sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dignidades e Debilidades nas Regências Planetárias

O sistema de regências planetárias teve sua origem na Grécia Antiga, momento de surgimento da Astrologia Ocidental, junto com outros saberes como a Filosofia e a Psicologia, além das ciências naturais e da Metafísica, que marcaram os fundamentos ancestrais da nossa sociedade moderna.
As regências estão baseadas na distância dos planetas em relação ao Sol, e estão relacionadas com a importância da localização dos astros por signos que é fundamental para a Astrologia Tropical (Ocidental), já que o princípio arquetípico do signo fornece a tonalidade estruturante para a expressão do significado do astro, que em si, também é um símbolo arquetípico estrutural.
Podemos, então, alegar que o signo vai indicar como a natureza do astro irá se manifestar. Disso resulta que (1) há combinações com tonalidades em total acordo, (2) outras nem tanto e (3) outras ainda, inadequadas à sua própria natureza planetária.
O estudos das condições dessas combinações deu origem a um sistema organizado para a situação dos astros em relação aos signos, que a Astrologia Clássica ou Tradicional limitou à consideração dos planetas que conhecia em sua época (de Mercúrio a Saturno), além dos luminares, Sol e Lua. A Astrologia Moderna, por sua vez, inclui nesse entendimento os três planetas exteriores, transpessoais ou geracionais (Urano, Netuno e Plutão), embora siga uma lógica diferente dos “Clássicos”.
Dentro desse sistema temos os conceitos de Dignidades e Debilidades: dizemos que um astro está em dignidade, quando bem colocado por signo. As dignidades principais são Domicílio e Exaltação. Dizemos que um astro está em debilidade (ou debilitado) quando o princípio do signo está em desacordo com a natureza do astro. As debilidades principais são Exílio e Queda. Quando um planeta não está nem num signo de sua dignidade (domicílio e exaltação) e nem num signo de sua debilidade (exílio ou queda), dizemos que o planeta está Peregrino (normal).
Classicamente, os astrólogos antigos dividiram o zodíaco (com seus doze signos) entre os dois luminares, o Sol e a Lua. O Sol regia sozinho seis signos de leão a capricórnio, no sentido anti-horário (leão, virgem, libra, escorpião, sagitário e capricórnio) e a Lua regia de câncer a aquário, no sentido horário (câncer, gêmeos, touro, áries, peixes e aquário). O primeiro dos seis signos de cada metade, recebeu a regência única dos luminares: Leão é regido pelo Sol e Câncer pela Lua.
Os demais signos foram, depois, repartidos entre os cinco planetas conhecidos em função de suas distâncias dos luminares. Como a cada um dos planetas coube dois signos, a regência foi subdividida.
Um dos signos era regido pelo astro em nascimentos diurnos, ou melhor, com o Sol acima do horizonte (definido pelo eixo Ascendente/Descendente), enquanto o segundo recebia a regência noturna, quando o Sol se encontra abaixo do horizonte.
Atualmente não é utilizada essa diferenciação antiga ou clássica (alguns astrólogos que atualmente se intitulam de “clássicos ou tradicionais” talvez se fundamentem nesse critério, ainda). Seja como for, a distribuição original resultante era a seguinte:

Planeta / Domicílio Diurno / Domicílio Noturno

Mercúrio / Gêmeos / Virgem
Vênus / Libra / Touro
Marte / Áries / Escorpião
Júpiter / Sagitário / Peixes
Saturno / Aquário / Capricórnio

Na tabela acima, observamos que Mercúrio faz a sua regência diurna em gêmeos e a noturna em virgem, Vênus faz a sua regência diurna em libra e noturna em touro, e assim por diante.
O projeto de uma Astrologia Moderna começa a surgir no século XVII, com a sistematização proposta por Morin de Villefranche, sendo que a partir do século XVIII, com o início da descoberta dos novos planetas (exteriores), a antiga regência noturna foi aos poucos sendo delegada a esses últimos. Uma das características diferenciais desses planetas são a erraticidade de suas órbitas como vistas da Terra, e a lentidão dos seus ciclos orbitais contados pela nossa cronologia convencional, dada a distância desses planetas ao Sol e mesmo à Terra. Por isso, esses planetas são chamados de exteriores, geracionais ou transpessoais. São geracionais porque devido ao seu movimento lento, parecem atuar em grandes gerações populacionais, ao longo das épocas, quando consideramos a sua posição por signos; são considerados transpessoais, pois do ponto de vista interpretativo, segundo algumas escolas modernas, esses planetas simbolizam a nossa relação com as dimensões espirituais, divinas e metafísicas da realidade. São exteriores, evidentemente, devido à longuíssima distância desses planetas tanto da Terra como do Sol (para além dos planetas sociais, Júpiter e Saturno; assim, também são chamados de trans-saturninos).
Quanto à regência dos planetas exteriores, logicamente há divergências de opiniões entre os astrólogos (quem se aprofunda no saber astrológico, descobre mais cedo ou mais tarde, que há um número razoavelmente expressivo de divergências entre os astrólogos).
Uma corrente de astrólogos defende que as regências dos planetas exteriores deveriam seguir a ordem dos signos após capricórnio, considerando a lógica do esquema de Ptolomeu (século II d. C.), segundo a tese da Astrologia Clássica presente nesse autor, quanto a relação entre planetas e signos ocorrer de acordo com a observação do céu, baseada na distância dos planetas em relação ao Sol, e a ordem dos signos no Zodíaco.
Desde já é interessante notar que esse critério não segue qualquer forma de observação empírica correlacional entre eventos celestes e terrestres, mas é apenas uma inferência dedutiva, aparentemente arbitrária, cuja lógica inferencial subjacente não é explicitada, refutando o discurso tão estereotipadamente repetido pelos que se dizem astrólogos clássicos, de que essa escola atende exigências de legitimidade objetivistas.
Seja como for, paradoxalmente, essa proposta ptolomaica foi seguida para Urano e Netuno, regentes modernos de Aquário e Peixes, respectivamente, seguindo capricórnio regido pelo último visível, Saturno. É interessante notar que observações empíricas e historiográficas iniciais parecem corroborar a inferência dedutiva dos significados arquetípicos atribuídos a esses planetas, embora muito mais pesquisas sistemáticas precisem ser formuladas e realizadas. Infelizmente, há uma escassez dessas.
Porém, esse método dedutivo (ptolomaico) não foi seguido para Plutão, havendo um grupo minoritário que defenda a regência de Plutão para áries. Apesar de escorpião ser incontestavelmente o signo mais aceito para a regência de Plutão, há quem (grotescamente) defenda seu domicílio em sagitário, capricórnio, gêmeos e até leão.
A correlação entre Plutão e escorpião é baseada numa lógica analítica de pesquisa arquetípica, que inclui estudos de mitologia e simbologia coletiva, que apóiam esse pareamento. Além disso, pesquisas históricas fornecem uma corroboração adicional para essa relação. Mas, essas correlações ainda estão num estágio de observação. Curiosamente, há alguns estudos utilizando uma metodologia clínica (observações empíricas apoiadas na consistência interna ou estrutural dessas próprias observações) que parecem sugerir que essa correlação entre escorpião e Plutão, realmente faz algum sentido, embora tal tese não seja conclusiva.
Por fim, há Astrólogos Clássicos (não todos) que dogmaticamente não aceitam a inclusão dos geracionais no sistema de regências e mantém, integralmente, o sistema inicial. É difícil dizer se esses astrólogos têm consciência, do quanto essa postura paralisa a possibilidade metodológica e gnosiológica de avanços no conhecimento astrológico. Porém, dentro de uma postura dogmática, a grande verdade é que eles estão sendo até, bem coerentes com suas premissas fundacionais, já que para o dogmatismo filosófico (enquanto cosmovisão), a preocupação com o progresso e a evolução não se colocam. E se isso não lhes serve como crítica legítima, dentro de seus próprios pressupostos, não deixa de ser verdade, que ao excluírem a pesquisa dos significados dos planetas transpessoais, eles excluem de sua prática, ferramentas teóricas potenciais que se mostram muito úteis e pertinentes.
Muitos astrólogos modernos adotam a seguinte convenção, quanto às regências ou domicílios para os planetas exteriores: Urano para aquário, Netuno para peixes e Plutão para escorpião. Contudo, consideram que estas devem ser utilizadas em conjunto com os regentes tradicionais, Saturno, Júpiter e Marte, respectivamente, como co-regentes.
Nesse ponto também há uma polêmica. Alguns astrólogos consideram que os regentes tradicionais devem ter maior importância e peso na análise, e que os regentes modernos, devem ser vistos secundariamente como co-regentes, de peso não-desprezível. Pessoalmente, eu me coloco dentro dessa linha de pensamento. Ou seja, sem desconsiderar os regentes modernos, confiro mais importância na análise aos regentes tradicionais desses signos. Essa abordagem que considero a mais correta, acaba sendo uma forma de conciliação dialética entre a visão Clássica e a Moderna, embora, evidentemente, muitos astrólogos rejeitem tal proposta. A meu favor, existe o fato de que as Escolas de Astrologia com reconhecimento na comunidade astrológica contemporânea, como as escolas Gaia e Regulus (e boa parcela de seus professores com anos de prática e estudo), adotam essa mesma posição. Em todo caso, para não dizerem que me fundamento num argumento falacioso de “autoridade”, esclareço que a observação clínica (empírica e metodológica em atendimentos individuais) favorece essa interpretação.
Quanto às exaltações, especialmente no que diz respeito a Mercúrio, também encontramos opiniões diferentes. A maioria dos astrólogos modernos (no qual me incluo) o consideram exaltado em Aquário e outros defendem a sua exaltação (equivocadamente, na minha avaliação) em escorpião. Para a Astrologia Clássica ou Tradicional, Mercúrio está, ao mesmo tempo, domiciliado e exaltado em virgem. Assim, Mercúrio também estaria duplamente exilado e em queda, no signo de peixes, o que é um contrasenso e um absurdo, segundo minha opinião (pretendo justificar minha objeção em outro texto sobre essa temática).
É muito fácil identificar as debilidades planetárias, sabendo-se os signos de suas dignidades. Vimos que as debilidades planetárias são exílio e queda. O exílio é definido pela posição do planeta no signo oposto a seu domicílio, enquanto a queda é encontrada pela posição do planeta no signo oposto à sua exaltação. Assim, se Júpiter tem seu domicílio em sagitário (diurno) e peixes (noturno), seu exílio ocorre em gêmeos e virgem, os signos opostos de sagitário e peixes, respectivamente. Como Júpiter tem sua exaltação em câncer, sua queda ocorre em capricórnio.
Voltando à discussão das dignidades, precisamos diferenciar os domicílios das exaltações. A astróloga Celisa Beranger faz uma distinção muito pertinente entre essas duas condições, que concordo plenamente. Segundo a autora, em domicílio, o astro encontra-se “puro”, possuindo liberdade e autoridade em sua expressão porque, além do princípio do signo estar de acordo com sua própria natureza, sendo por isto dono do signo, não possui um dispositor (que corresponde ao regente do signo no qual um astro se encontra quando não está domiciliado).
A exaltação por sua vez, é um conceito que surgiu na antiga Babilônia, e era denominada de “casa secreta”. O planeta em seu signo de exaltação encontra-se numa condição significativamente melhor do que se estivesse numa posição peregrina (normal), atuando dentro dos parâmetros de sua especialização e com seu melhor aproveitamento, porém não possui liberdade total (como no domicílio), porque de qualquer forma, possui um dispositor que lhe limita a expressão, a não ser que esse dispositor também esteja em bom estado celeste.
Assim, em domicílio, o astro está à vontade quanto ao princípio arquetípico que naturalmente ele encarna, e quanto ao princípio do signo que lhe é altamente compatível e familiar, enquanto na exaltação é grande a atenção quanto ao direcionamento correto (e especializado) de sua força, visando um melhor aproveitamento de sua natureza. Por exemplo, Marte em Áries (domicílio) simboliza uma ação impulsionada (naturalmente) para empreender, competir e buscar desafios, enquanto Marte em capricórnio (exaltação) tem sua atuação delimitada e direcionada (“especializada”) para objetivos concretos. Vênus domiciliada em Libra apresenta com naturalidade suas qualidades de sociabilidade, expansividade social, adaptabilidade diplomática (qualidades tanto de Vênus quanto de Libra), ou domiciliada em touro, Vênus também expressa outra de suas qualidades naturais que é o senso estético, de proporções, e o desejo de sofisticação material e conforto (qualidades tanto de Vênus quanto de touro). Por outro lado, Vênus exaltada em peixes, vai apresentar uma habilidade especializada ou focalizada no Amor, de um determinado tipo, que é o “amor universal” pela humanidade, pelos animais, pelos mais necessitados, etc.
Esses exemplos colocam em evidência a plasticidade e multivariedade das interpretações possíveis para cada combinação simbólica e arquetípica entre planetas e signos. Mas, esse seria tema para outro artigo.
Evidentemente o tema das dignidades e debilidades não se esgota, por aqui. Esse texto, porém, representa uma contribuição para se entender alguns fundamentos lógicos e históricos das noções de dignidades e debilidades planetárias.

Referências Bibliográficas

BERANGER, Celisa. Revelações: explorando recursos da carta natal. Rio de Janeiro: Espaço do Céu, 2005.

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