia, p.224.

Referências Bibliográficas

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Planetas e Níveis de Manifestação na Consciência

Sabe-se os signos representam campos de ação, enquanto as Casas Astrológicas são os “lugares” (físicos e psíquicos) onde a ação ocorre. Os Planetas, por sua vez, são o poder ou força motivadora.
Como os signos, e mesmo as casas, os planetas também são símbolos arquetípicos que representam tipos de reação, princípios e funções de caráter geral expressos por pessoas e acontecimentos.
Cada planeta tem uma função que é exteriorizada em diferentes níveis. Não é possível conhecermos o nível em que um horóscopo está operando sem interagirmos com o nativo de sua correspondente carta natal. É preciso conhecer e dialogar com o dono de certo tema natal para sabermos em que nível ele opera as forças cósmicas que lhe recaem a todo instante.
Jean Baptista Morin de Villefranche (1583-1656), grande astrólogo francês do século XVII, que codificou mais de uma centena de regras sistemáticas de toda a Astrologia Clássica, afirmava em um dos seus aforismos que “A extensão dos efeitos particulares, que pode produzir o corpo celeste em relação a um certo indivíduo é determinada pela capacidade deste ser de receber a influência e de reagir sob esta influência”.
Essa é uma visão clássica precursora da Astrologia Moderna e fundamental para a Astrologia Acadêmica. Igualmente é confirmada pelas tendências mais contemporâneas.
Como ponto de partida um horóscopo individual pode atuar em 3 níveis ou estágios:

1) Estágio Primitivo ou Ingênuo;
2) Estágio de Entendimento e
3) Estágio Superior.

No primeiro estágio – primitivo ou ingênuo – a pessoa possui pouco entendimento e consciência, limitando-se às suas necessidades e desejos, especialmente os de natureza instintiva. Por isso mesmo é o mais influenciável pelas determinações astrais, porém sua expressão é difusa, indiferenciada, ou mesmo, muito restritiva, sem maiores sofisticações.
No segundo estágio – de entendimento – o sujeito tem certo controle dos seus instintos e age dentro dos seus valores, rejeitando (ou sendo capaz de rejeitar) o que considera “mau” ou indesejado.
No terceiro e último estágio – o Superior – o indivíduo procura uma identificação com seu Self (Si-Mesmo ou Eu-Interior) e utiliza as energias planetárias conscientemente sentindo-as como uma inspiração para uma busca de elevação pessoal, e mesmo, um impulso social de solidariedade humana.
Do primeiro ao terceiro nível observamos um estado mais efetivo do livre-arbítrio, onde o indivíduo se encontra mais livre dos condicionamentos instintivos típicos do ser humano, e por isso, também se encontra mais “livre” das influências astrais, ou o que é mais provável, as expressa de forma mais “plástica”, sofisticada e eficaz.
É dessa forma que notamos que sob a influência tensa de um mesmo planeta, signo e casa astrológica, uma pessoa no primeiro estágio primitivo funcionando à base dos seus instintos pode se achar à frente de obstáculos intransponíveis; a do estágio mais compreensivo pode se sentir frustrada em seus desejos, porém, mesmo assim, ir em frente para consegui-los; enquanto que a do terceiro estágio, mais avançado, considera a dificuldade como uma oportunidade para se fortalecer.
Por outro lado, não existem planetas “ruins” e “bons”. Planetas representam energias arquetípicas com diversos graus de vibração. Os planetas, as suas posições no mapa e os aspectos que fazem indicam padrões de energia. Como símbolos representam arquétipos (matrizes energéticas que estruturam a realidade material e não-material – psíquica e espiritual). Como todo símbolo arquetípico possuem uma expressão plástica que pode se manifestar de múltiplas formas. Cada pessoa, por sua vez, pode experiênciá-la de uma forma, por ela compreendida como “boa” ou “má”, “construtiva” ou “destrutiva”, “fluente” ou “tensa”.
Até certo ponto, o arquétipo simbolizado pelo planeta, pode por si, assumir uma tonalidade mais “positiva” ou “negativa”. Mas, nem sempre o que parece “ruim” é ruim, ou o que parece “bom” é bom. Uma experiência desagradável, a princípio, pode conter uma importante lição, e ser uma condição para um futuro estado de harmonia. Ao passo que um acontecimento pode ser interessante num momento e pernicioso em outro, dependendo das circunstâncias. Por causa de todos esse fatores nenhuma interpretação ou previsão na Astrologia é taxativa, fixa, unidirecionada e rigidamente determinística.
Por exemplo, Marte em áries tanto pode simbolizar energia ativa e iniciativa, como agressividade ou forte impulso sexual. Pode ser uma coisa ou outra, ou todas essas possibilidades ao mesmo tempo. Ainda, se for agressividade, dependendo da ocasião, pode ser “boa” (se representar auto-defesa e sobrevivência) ou “má” (se for destrutiva e “à-toa”). Ou se for impulso sexual pode ser adequada (se representar iniciativa sexual) ou “negativa” (se for muito compulsiva). Essas nuanças vão depender do nível em que o indivíduo opera em termos de consciência e estágio evolutivo pessoal. Essa é uma das interpretações possíveis para a regra de Morin de Villefranche, que foi destacada nessa exposição.

Referência Bibliográfica

RIBEIRO, Anna Maria Costa. Conhecimento da Astrologia. Manual Completo. 3ª ed. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2008

domingo, 2 de maio de 2010

Concepção Causalista X Sicronística de Astrologia

Definir o conceito de Astrologia pode ser mais difícil do que parece à primeira vista. Alguns autores podem definir a Astrologia como “a ciência que investiga a ação dos corpos celestes sobre os objetos animados e inanimados, e a reação destes a essa influência”. Outros podem definir a Astrologia como “a ciência que investiga a relação entre fenômenos celestes e fenômenos terrestres”.
No primeiro conceito temos a concepção de que os astros causam diretamente fenômenos no nosso planeta, em vários âmbitos. Essa ação é energética, e os planetas e corpos celestes atuam como a causa de vários acontecimentos e tendências, através das energias gravitacionais, magnéticas e cósmicas que emanam. Para o leigo ou o cético comum, isso pode parecer estranho, mas a física quântica oferece algum fundamento sugestivo para essa concepção causalista da Astrologia, ao conciliar o conceito de matéria, energia e informação como (quase) sinônimos, ou pelo menos, como análogos.
No segundo conceito de Astrologia, a concepção é a de que existe uma relação de sintonia caracterizada por uma coincidência significativa entre eventos celestes e eventos terrestres do cotidiano. Ou seja, os astros não causam diretamente nenhum evento na natureza ou sobre as pessoas, mas cosmologicamente o universo é organizado por um princípio sinergético quântico que garante que eventos cósmicos coincidam com eventos terrenos comuns. Essa concepção, portanto, prevê uma organização para o Universo muito mais complexa do que a noção usual que comumente o senso comum defende. É uma concepção holística que afirma que tudo no Universo é interligado por relações quânticas. Essa é a concepção sincronística da Astrologia.
Os defensores da visão causalista da Astrologia ignoram a noção sincronística, e vice-versa. Porém, há indícios científicos de que as duas concepções são verdadeiras, atuam em conjunto, e fornecem uma nova concepção cosmológica do Universo. Os cientistas ditos acadêmicos têm ignorado isso!
As astrologia é uma ciência muito antiga, figurando entre os primeiros registros do aprendizado humano. É a mãe da astronomia, e durante muito tempo, ambas foram uma só ciência. As astronomia tornou-se uma ciência exata que trata de fenômenos celestes em suas relações físicas e naturais, de forma independente do que acontece na fenomenologia terrestre, excluindo o entendimento de qualquer componente espiritual na mecânica do Universo, sem obrigatoriamente negar a sua existência, mas no mínimo ignorando-a.
Apesar da Astronomia ter se separado da Astrologia, o astrólogo precisa ter noções dessa “ciência-filha” da Astrologia. Mas, essa última mantém aberta a possibilidade explicativa de incluir o espiritual e o divino não só na mecânica física do Universo, como na correlação observada entre fenômenos terrenos e o movimento dos astros no cosmos.
A dialética entre a visão causalista e a sincronística da Astrologia tem a sua síntese numa concepção Espiritualista da mesma.

Referências Bibliográficas

JUNG, C. G. Sincronicidade. Petrópolis: Vozes, 1991.